Entre 1873 e 1876, contra a exaltação da ciência e da história, Nietzsche escreve as Considerações Inatuais, onde o velho hegeliano D. F. Strauss, juntamente com Feuerbach e Comte, passa por encarnação do filisteísmo e da mediocridade: “autor de um evangelho de cervejaria”, ele é o homem desejado e inventado por Sócrates. Ao mesmo tempo, Schopenhauer é exaltado como precursor da nova cultura “dionisíaca”. Mas no livro Nietzsche também combate o que ele chama de saturação de história. Não que ele negue a importância da história: ele combate muito mais a idolatria do fato, por um lado, e as ilusões historicistas, por outro, com as implicações políticas que elas comportam.
Antes de mais nada, na opinião de Nietzsche, os fatos são sempre estúpidos: eles necessitam de intérprete. Por isso, só as teorias é que são inteligentes. Em segundo lugar, quem crê “no poder da história” torna-se “hesitante e inseguro, não podendo crer em si mesmo”. E, em terceiro lugar, não crendo em sisi mesmo, ele será dominado pelo existente, “seja ele um governo, seja uma opinião pública, seja ainda uma maioria numérica”. Na realidade, “se todo sucesso contém em si uma necessidade racional, se todo acontecimento é a vitória do ‘lógico’ ou da ‘ideia’, então que nos ajoelhemos logo e percorramos ajoelhados a escada dos ‘sucessos’”.
São três as atitudes que Nietzsche distingue diante da história. Existe a história monumental, que é a história de quem procura no passado modelos e mestres em condições de satisfazer as suas aspirações. Existe a história antiquária, que é a história de quem compreende o passado de sua própria cidade (as muralhas, as festas, os decretos municipais etc.) como fundamento da vida presente: a história antiquária procura e conserva os valores constitutivos estáveis nos quais se radica a vida presente. E, por fim, existe a história crítica, que é a história de quem olha para o passado com as intenções do juiz que condena e abate todos os elementos que constituem obstáculos para a realização de seus próprios valores.
Esta última foi a atitude de Nietzsche diante da história. E essa é a razão pela qual ele combate o excesso ou “saturação de história”: “Os instintos do povo são perturbados por esse excesso e o indivíduo, não menos que a totalidade, é impedido de amadurecer; esse excesso destila a crença sempre danosa na velhice da humanidade, a crença de que somos frutos tardios e epígonos; por causa desse excesso, uma época cai no perigoso estado de espírito da ironia sobre si mesma e daí no estado mais perigoso ainda do cinismo”. [Reale]