Considera-se uma vez mais o pintor que retrata umas rédeas e um freio, o sapateiro e o ferreiro que fazem respectivamente uma e a outra coisa, e, por fim, aquele que faz uso desses objetos. Todas estas perspectivas correspondem a «técnicas» de abertura diferentes para uma mesma coisa concreta (Rep., 601d), mas só o que faz uso das coisas consegue comunicar ao fabricante se são boas ou más (Rep., 601d1). Só ele, sabendo das coisas, consegue ser mensageiro (Rep., 601d9), comunicar (Rep., 601e4), sobre aquelas coisas que prestam e as que não prestam (aqui a respeito de flautas). O utilizador é o único que chega a avaliar a arete, neste caso, do σκεῦος [skeuos] (Rep., 601d4). Mas não é só a respeito de um instrumento ou de um artefato que esta tripla perspectivação das coisas tem lugar (ibid.). Só quem faz uso das coisas que se usam (Rep., 601d9), que, por assim dizer, lida com elas, consegue saber se são coisas boas ou más. Não só a respeito dos σκεύη [skeue] e dos animais, como também a respeito da πρᾶξις. Só tendo o uso em vista se sabe para que é que cada coisa foi feita ou o que é por natureza. Só a χρεία [chreia] permite um acesso ao κάλλος καὶ ὀρθότης ἑκάστου [kallos kai orthotes ekaustou] (Rep., 601d4). «Perceber das coisas» quer dizer saber avaliar e dizer se prestam ou não, se são boas ou más, e não apenas reconhecer que se trata de um τι [ti], o qual tanto o «desenhador» como o «ferreiro» e o «sapateiro» conseguem identificar. [CaeiroArete:81-82]