hypokeímenon: substrato, substância, subiectum
A análise aristotélica da genesis na Física, baseada, ao que parece, num protótipo platônico (ver genesis), leva o seu Autor ao isolamento dos três princípios (archai) envolvidos em todas as mudanças de uma coisa para outra: a forma imanente (eidos), a privação (steresis) da forma da coisa em que vai transforma-se e, finalmente, o substrato (hypokeimenon) que persiste através da mudança e no qual se verifica a genesis (Physica I, 190a-b). O seu nome é ditado pela sua função; assim de um ponto de vista predicacional o substrato é aquilo de que as outras coisas são predicadas e que não é predicado de mais nada (Metafísica 1028b-1029a). Mas passos da Física consideram o hypokeimenon no contexto da mudança material, e assim não é apenas um conceito lógico mas, juntamente com o eidos, um genuíno co-princípio do ser (Physica I, 190b), o que é, de um ponto de vista ligeiramente diferente, a matéria (hyle) e, tal como a matéria, é conhecido não direta mas analogicamente (ibid. 191a). Tanto os aspectos lógicos como ontológicos do hypokeimenon permanecem em pensadores posteriores: é a primeira das quatro kategoriai estóicas, SVF II, 369 e é identificada com a matéria em Plotino, Eneadas II, 4, 6; ver hyle, hypodoche, symbebekos. [FEPeters]
(do gr. hypo, sub… e keimenon, o que está, o que está sub, sub-está).
Substância material. Em Aristóteles é a causa material. Vide causa e teoria modal. [MFSDIC]
A palavra prejacência não existe em português. O verbo jazer vem do lafim iacere, assim é posssível formar o verbo prejazer, e dali prejacência. E significaria mais ou menos o que o verbo grego hypokeisthai significa, a saber, estar assentado, bem repousado, fundado e ajustado em sisi mesmo. Esse sentido ainda está vigente no adjetivo substancial em português. Exemplos de substância (hypokeímenon) nesse sentido seria, por exemplo, montanha, imensidão que se estende, como planície, um filhote de porco que nasceu redondinho, perfeito, uma obra bem acabado, perfeita, uma pessoa bem assentada em si, madura, confiável, justo e reto. Portanto indica o assentamento, a integração, o ajustamento bem feito dentro de um todo, como atinência e pertença à totalidade pre-jacente da realidade ali estendida, imensa, profunda e bem consumada. Substancial é, pois, contrário do avoado.
Mas em que sentido? Quando uma imensa extensão se espraia ejaz diante e ao redor de nós, como p.ex. numa chapada, não somente temos a sensação da extensão horizontal, mas ao mesmo tempo a extensão possui peso, é como se o todo da imensidão subissse do fundo e se abrisse, como vastidão bem assentada, no profundo de si mesmo. Esse modo de ser de uma paisagem, onde percebemos a imensidão, profundidade e vigor do sereno estar assentado em sisi mesmo, para dentro do seu profundo é dito na palavra hypokeímenon, hypokeisthai, prejacência, substância. Esse “assentar-se no seu ser”, a prejacência não é isto ou aquilo, não é localizável aqui ali, como um objeto, mas impregna o todo e cada momento, todas as articulações e partes do todo, está presente, como vigência, em todas as coisas que constituem a paisagem, perfazendo cada qual o seu “erguer-se”, o seu surgir, crescer, se consumar a partir e para dentro dessa prejacência. São: os prejacentes a partir e dentro da imensidão, profundidade e vigor da prejacência de ser, de si, os presentes, a saber: as coisas. Coisas de tal teor, se destacam no seu perfil, saltam aos olhos, de quem inabita, mora na estância, bem assentado na imensidão, profundidade e vigor desse modo de ser da prejacência. Pois tanto coisas como o homem são entes prejacentes, presentes, cada qual a seu modo, junto, na cercania da pregnância do vigor da prejacência. Por isso substância (hypokeimenon) se diz também essência, em grego ousia. [Harada]