(Graus de perfeição). Os graus do ser estruturam em sua diversidade e harmonia a ordem do universo. Temos acesso a eles, partindo do homem, em quem todos convergem como num centro. Como microcosmo (universo em ponto pequeno) ele reflete o macrocosmo (universo grande). No homem se compenetram, antes de mais nada, os dois domínios fundamentais do espiritual e do corpóreo, que nele se reúnem para constituir “uma” natureza ou essência. Nesta o espírito é realidade mais poderosa em plenitude e profundeza do ser. Mais ainda. Segundo S. Tomás de Aquino, ele representa o tipo mais elevado de ser, o grau supremo de vida, pois que, de algum modo, denota infinidade. — Partindo do homem, os graus do espírito ascendem ao sôbre-humano e os graus do corpo descem ao infra-humano.
Ao espírito do homem convém, em seu operar, a infinidade, enquanto seu conhecer e querer podem abarcar tudo em geral e, neste sentido, ele “é, de algum modo, todas as coisas”, consoante a fórmula de Aristóteles e de S. Tomás. Todavia, ele é, ao mesmo tempo, finito em seu ser e, por seu corpo, está sujeito à espacialidade e à temporalidade, de sorte que deve conquistar tudo com seu pensamento conceptual que parte da intuição sensível. Já Aristóteles viu que, acima do espírito humano, era possível um espírito puro, ou seja, isento do corpóreo, uma vez que o espírito humano, em suas operações, precisa do corpo, apenas como condição, e não como princípio co-operante, e em seu ser depende tão pouco do corpo que, após a morte, continuará sendo imortal sem ele. Espirito puro é, acima de tudo, Deus que, sendo “o” Ser, é a plenitude absoluta ou é simplesmente infinito. Por isso mesmo, com sua intuição intelectual abarca tudo em todo momento; e, como origem que é de todas as coisas, intui-as todas enquanto procedem de Si mesmo. Segundo a revelação cristã, abaixo de Deus, há ainda espíritos puros finitos, cada um dos quais participa, conforme sua situação na escala do ser, da visão criadora de Deus, que desde o princípio neles imprime uma cópia de suas ideias.
Desintegrando o homem gradualmente, podemos compreender o infra humano. O que resta, após a separação da vida espiritual, corresponde, plasmado sem dúvida numa totalidade que lhe é peculiar, ao animal. Possui, todavia, vida consciencial, circunscrita porém ao círculo de suas necessidades vitais. Separando também toda consciência, temos em resultado, moldado por seu turno numa totalidade peculiar sua, o vegetal, o qual com sua vida inconsciente opera todavia de modo imanente. Prescindindo, por último, da vida em geral, chegamos ao inorgânico que em sua ação e paixão está só referido ao exterior.
Os degraus que constituem a escala do ente intra-mundano são verdadeiros graus do ser, dado que o ente existe só porque participa (participação) dele (ser). Em frente a esta concepção, N. Hartmann não vê mais do que estratos do ente intra-mundano sem flexão interna (analogia) do ser. Como lei suprema da estratificação, estabelece a seguinte: os estratos superiores não procedem dos inferiores e, por isso mesmo, não podem ser reduzidos a eles; contudo, dependem dos inferiores, porque sem eles não existiriam. — Note-se que esta última afirmação só com limitações é aplicável ao espírito humano, mas não o é, por forma alguma, ao espírito puro. — Lötz. [Brugger]