Filosofia – Pensadores e Obras

coisificação

Transformação de conceitos abstratos em substâncias ou em objetos concretos. — Fala-se, mais correntemente, de “objetivação”. Essa coisificação é que A. Comte denuncia em toda explicação que ele denomina “metafísica”, cujo tipo, segundo ele, é o seguinte: “Por que a dormideira faz dormir? — Devido a sua virtude dormitiva.” Transforma-se efetivamente então uma palavra em virtude real: “coisifica-se” um conceito. [Larousse]


Mas aventura que todas as demais transcende é ter chegado a percebermos do que as «coisas» são. Nada mais propriamente chamamos «coisas», do que falando de «objetos» e, ainda por cima, de objetos mais ou menos diminutos, que bem sabemos terem sido fabricados. Este cinzeiro onde deponho a cinza do cigarro que estou fumando, o mesmo cigarro, a cadeira em que estou sentado, a mesa à qual me sentei para escrever o que escrevo, na folha de um caderno que comprei no propósito de escrever, o pavimento e as paredes da sala a que me retirei para menos ouvir o bulício da casa, a casa que subentende a sala, e assim por diante, são «coisas» e «objetos fabricados»; posso chegar à cidade extensa, construída no meio do cerrado, mas nem por isso saí da categoria de «coisa-objeto-fabricado». Posso até passar da «coisa-propriamente-coisa-como-objeto-fabricado», para outra região em que se geram entes a que também chamarei «coisas-objetos», desde que as veja — e sempre posso vê-las — como «produzidas». Não direi, certamente, que algum dos meus semelhantes «fabricou» a árvore que, além da janela, vejo plantada, mas nem por isso ela deixa de virar objeto-coisa, pensando que em meu poder está o destruí-la. Só se destroem construções; mas embora eu saiba que ninguém construiu aquela árvore, só o pensar que, em lugar dela, poderia estar amanhã um amontoado de lenha, transmutou-a na mesma essência de objeto que a une ao cinzeiro em que acabo de depositar a ponta do cigarro que fumei enquanto escrevia estas linhas. E se eu pergunto como se fez tudo quanto [120] me rodeia, o mundo que me parece o meu e de todos os meus semelhantes, abstraindo, embora, da entidade de quem ou do que o fez, ele me aparecerá, por isso mesmo, como «objeto-coisa». Eis como tudo se «coisifica», como tudo se «objetiva». [EudoroMito:120-121]