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arche

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

gr. arkhé (he): princípio. Latim: principium. Causa original, Realidade primeira da qual procedem as outras no universo.


Outro exemplo é a palavra archê. Ela não há que ser entendida como relação do Uno a outros seres, mas no sentido de que estes se relacionam com ele, como o ilustra este passo: “Tudo o que é belo e santo é posterior a ele, porquanto de tudo isso ele é o princípio” [En. VI, 8, 8, 7-9].
O horizonte de indagação filosófica deixa de estar exclusivamente ligado ao problema posto pela experiência maciça do ser. Na verdade, é a presença maciça e absolutamente problemática do ser que mobiliza o pensamento pré-socrático. Todo o seu esforço estava concentrado na procura da ἀρχή, isto é, de um princípio, origem e proveniência dos entes no seu todo. A questão filosófica do ser reparte-se, contudo, com Aristóteles  , por diversas frentes de investigação. Mas, a despeito da diversidade de ontologias regionais e das respectivas formas específicas de acesso, podemos perceber que todas elas cabem dentro de uma distinção fundamental. A diferenciação entre um horizonte teórico e um horizonte prático e respectivas formas constitutivas de acesso passa agora a redefinir o projeto de investigação filosófico pré-socrático. Em causa está a ἀρχή, mas nos diversos modos como pode ser dita. Fala-se portanto de ἀρχαί, e na verdade interpretadas explicitamente como αἰτίαι. A diferenciação entre os dois modos fundamentais de haver princípio — fundamentos responsabilizáveis pelos entes nos respectivos horizontes — não é, contudo, uma invenção aristotélica mas um dividendo colhido do pensamento platônico. [CaeiroEN  :281 Nota]
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. (Jo 1,1-Jo 1,2 - 2)
Filosofia (Excertos de "Les Notions philosophiques  ", PUF 1990) Ao mesmo tempo princípio e ordem, significações que se distanciam entre si no discurso histórico-político (ponto de partida do relato do historiador ou dos eventos relatados; magistratura exercida na cidade), mas não na investigação sobre a natureza, nem a filosofia: então Tucídides já distingue a arkhe da guerra do Peloponésio e sua causa, Aristóteles define a filosofia como “conhecimento das primeiras arkhai (primeiros princípios) e causas” (Met A2, 982 b9). Ele engloba assim na história da filosofia as investigações pré-socráticas sobre os elementos. Criticando seus predecessores de só terem tratado da causa material, ele estende a noção de arkhe além daquela de elemento: mais que um constituinte material, acessível ou não à experiência, a arkhe é o princípio explicativo do devir. As quatro causas da teoria aristotélica são assim quatro arkhai. A arkhe adquire um estatuto propriamente lógico, onde a questão dos princípios da realidade vem a se confundir com aquela dos princípios do raciocínio sobre a realidade. Aristóteles nomeia assim arkhai os axiomas donde parte e que respeita necessariamente toda demonstração, o mais fundamental sendo o princípio de não-contradição, ao mesmo tempo regra do discurso sensato e determinação dos entes (Met. Δ, 3 e 4).
René Guénon: O GRÃO DE MOSTARDA Para melhor compreender essa relação entre o germe do coração e Semente de Mostarda, é preciso nos reportarmos em primeiro lugar à doutrina hindu, que dá ao coração, enquanto centro do ser, o nome de "cidade divina" (Brahma-Pura) e, o que é notável, aplica à "cidade divina" expressões idênticas a algumas empregadas no Apocalipse para descrever a "Jerusalém Celeste". [Cf. L’Homme et son devenir selon le Vêdânta, cap. III.] O Princípio divino, na medida em que reside no centro do ser, é muitas vezes designado simbolicamente como o "Éter - éter no coração", elemento primordial do qual procedem todos os demais que são naturalmente tomados para representar o Princípio. O éter (akasha) é a mesma coisa que o avir hebraico, de cujo mistério brota a luz (aor) que realiza a extensão pela sua irradiação no exterior, [Cf. Le Règne de la quantité et les signes des temps, cap. III.] "fazendo do vazio (thohú) alguma coisa e do que não era o que é", [É o Fiat Lux (Yehi Aor) do Gênesis, primeira afirmação do Verbo Divino na obra da criação; vibração inicial que abre o caminho para o desenvolvimento das possibilidades contidas potencialmente, em estado "informe e vazio" (thohû va-bohû), no caos original (cf. Aperçus sur l’Initiation, cap. XLVI).] enquanto que, por uma concentração correlativa a essa expressão luminosa, resta o iod no interior do coração, isto é, "o ponto oculto que se tornou manifesto", um em três e três em um. [Cf. Le Symbolisme de la Croix  , cap. IV.] Mas, no momento, deixaremos de lado esse ponto de vista cosmogônico, para nos dedicarmos de preferência ao ponto de vista que diz respeito a um ser em particular, como é o caso do ser humano, tomando o cuidado de notar que existe entre esses dois pontos de vista, macrocósmico e microcósmico, uma correspondência analógica em virtude da qual é sempre possível a transposição de um para o outro.
arkhé (he) / arche: princípio. Latim: principium.

Causa original, Realidade primeira da qual procedem as outras no universo. Essa palavra pode ter dois sentidos:

  •  cosmológico: o Princípio é então um corpo material (pré-socráticos  );
  •  metafísico: o princípio é então uma Realidade impessoal, que pode assumir o nome de Mónada (Pitágoras  ), de Uno (Parmênides  , Plotino  ), de Essência (Platão  ).

    Platão, que emprega abundantemente a palavra arkhé, dá uma definição dela em Fedro   (245c-d):"0 Princípio é o Inengendrado (agéneton), pois é necessário que tudo o que vem do ser venha a partir de um princípio, ou seja, daquilo que não procede de nada." Portanto, é aquilo que está primeiro na existência e engendra a sequência dos outros seres.

    Aristóteles definiu o Princípio, mas de modo bastante vago. Em Metafísica (A, 1), dedica a essa palavra a primeira de suas notas. Atribui-lhe cinco sentidos:

  •  ponto de partida (de uma linha, de uma rota); há então um princípio simétrico, que é o ponto de chegada;
  •  o melhor começo (arte pedagógica);
  •  o que é primeiro e imanente no devir (fundações de uma casa);
  •  a causa não imanente que precede (o pai e a mãe para o filho);
  •  a vontade livre de um ser racional (princípio dos acontecimentos) .

    Em Física (I, 1, 184a), procedendo à história das teorias, Aristóteles atribui aos elementos primeiros entre os jônios (os Fisiólogos) o nome de princípios. Em Metafísica (A, 5), ele o atribui às grandes realidades originais de certos filósofos anteriores a ele: o Número em Pitágoras, o Uno em Xenófanes  , o Ser em Parmênides.

    Para os primeiros jônios, chamados por Aristóteles de Fisiólogos, o Princípio é um elemento cósmico.

    O primeiro deles,Tales de Mileto  , declara que é a Água (Aristóteles, Met., A, 3; Cícero, De nat. deor., I, 10, 23; Pseudo-Plutarco  , Placit., I, 3; D.L., I, 27). Aristóteles atribui essa "descoberta" à observação, lembrando que a primeira mitologia grega vê o Oceano como origem do mundo; Nietzsche   declara que essa é uma ideia genial. Na verdade, é uma simples herança das cosmogonias orientais. Tales era de origem fenícia e conhecia bem os mitos semíticos. A Cosmogonia caldeia, livro sagrado da tradição babilônica, do qual Damáscio   e Berósio conservaram alguns fragmentos, afirma: "Na origem, a totalidade dos territórios era mar." O Enuma Elis, outra narrativa babilônica sobre a criação, diz: "Quando no alto o céu não era denominado, quando embaixo a terra não tinha nome, do oceano Apsu, pai deles, e de Tiamat, a tumultuosa, mãe de todos, as águas se confundiam em Um." O Livro dos mortos, que é o texto mais antigo do Egito diz: "No começo, só havia o Noun, abismo da água primordial"; ora, a Fenícia dominou culturalmente o Egito a partir do terceiro milênio; de qualquer modo, Tales passou algum tempo no Egito, onde recebeu os ensinamentos dos sacerdotes (D.L., I, 27).

    O sucessor de Tales na direção da Escola de Mileto, Anaximandro  , escolheu como Princípio originário o indeterminado (ápeiron / apeiron). (v. essa palavra). O terceiro chefe da escola,Anaxímenes   (f526), estabeleceu como primeiro princípio o ar (aér / aer).Tem-se aí também um velho mito fenício. Encontra-se essa teoria em Diógenes de Apolônia (século V). Por fim, Hípaso de Metaponto (século VI) e Heráclito   de Éfeso (f480) adotam como primeiro Princípio o fogo (pyr).

    Os itálicos, filósofos de origem jônia, mas instalados no Sul da Itália (Magna Grécia), apresentam Princípios metafísicos. Para Pitágoras, é o Número, porém mais precisamente a Mônada, Unidade original do ser. Para Xenófanes (século VI), o Uno primeiro é um Deus único e incorpóreo; para Parmênides, seu discípulo, é o Ser, Uno no sentido de Único, pois ele não admite nenhum outro; para Anaxágoras  , o Princípio original é duplo: uma matéria informe inerte e um Espírito absoluto dinâmico que dela extrai o universo em sua variedade. Para Empédocles  , são o amor (philótes / philotes) e o ódio (neikos / neikos), mas na medida em que unem e desunem os elementos preexistentes, que são os quatro clássicos, v. stoikheia. Platão não tem posição fixa: as Essências, tomadas coletivamente, no Fédon  ; o Ser no Sofista  ; o Bem na República  ; Deus nas Leis. Em Aristóteles, o Princípio é o primeiro Motor, que se confunde com a Inteligência e o Bem (Met., A, 6-7). Mas, no que se refere aos seres da Natureza (tà physei ónta), ele considera três princípios: a matéria (hyle), a forma (morphé / morphe) e a privação (stéresis / steresis) (Fís., I, 7). Em Plotino, o Princípio é o Uno, que é ao mesmo tempo o Bem. [Gobry  ]