Escrever a última Seção [A Questão da Ética], em que apenas rapidamente desloco a valoração das suas supostas origens num “agente livre e moralmente responsável” para a reatividade inconsciente da Mente, do Pensamento e da Linguagem está em consonância, assim como a própria “desconstrução” da problemática da Ética, com o “espírito do tempo” — o que destoou terá sido, provavelmente, tê-lo feito à maneira de uma metanarrativa de matiz ontoteológico. Mas... sugerir que talvez o lugar da Ética (…)
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FernandesFC / FernandesSH / Sérgio L. de C. Fernandes / SFernandes
SÉRGIO LUIZ DE CASTILHO FERNANDES (1943-2018)
HOMENAGEM DE LEANDRO CHEVITARESE
Sérgio L. de C. Fernandes, Ph.D., professor de Filosofia da PUC-Rio e professor-titular de Filosofia da UERJ (aposentado). Depois de publicar um livro sobre Teoria do Conhecimento nos Estados Unidos (sua tese de doutorado sobre Kant na Inglaterra), e outro no Brasil, "Filosofia e Consciência", além de artigos, dedica-se ultimamente à antropologia filosófica e à filosofia da religião, onde já se notam os resultados desta pesquisa em seu último livro "Ser Humano - Um Ensaio em Antropologia Filosófica".
Destaques:
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995 [FernandesFC]
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Ser Humano. Um ensaio em antropologia filosófica. Rio de Janeiro: Editora Mukharajj [FernandesSH]
Matérias
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Fernandes (SH:302-305) – o lugar da Ética é o Inferno
10 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro -
Fernandes (SH:25-26,307-309) – Problema do Mal
29 de março de 2022, por Cardoso de Castro[...] Uma de minhas teses, talvez a principal, é a de que o personagem conceptual chamado "O Problema do Mal", longe de poder ser adequadamente tratado por uma suposta disciplina filosófica chamada "Ética" (ou por uma Teologia Dogmática, e menos ainda por uma Teodiceia), só poderá ser compreendido após a revisão completa do estatuto ontológico da problemática daquilo que precisamente se vem chamando de "Ética", e que inclui, por exemplo, o problema da vinculação do Ser ao Bem, da distinção (…)
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Fernandes (FC:38-39) – Libertação do Sofrimento
1º de janeiro, por Cardoso de CastroMas, então, o que é que o Sábio ensina? Aqui estão três das Quatro Nobres Verdades (Ariya-Sacca): uma delas, sobre o que há de ser abandonado — o que origina (nidana) o sofrimento (dukkha), ou seja, o que origina o Encadeamento da Originação Dependente (Paticca samuppada); outra, sobre o que há de ser realizado — a extinção do sofrimento (nibbana, esfriamento pelo sopro); e outra, sobre o Caminho (magga) para sua extinção. A condição de todas elas, no entanto, é a primeira das Quatro (…)
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Fernandes (FC:67-72) – a questão do método
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroA noção de “metodologia é muito ambiciosa, pois a logia da palavra ‘metodologia’ sugere que se possa usar a lógica para [67] conhecer o método. Ora, “método”, por sua vez, é o caminho para uma meta. De que maneira a lógica nos poderia ajudar a conhecer esse caminho? A implicação material parece ser a única relação lógica não-trivial, neste caso. Mas como interpretar, aqui, o nosso “p implica g” ou “a premissa implica materialmente a conclusão”? Será o caminho a premissa, que implica a meta, (…)
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Fernandes (FC:145-149) – compreensão e explicação
9 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroA Filosofia é a investigação do Ser enquanto Ser. Essa investigação não é “metódica”, pois todo método pressupõe o que deve ser investigado: o “eu” que aspira, e o tempo de “tornar-se outra coisa”. [145] (Fosse “metódica”, a Filosofia seria uma “ciência” a mais, embora sua classificação devesse permanecer irremediavelmente ambígua.) A investigação filosófica tem, portanto, uma dimensão atemporal. Neste Capítulo, pretendo mostrar-lhe, caro amigo desconhecido, que essa dimensão corresponde à (…)
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Fernandes (FC:20-21) – todo ponto de vista é um ponto cego
9 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroA atividade filosófica pode ser chamada de “investigação”, mas distingue-se da investigação científica. Esta, pelo interesse em manipular, ou dominar, é sempre dirigida, pela urgência do desejo, à parcialidade das explicações. Pois é impossível explicar alguma coisa em sua totalidade: só há explicações parciais. E parcialidade gera conflito. De fato, a ciência conhece pela destruição do seu objeto. Já filosofar seria compreender sem nada destruir. Seria por em cheque toda astúcia — até a do (…)
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Fernandes (SH:344-345) – a "impotência do poder"
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroJá não foi fácil ter coragem para dizer, nas duas Seções precedentes, nas barbas de Platão, de cuja obra toda a Filosofia Ocidental não passa de um comentário — e foi o tê-lo dito que me fez ter querido dizê-lo! —, que não havia relação alguma entre o Ser e o Bem. Há de haver coragem agora para dizer, nesta Seção, que tampouco há poder, coisa sobre a qual toda a Civilização, Ocidental e Oriental, parece estar assentada, como uma galinha chocando um ovo. Há de haver coragem para dizer com (…)
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Fernandes (SH:286-293) – ser - bem - valor
17 de março de 2022, por Cardoso de CastroA antiga noção de axios (valioso) foi chamada, no início do século passado, a compor, com a antiga noção de logos, a palavra “axiologia”, para designar, a exemplo da composição de logos com episteme (epistemologia), o estudo filosófico dos valores em geral, em substituição à Werttheorie, até então usada para valores econômicos. A essa altura, seria excusado dizer que teria sido melhor havermos ficado só com a noção “econômica”, utilitária, de valor. Esses valores correspondem a algo que tem (…)
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Fernandes (SH:305-311) – Problema do Mal
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroO leitor se lembrará de que uso as Introduções para explicar o conteúdo de cada parte dos livros que escrevo, e de que leu na Introdução (e também no primeiro Capítulo) antecipações do conteúdo deste que agora lê, desta Seção mesma, e que vou repetir aqui, de maneira resumida, mas destacando algumas teses, como se suas exposições e defesas fossem promessas a cumprir. Primeira: “uma “Ética Descritiva” é uma disciplina factual, científica”. Após a última Seção, eximo-me aqui sequer de (…)
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Fernandes (SH:281-283) – Prolegômeno à "questão da ética"
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroO “ser” de um ente, qualquer ente, não é jamais a sua Existência, ou seu estar fora do Ser (tampouco, como vimos no primeiro Capítulo, é sua “essência” ou qualquer espécie de “substância” ). O “ser” de um ente é sempre o próprio Ser enquanto Ser, cuja verdadeira natureza é revelada pela categoria de Consciência em si, não intencional. A extensão do Ser, em Ser como (’’als’’) Experiência ou ainda Ser-Experiência, é criadora, não no sentido temporal, mas no sentido, já explicado, de reflexo (…)
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Fernandes (SH:20-21) – filosofia analítica
17 de março de 2022, por Cardoso de CastroO “espírito do tempo” inclui ainda a empáfia, na maioria dos casos nonchalante, ou simplesmente condescendente (na língua do Império, patronising), de uma variedade muito influente de contra ou antifilosofia, conhecida como “filosofia analítica”. A Filosofia Analítica se caracteriza, por um lado, por pressupor, acima da autoridade da Filosofia, a autoridade da Ciência “dura” (seja a Lógica e a Matemática, seja a Física e a Biologia); e, por outro lado, por pressupor a autoridade do senso (…)
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Fernandes (SH:43-49) – conhecer/explicar e compreender/criar
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroQuando se trata de ensaio-e-erro, conhecimento ou explicação, que considero um trio indissociável, supõe-se ordinariamente que seria um círculo vicioso ou uma petição de princípio, pressupor ou incluir explicitamente, no conteúdo daquilo que se vai usar para explicar (o explicam, premissas, etc.) justamente aquilo mesmo que se pretende explicar (o objeto da explicação, o explicandum). Grifei a palavra “explicitamente”, porque tal suposição é falsa. Algum tipo de consideração semelhante (…)
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Fernandes (FC:153-56) – consciência intencional
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroPartimos da Luz. Agora temos transparência. Embora do ponto de vista estritamente fenomenológico, a substituição tenha sido total, como acabamos de notar acima, o que fizemos foi substituir [153] a Realidade pela Aparência. Mas uma tal substituição é uma implementação primária de uma distinção entre Aparência e Realidade, o que necessariamente projeta a Realidade para fora da Aparência, assim como introjeta esta última na primeira. Algo, então, deve ter restado, sobrado, como resultado dessa (…)
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Fernandes (FC:131-132) – realidade virtual
7 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroHá um assunto muito delicado, aparentemente superficial e nada transcendental, por naturalístico que é, mas que precisa ser ventilado. O leitor, se já não experimentou, deve ter notícia dessas máquinas que produzem “realidade virtual”. Com um par de fones de ouvido, viseiras especiais, etc. — a limitação dos recursos é apenas contingente, dado o estado atual da tecnologia — podemos passar algum tempo “esquiando” na Suíça, ou “pilotando” um carro de corrida. Mas em que consiste a (…)
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Fernandes (FC:180-183) – resumo das proposições sobre consciência
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroFazendo um retrospecto, para continuar, tínhamos destacado a princípio quatro resultados, dentre outros:
(1) Não podemos “perder” a consciência;
(2) A consciência é inalteravelmente transparente;
(3) Não há “estados de consciência”; e
(4) A intencionalidade não é uma relação entre a consciência e algum conteúdo ou coisa;
aos quais acrescentamos os relativos ao Erro de Descartes (5 a 7) e, agora, podemos acrescentar os seguintes, também escolhidos dentre muitos outros:
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Fernandes (SH:51-52) – Ser “absolutamente transparente”
16 de novembro de 2023, por Cardoso de CastroProponho que o ser de um ente seja uma interface—justamente a interface entre Ser e Não-Ser que faz de um ente, por um lado, um ser determinado, reidentificável, e, por outro lado, um indivíduo, único, irrepetível (não “identificável” a outro), independente de espaço ou tempo, e incomparável (não meramente “diferente”). Ora, aquilo que está “deste último lado”, o lado do indivíduo, é “absoluto”, não “subjaz”, não “dura”, não “permanece idêntico a si mesmo” [sic], “ao longo do tempo e do (…)
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Fernandes (FC:2-5) – filosofia e filosofar
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroNo meu entender, a Filosofia nasce — e isto não é uma observação histórica! —, não de especulações físicas, ou cosmogônicas; não como uma proto-ciência, ou como a “mãe” de todas as ciências; mas, sim, de um abismo, de um abismar-se, num desdobramento original e, por excelência, enigmático, em nós mesmos. Ela não é a mãe de todas as ciências, no sentido muito simples de que tudo aquilo que as ciências lhe retiraram, por desapropriação, jamais foi o que realmente a constitui e anima, mas (…)
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Fernandes (FC:161-163) – dizer «eu»
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroVejamos como é necessário que eu diga “eu” sem saber quem sou, ou seja, vejamos como é necessário que eu só possa dizer “eu” na inconsciência, ou fora da consciência. Quando eu “introspecto”, tenho diante de mim um objeto. Que esse objeto seja “eu mesmo”, “meu estado mental”, o que chamo equivocadamente de “minha consciência obscura”, é contingente. Toda “introspecção” é uma extrospecção. Não nego que haja uma diferença entre a maneira pela qual tomo consciência de estados mentais que eu (…)
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Fernandes (FC:247-249) – erro do empirismo
9 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroPode-se caracterizar o empirismo como a doutrina filosófica que identifica o “sujeito” empírico com o transcendental. Mas essa caracterização, além de admitir um dúbio “sujeito transcendental”, não vai à raiz do empirismo. O Erro Empirista, a meu ver, é a identificação — absurda — entre Realidade e Aparência, na sua concepção de “experiência consciente”. Neste sentido, o Erro Empirista é uma variante do Erro de Descartes, pois identifica o psicológico — “certeza” etc. — com o epistemológico (…)
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Fernandes (FC:164-171) – esquema do Jogo de Luz
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroVoltemos às duas linhas, de tamanhos diferentes ou iguais, do Capítulo anterior. O que as torna “evidentemente” identificadas como “de igual tamanho”, ou “de tamanhos diferentes”? A adoção, sem questionar, de teorias, que funcionam como pontos cegos que permitem ver. Essas teorias foram postas por mim num continuum, das incorporadas biologicamente e muito resistentes a fatores cognitivos às projetadas exossomaticamente como objetos intencionais (intensões, Sinne, proposições, etc.), que se (…)