Há dois sentidos em direção aos quais podemos buscar o Ser, dando origem a duas metafísicas radicalmente distintas, que divergem em direções opostas. Se pretendemos conhecer a nós mesmos à luz do Ser, temos a metafísica ontocêntrica. Se pretendemos conhecer o Ser à luz da nossa consciência, temos a metafísica antropocêntrica. Na primeira, a Antropologia Filosófica é um capítulo da Ontologia; na segunda, a Ontologia é um desenvolvimento da Antropologia Filosófica. Na metafísica ontocêntrica (…)
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FernandesFC / FernandesSH / Sérgio L. de C. Fernandes / SFernandes
SÉRGIO LUIZ DE CASTILHO FERNANDES (1943-2018)
HOMENAGEM DE LEANDRO CHEVITARESE
Sérgio L. de C. Fernandes, Ph.D., professor de Filosofia da PUC-Rio e professor-titular de Filosofia da UERJ (aposentado). Depois de publicar um livro sobre Teoria do Conhecimento nos Estados Unidos (sua tese de doutorado sobre Kant na Inglaterra), e outro no Brasil, "Filosofia e Consciência", além de artigos, dedica-se ultimamente à antropologia filosófica e à filosofia da religião, onde já se notam os resultados desta pesquisa em seu último livro "Ser Humano - Um Ensaio em Antropologia Filosófica".
Destaques:
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995 [FernandesFC]
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Ser Humano. Um ensaio em antropologia filosófica. Rio de Janeiro: Editora Mukharajj [FernandesSH]
Matérias
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Fernandes (FC:84-89) – Ontocentrismo e antropocentrismo em Metafísica
24 de abril, por Cardoso de Castro -
Fernandes (SH:68-70) – Intencionalidade ou intensionalidade
24 de abril, por Cardoso de CastroOs medievais, depois Brentano, Husserl, etc., ao se referirem a uma suposta “intencionalidade”, deviam estar querendo referir-se à visão ou ponto de vista de um sujeito, não a propriedades metafísicas como a transparência da consciência, ou a enigmáticas capacidades mentais, como a de tomar algo como objeto. O que é, afinal, que eles poderiam estar querendo dizer? Certamente não pensavam em algo cientificamente tão depurado quanto a (realmente enigmática) ideia de “relação semântica” ou (…)
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Fernandes (SH:62-64) – O lidar com o existente
24 de abril, por Cardoso de CastroA doutrina de que as aparências “aparecem” é errônea porque, distinguindo-se da transparência da Experiência consciente, a transparência mental inconsciente ou transparência da “intencionalidade”, ou ainda, transparência do ponto cego, consiste no contrário de “deixar transparecer” a realidade, ou no contrário de deixar transparecer o “objeto tomado como real”, pois consiste em expulsar da Aparição, mantendo-o à distância, aquilo que se pensará ser, per absurdum, “uma aparência enquanto (…)
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Fernandes (FC:41-42) – conhecer não é acrescentar, mas retirar
24 de abril, por Cardoso de CastroA Filosofia pode, portanto, libertar-nos, tanto do “dever ser”, essa marca da escravidão, quanto da “intenção”, essa artífice dos métodos. Assim como, talvez, a Estética não se possa disciplinar como uma teoria do Belo, mas, com mais pertinência, como uma investigação da singularidade irredutível da sensação-como-modo-de-conhecer, também a Ética não se poderá disciplinar como uma teoria do Bem ou do Dever Ser, mas, com mais pertinência, como uma investigação que aponta para além do bem e do (…)
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Fernandes (SH:49-51) – a ideia de "ser em si"
24 de abril, por Cardoso de CastroA ideia de “Ser enquanto Ser”, ou de “Ser em si”, tem sido identificada tradicionalmente, na Filosofia ocidental, sobretudo com três noções, todas elas dependentes, ainda que de maneiras obscuras e insidiosas, da noção incoerente (não que eu tenha a coerência em alta conta!) de “sujeito imutável da mudança” [sic]: são elas as noções de substância, essência e existência. Essas identificações, afirmo, constituem um tremendo equívoco, têm levado a metafísica a uma série de desastres e tenho (…)
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Fernandes (FC:81-82) – eventos, causas e efeitos
24 de abril, por Cardoso de Castro[FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995, p. 81-82]
Não sendo possível conceber o Ser de um ente determinado, seja como constituído de suas qualidades (a cebola sem caroço), seja como constituído de uma substância-substratum (o caroço sem a cebola), o caminho intermediário seria experimentar concebê-lo como constituído somente de algumas qualidades privilegiadas, mas não todas. Mas isto seria (…) -
Fernandes (FC:79-81) – indivíduos e conceitos
24 de abril, por Cardoso de Castro[FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995, p. 79-81]
Mas se as coisas individuais não são o que estamos habituados a pensar que são, nossa investigação deve prosseguir. Desta vez, sem nos deixarmos guiar por outrem, experimentemos. Em que consiste o Ser de um ente qualquer? Não comecemos por exemplos complicados, como os universais. Tome este livro, que você lê. A resposta óbvia parece ser que ele é (…) -
Fernandes (SH:64-66) – Existe o que é o objeto de identificações...
24 de abril, por Cardoso de CastroExiste o que é o objeto de identificações, ou seja, tudo que é tomado pela mente inconsciente como podendo ser “experimentado” outra vez. Na frase precedente, a palavra “experimentado” aparece entre aspas porque experimentar algo como podendo ser experimentado outra vez, embora seja costumeiramente considerado como equivalente a experimentar um objeto como tal, ou seja, como isto ou aquilo, não constitui uma verdadeira Experiência, mas uma reatividade inconsciente da mente. A expressão (…)
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Fernandes (FC:82-83) – conhecimento da Natureza “regido” por projeções antropomórficas
24 de abril, por Cardoso de CastroA expressão meramente extensional do universal legaliforme deixa aberta a possibilidade de que, embora não haja exceção, tudo não passe de coincidências, de acidentes, por mais incrível que seja para nós essa visão das coisas. Por outro lado, o sentido de uma pretendida expressão intensional do universal (no sentido nômico, ou “essencial” de necessidade extra-lógica) é para nós inescrutável, como já veremos a propósito da noção de “essência”. Mas é isso que ocorre quando nos “pensamos” como (…)
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Fernandes (FC:204) – A Revolução Científica — Vida e Mente
24 de abril, por Cardoso de CastroA Revolução Científica — a única que conhecemos, até hoje — consistiu na aplicação do velho método de análise e síntese, ou seja, o método da matemática e da geometria, à Natureza como um todo, e na valorização da "experiência" como critério de decisão acerca de hipóteses e teorias. Mas a Revolução Científica deixara de fora a Vida e a Mente. Se considerarmos que a Revolução data, digamos, do século XVI — para adotarmos uma data "média" —, a Vida só viria a incorporar-se à Ciência três (…)
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Fernandes (FC:12) – símbolos
24 de abril, por Cardoso de CastroAntes de prosseguir, lembro ao leitor que há símbolos e “símbolos”: alguns se instalam no imaginário como estereótipos ideológicos e, como tal, assujeitadores; estão ali para serem desmascarados. Outros estão ali como mistérios insondáveis, tremendos, não como máscaras, pois os mistérios nada encobrem, de modo que pretender desmascará-los é como tentar transportar todo o oceano para um pequeno balde que temos nas mãos; estes símbolos, na verdade, só estão no imaginário para quem, tolamente, (…)
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Fernandes (SH:291-293) – O "dever-ser" é o que não é
24 de abril, por Cardoso de CastroO que nos resta é apenas investigar, do ponto de vista (cego) da Mente, do Pensamento e da Linguagem, ou seja, cavalgando o Instrumento, a própria noção de "valor", suas espécies, as relações entre elas, etc. O que teriam os valores, por exemplo, a ver com a razão e o intelecto? A venerável tradição chamada "tradição intelectualista", que foi inaugurada no Ocidente por Sócrates, mas no Oriente o foi certamente com o Vedanta, e à qual voltaremos na próxima Seção, relaciona o Bem com a Verdade (…)
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Fernandes (SH:61-62) – Instrumento da Criação (mente, pensamento, linguagem)
24 de abril, por Cardoso de CastroPor seu lado, se o Instrumento da Criação (a Mente, o Pensamento e a Linguagem) não pudesse gerar essas existências, a essas infinitas distâncias do Ser (o que se chama vulgarmente de “distinção entre sujeito e objeto” ), então não poderia haver experiência. No entanto, isso é o que a mente pode fazer, e a mente é um instrumento da Experiência consciente, não o inverso. Um leitor mais atento poderia aqui perguntar: Mas o que distinguiria então a transparência da Consciência, da transparência (…)
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Fernandes (FC:24-25) – Teoria do Conhecimento
24 de abril, por Cardoso de Castro[...] A Epistemologia — teoria do conhecimento, não apenas do conhecimento "científico" —, não pode ser a investigação daquilo que não temos, e que precisamos adquirir. Jamais se poderá, assim, compreender o que interessa, ou seja, nossa ignorância. Não filosofamos para aprender, no sentido positivo de aprender, mas, ao contrário, para desaprender o que nos sujeita. Entenda-me bem o leitor: não para aprender a respeito do que nos sujeita, como nas ciências humanas e sociais, mas para (…)
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Fernandes (FC:90-92) – A incomensurabilidade dos paradigmas
24 de abril, por Cardoso de CastroMas é preciso agora — ossos do ofício! — desincumbirmo-nos das “essências reais”, e investigar a natureza da Existência. Um pouco mais de ginástica. Tome alguma coisa; abstraia-lhe a existência: o que restaria seria sua essência. Defina alguma coisa; entenda a definição: seu significado seria a essência. Tome agora outra vez alguma coisa, mas, ao invés de abstrair-lhe a existência, inclua-a no gênero, ou na espécie a que pertence: você a teria incluído no que seria a sua essência. Lembre-se (…)
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Fernandes (SH:45-47) – Absurdo do "conhecimento criador" ou do "só conheço o que crio"
24 de abril, por Cardoso de CastroHá um sentido vulgar de "experiência" (aqui, sempre com "e" minúsculo), que, apesar de confuso ao extremo, é moeda corrente e até mesmo tido em alta conta por epistemólogos, como se correspondesse a uma noção fundamental (para cientificistas, entenda-se "útil"). Trata-se de um sentido intimamente relacionado ao de "conhecer" (sobretudo no sentido de "apreensão cognitiva"), "explicar", etc. O próprio Kant fez desse sentido de "experiência" a chave mestra de (quase) todos os seus argumentos. (…)
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Fernandes (SH:19-20) – Niilismo
24 de abril, por Cardoso de CastroPelo pouco que tenho acompanhado esses modismos [filosóficos], que, aqui, por simples cortesia, elevei às alturas de “espírito do tempo”, observo que, nas suas melhores expressões, essa mania chama-se de “desconstrucionista” ; nas suas piores expressões, abriga-se sob um imenso guarda-chuva de atitudes “filosóficas”, chamado de “pragmatismo”. Este último merece, outra vez por mera cortesia da minha parte, o título de “imperial”, já que se identifica com, ou se inspira num certo estilo de (…)
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Fernandes – O Lugar da Ciência
24 de abril, por Cardoso de CastroPara começar, alguns fatos básicos.
Além de biológica, aquilo que costumamos chamar de “mente” é, em larga medida, social, trans-individual e até “ecológica”. Basta nos lembrarmos de como “o cérebro”, como sistema, ou “o meio ambiente”, como sistema, se inter-monitoram. Além disso, quaisquer sub-sistemas monitoradores, cerebrais ou ambientais, estão de tal maneira intimamente acoplados um ao outro que seria difícil determinar de modo não arbitrário a fronteira entre cérebro e meio (…) -
Fernandes (SH:56-58) – Tomar algo como objeto
24 de abril, por Cardoso de CastroÉ dificílimo de ser reconhecido, seja na literatura filosófica, seja na científica, o fato de que só podemos “tomar como objeto” o que é “identificável”, real ou “existente”, e, inversamente, que só é identificável, real ou “existente” aquilo que podemos “tomar como objeto”. Esse fato é dificílimo de ser reconhecido, não só pelas notórias dificuldades de análise da própria noção de “tomar algo como objeto”, mas também porque tem o corolário, nada intuitivo, de que nada que aparece pode ser (…)
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Fernandes (FC:145-149) – compreensão e explicação
9 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroA Filosofia é a investigação do Ser enquanto Ser. Essa investigação não é “metódica”, pois todo método pressupõe o que deve ser investigado: o “eu” que aspira, e o tempo de “tornar-se outra coisa”. [145] (Fosse “metódica”, a Filosofia seria uma “ciência” a mais, embora sua classificação devesse permanecer irremediavelmente ambígua.) A investigação filosófica tem, portanto, uma dimensão atemporal. Neste Capítulo, pretendo mostrar-lhe, caro amigo desconhecido, que essa dimensão corresponde à (…)