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Caeiro (EN:11-12) – praxis em Aristóteles

sábado 5 de fevereiro de 2022, por Cardoso de Castro

  

Mas de todos os problemas postos [pela tradução da Ética a Nicômaco], o maior resulta de há já muito termos perdido o contato com o sentido essencial do prático tal como os Gregos o experimentavam espontaneamente. É desse sentido que dependem a possibilidade da sua caracterização, enquadramento e compreensão. Caracterizar o horizonte prático é caracterizar a situação específica em que o Humano se encontra. O sentido original do substantivo «práxis» [1] é dificilmente vertido para português através de termos como «ação» ou «prática». O verbo «práttein» significa passar por, atravessar. Significa também estar sujeito ao acaso, ao feliz tanto quanto ao infeliz. Significa bem assim «levar a cabo», «realizar», «cumprir» [2]. Nesta conformidade, o horizonte prático é o espaço onde tem lugar aquilo por que se passa: as situações em que caímos e as situações que criamos. O Humano existe desprotegido num horizonte que o deixa necessariamente exposto aos reveses da fortuna, aos caprichos do acaso, aos golpes do destino, à adversidade em geral. O mundo em que vivemos, os outros que aí encontramos, nós próprios no que nos dá para fazer, tudo isto forma frentes provocadoras da ação. Mas a ação só acontece quando arranjamos um espaço de manobra para a levar a cabo de livre e espontânea vontade, de forma plenamente consciente. [CaeiroEN  :11-12]


Ver online : Médio platonismo, Neoplatonismo, Neo-aristotelismo


[1Ou com o substantivo πράγμα e o verbo πράττειν. Dificilmente o seu sentido pode ser vertido, respectivamente, por prática ou ação e agir.

[2O sentido de πράσσειν é atravessar. Πρᾶξις é a ação de atravessar, enquanto nomen ationis, isto é, aquilo por que se passou, os momentos bons e maus que se atravessaram, as circunstâncias concretas que de cada vez se constituem. As situações em que se cai ou que se criam.