(in. Apologists; fr. Apologistes; al. Apologeten; it. Apologisti).
Assim se chamam os Padres da Igreja do séc. II, que escreveram em defesa (apologia) do Cristianismo contra os ataques e as perseguições que lhe eram movidos. A primeira apologia de que se tem notícia (mas da qual resta apenas um fragmento) é a defesa apresentada ao imperador Adriano, por volta de 124, por Quadrado, discípulo dos Apóstolos. O principal dos Padres Apologistas é Justino. Outros autores de apologias são Taciano, Atenágoras, Teófilo, Hérmias. Com os Padres Apologistas começa a atividade filosófica cristã. A tese comum que defendem é de que o Cristianismo é a única filosofia segura e útil e resultado último a que a razão deve chegar. Os filósofos pagãos conheceram sementes de verdade que não puderam entender plenamente: os Cristãos conhecem a verdade inteira porque Cristo é o logos, isto é, a razão mesma da qual participa todo o gênero humano. A apologética desses Padres constitui, portanto, a primeira tentativa de inserir o Cristianismo na história da filosofia clássica. [Abbagnano]
Apologistas (séc. II-III)
Sob esse nome, surge uma série ou grupo de escritores cristãos, principalmente do século II. Muitos de seus escritos estão dirigidos ao imperador ou aos governadores romanos, os únicos que podiam aceitar ou recusar sua causa. Todos os escritos têm um tom marcadamente apologético ou de defesa diante das acusações grosseiras aos cristãos, cada vez mais presentes no Império. Por isso, o tom e o estilo desses textos são bem diferentes dos da época anterior, essencialmente missionários ou querigmáticos.
Nessa época, são bastante conhecidas as acusações contra os cristãos. Entre o povo circulavam vis rumores contra eles. O Estado considerava a adesão ao cristianismo um crime gravíssimo contra o culto oficial e contra a majestade do imperador. As classes mais altas e cultas consideravam o cristianismo como uma ameaça crescente contra a integridade do Império. Por sua parte, escritores da época intervieram contra os cristãos: Luciano de Samosata publicou no ano 170 De morte peregrini, em que se zombava do amor fraternal dos fiéis e de seu desprezo pela morte. O mesmo fez Fronton de Cirta, professor do imperador M. Aurélio, em seu Discurso. E sobretudo o filósofo Celso, que em 178 publicou seu Discurso verdadeiro, e para quem o cristianismo não passava de superstição e fanatismo.
Os textos dos apologistas reúnem, assim, os argumentos e rumores que correm contra os cristãos e os rebatem contundentemente. Dirigem-se, sobretudo, contra três tipos de argumentos: a) Contra a acusação de que os cristãos representavam um perigo para o Estado. Chamam a atenção sobre a maneira de viver dos cristãos: séria, austera, casta e honrada; cidadãos de Roma, como os outros, b) Demonstram o absurdo e a imoralidade do paganismo e de suas divindades. Defendem a unidade de Deus, a divindade de Cristo e a ressurreição do corpo, c) Avançam mais, afirmando que a filosofia não foi capaz de encontrar a verdade, a não ser fragmentariamente. O cristianismo, ao contrário, possui toda a verdade, porque o Logos, que é a mesma razão divina, veio ao mundo por Cristo.
A maior parte dos manuscritos dos apologistas gregos dependem do códice de Aretas, bispo que foi de Cesareia da Capadócia. Este, em 914, mandou copiá-lo para sua biblioteca, com a intenção de formar um corpus apologetarum desde os tempos primitivos até Eusébio. Os manuscritos posteriores foram copiados no século XVI, quando o Concílio de Trento estudava o tema da tradição na Igreja. Podemos, então, concluir que os genuínos escritos dos apologistas foram virtualmente desconhecidos até o séc. XVI.
O primeiro dos apologistas é Quadrato, que entre os anos 123-129 dirigiu seu discurso — hoje perdido — ao imperador Adriano, em defesa de nossa religião, “porque alguns malvados tratavam de incomodar os nossos”. Segue-lhe Aristides de Atenas, do qual conservamos o mais antigo discurso ou apologia; seu texto foi encontrado em 1889 no monastério de Santa Catarina do Sinai. Ariston de Pella é o autor da Discussão entre Jasão e Papisco sobre Cristo, texto perdido. São Justino (ver Justino). Taciano, o Sírio, compôs o Discurso contra os gregos, um argumento contra tudo o que pertence à civilização grega, sua arte, ciência e língua. E o Diatessaron, uma combinação dos evangelhos. Os demais escritos se perderam.
Também merecem destaque Milcíades, que escreveu uma Apologia da filosofia cristã, dirigida aos “príncipes temporais”, cujo texto se perdeu. Apolinário de Hierápolis, que escreveu um discurso ao imperador Marco Aurélio, cinco livros Contra os gregos, dois livros Contra os judeus, dois livros Sobre a verdade. Nenhum deles se conservou, e somente os conhecemos por Eusébio. Atenágoras de Atenas escreveu a Súplica em favor dos cristãos e Sobre a ressurreição dos mortos. De Teófilo de Antioquia somente nos chegou Ad Autolycum. Perdeu-se a maior parte de sua numerosa obra. Militão de Sardes é considerado uma das “grandes luminárias” da Ásia. Dirigiu uma Apologia a Marco Aurélio, cujo texto se perdeu. Além destas, atribuem-se a Militão outras 20 obras desaparecidas. Finalmente destacamos Hermas, autor da Sátira sobre os filósofos profanos, na qual procura comprovar com sarcasmos a nulidade da filosofia pagã, mostrando as contradições que encerram seus ensinamentos sobre a essência de Deus, do mundo e da alma. Nada se sabe da pessoa do autor. Também se desconhece a data de composição da obra: provavelmente o séc. III. Outro dos apologistas, Carta a Diogneto.
Os apologistas latinos merecem capítulo à parte. Minúcio Félix escreveu em latim o diálogo Octavius. E a única apologia do cristianismo escrita em latim e em Roma no tempo das perseguições. O mais representativo dos apologistas latinos é Tertuliano.
BIBLIOGRAFIA: J. Quasten, Patrología, I, 181-242; 527-682; Padres apostólicos (BAC 65); Padres apologetas griegos (BAC 116). [Santidrián]