Filosofia – Pensadores e Obras

existência intencional

As análises precedentes levam a uma outra conclusão. Para cada coisa há dois modos de existir, ou dois “esse” absolutamente diferentes: o “esse” simples, às vezes qualificado de “entitativo”, designa a existência mesma da coisa na realidade; e o “esse” intencional, o qual significa a coisa enquanto é conhecida, ou sua existência de objeto; pelo conhecimento a coisa vem existir em mim, mas de modo diferente, isto é, diferente do modo como existe em si.

O “intencional”, nesta doutrina, designa tudo o que é conhecido, considerado como tal; o objeto conhecido, no pensamento, será assim significado pela expressão “intentio intellecta”; fala-se equivalentemente para o ser conhecido em “esse objetivo”. -É essencial observar que para Tomás de Aquino a intencionalidade, da qual aqui se trata, não corresponde a nenhuma tendência ativa para o objeto. Deve ser, pois, cuidadosamente distinguida da intencionalidade voluntária que, esta sim, implica uma inclinação efetiva: a ordem da realidade do conhecimento tem um significado puramente representativo e de modo algum dinâmico.

Por este ponto, e graças à introdução desta categoria de intencional, distinguem-se no mundo do ser duas grandes ordens: a do chamado ser “entitativo”, que corresponde à existência pura e simples das coisas e, como que duplicando-a, a do ser intencional ou do ser enquanto conhecido. Assim aparece, explica-nos Cajetano, “que testemunho de incultura dão aqueles que, tratando do sentido e do sensível, da inteligência e do inteligível, julgam-nos como coisas diferentes. Aprende, pois, continua o douto autor, a elevar mais teu espírito e a penetrar em uma outra ordem de coisas” (Comm. in Iam Part. q. 14, a. 1, VII).

Que podem, pois, tais considerações representar às vistas do psicólogo moderno? Elas nos conduzem evidentemente para bem longe das observações detalhadas e minuciosas que enchem as páginas de nossos atuais tratados. Na realidade, engajamo-nos aqui no plano da resolução metafísica. Toda experiência, sabemos, não é excluída: parte-se do fato do conhecimento tal qual nos é dado; mas este fato é apenas considerado segundo seus aspectos mais comuns e conforme os princípios de uma metafísica geral do ser, especialmente do ser físico que serve aqui de ponto de referência.

Os resultados obtidos poderão parecer bastante desprovidos de interesse para quem pretenda não ir além do plano da observação positiva. Mas desde que se queira ir mais a fundo, desde que sobretudo se tente, com as fracas possibilidades de nossa inteligência de homem, penetrar no mundo dos espíritos, o nosso, que nos é em parte oculto, o dos anjos e de Deus que nos são inteiramente escondidos, então parece que só as generalidades de uma autêntica metafísica do conhecimento são capazes de assegurar uma base às transposições que se impõem. [Gardeil]