(in. Nihilism; fr. Nihilisme; al. Nihilismus; it. Nihilismó).
Termo usado na maioria das vezes com intuito polêmico, para designar doutrinas que se recusam a reconhecer realidades ou valores cuja admissão é considerada importante. Assim, Hamilton usou esse termo para qualificar a doutrina de Hume, que nega a realidade substancial (Lectures on Metaphysics, I, pp. 293-94); nesse caso a palavra quer dizer fenomenismo. Em outros casos, é empregada para indicar as atitudes dos que negam determinados valores morais ou políticos. Nietzsche foi o único a não utilizar esse termo com intuitos polêmicos, empregando-o para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças metafísicas: “O niilismo não é somente um conjunto de considerações sobre o tema ‘Tudo é vão’, não é somente a crença de que tudo merece morrer, mas consiste em colocar a mão na massa, em destruir. (…) É o estado dos espíritos fortes e das vontades fortes do qual não é possível atribuir um juízo negativo: a negação ativa corresponde mais à sua natureza profunda” (Wille zur Macht, ed. Kröner, XV, § 24). [Abbagnano]
A negação de qualquer crença. — O niilismo apareceu na Rússia, no século XIX, inicialmente como uma atitude, um “estado de desesperança” próprio a todos os que não sabem o que fazer da própria vida; tornou-se logo depois uma doutrina, enunciada por Dobroliubov (1836-1861) e Pissarev (1840-1868) (profundamente inspirados pelo positivismo de Augusto Comte), cujo objetivo imediato é varrer todas as ideias adquiridas (teologia, estética etc), todos os preconceitos sociais, e cujo objetivo último é instaurar uma nova sociedade apta a assegurar a felicidade das massas, sociedade essa que se basearia em dados científicos. Após 1870, sob a influência de Tchernychev, o niilismo evolui no sentido de uma crítica do capitalismo e da injustiça social na Rússia. Reagindo às perseguições governamentais e à instigação de agitadores, certos niilistas participam de atentados anarquistas, que não faziam parte do programa primitivo. Dessa maneira, ligam-se a homens como Bakunine, cujo O Estado e a anarquia (1873) recomenda “destruir o mais possível, o mais rapidamente possível”. O niilismo confunde-se então com todos os movimentos que visam destruir o regime do czar: seu objetivo é total destruição das estruturas sociais, sem nenhuma intenção positiva de renovação. O niilista identifica-se ao anarquista, para quem a destruição e a luta revolucionária constituem um fim em si. Opõe-se ao verdadeiro revolucionário, cujo objetivo não é o de destruir, mas o de instaurar uma nova ordem. [Larousse]
a) É a doutrina que admite que o nada, além de ser ou de haver, é capaz de ser pensado. O argumento de Górgias que o defendia era: “Se posso pensar em alguma coisa, é porque existe; ora, posso pensar no nada; logo, o nada existe”. Este silogismo é uma verdadeira falácia, porque não se prova que tudo sobre que podemos pensar existe, porque o pensamento só pode, de per si, afirmar a existência em quem pensa, não uma existência fora do pensamento. Ademais, pensar na ausência de todas as coisas, que é o modo de pensar sobre o nada, que em si é impensável, não é ainda colocar o nada, nem realizá-lo.
b) Chama-se de niilismo toda posição filosófica, doutrinária, ética, etc., que preconize uma valorização e até uma supervalorização desse conceito negativo de nada, e ainda empreenda sua atividade doutrinária ou social no que é destrutivo, no que aniquila o que há, ou que pretende, em suma, destruir todos os valores para afirmar os desvalores. Vide valor.
Nietzsche foi o grande crítico do niilismo e o classificou em ativo e passivo, em positivo e negativo, o que permite inúmeras combinações. É ativo o niilismo que empreende uma ação destrutiva. É positivo quando pretende destruir algo para ser substituído por algo julgado melhor, como os revolucionários construtivistas. É negativo quando consiste na não oposição ao destrutivo. É passivo, o que aceita a destruição sem contribuir diretamente para ela, sem opor obstáculos, por cumplicidade passiva. E essa cumplicidade será positiva ou negativa, na proporção em que colabore com a destruição para construir, ou com a destruição pura e simples. Nietzsche chamava-se de niilista ativo positivo, pois desejava derrocar a escala de valores do mundo burguês de sua época para substitui-la por uma outra mais nobre e mais digna para o homem. Niil… e palavras derivadas, vide nihil… e derivadas. [MFSDIC]