É a estima de si próprio bem como a vontade daí resultante e o apetite do bem-estar pessoal. É o instinto de auto-conservação peculiar a todo o ser vivo, enquanto manifestado pelo conhecimento e pela vontade. O amor de si combate tudo quanto, em seu entender, diminui ou aniquila a existência própria, e reclama tudo o que a mantém e estimula. O amor de si, radicado no instinto de auto-conservação, tem como fim imediato o indivíduo, servindo apenas mediatamente a conservação da espécie. — O amor ordenado de si é uma obrigação moral, porque o verdadeiro e mais profundo fundamento da auto-estimação reside no fato de o homem ser imagem de Deus, imagem que lhe cabe, mediante sua atividade, aperfeiçoar no grau mais elevado possível. O amor de si, enquanto vontade do bem próprio, é ordenado quando, em conformidade com a correspondente série de valores, aspira aos bens adequados à essência do homem e, com essa aspiração, em nada prejudica os direitos do próximo. — O amor de si devidamente ordenado nunca pode estar em contradição com o verdadeiro bem dos semelhantes; pelo contrário, é-lhe necessário. No que tange aos bens morais e intelectuais, de modo geral não é possível a exclusão de um por parte do outro. Se, no que respeita aos bens materiais, forem observadas as leis da justiça em todos os seus aspectos, será possível a cada qual procurar aquilo de que necessita. Se todos cogitarem em se aperfeiçoar de acordo com os requisitos de seu ser, ficará assegurada a ordem e o bem da comunidade. — O amor de si é desordenado, sempre que antepõe os bens inferiores aos superiores, e quando, reclamando indevidamente tudo para si, lesa os direitos do próximo. Em tal caso, degenera em egoísmo. — Atenta contra o dever moral do amor de si quem provoca dano em seu corpo ou em sua vida (p. ex., por meio de auto-mutilação ou do suicídio) ou nos bens intelectuais e morais, e quem por desídia deixa de se esforçar por obter seu próprio desenvolvimento e perfeição. — (VIDE amor). Kleinhappl [Brugger]
(gr. philautia; in. Self-love; fr. Amourdesoi; al. Eigenliebe; it. Amor di se).
Esta expressão não deve ser confundida nem com “amor próprio”, que significa vaidade, ou, no melhor dos casos, sentido de altivez ou de orgulho, nem com egoísmo. Aristóteles distinguiu a filáucia, que é uma virtude, do egoísmo vulgar de quem ama a si mesmo, querendo atribuir-se a maior parte dos lucros, dos prazeres e das honras. “O filaucioso”, disse ele, “é sobretudo aquele que se apropria do belo e do bem, faz deles seus senhores e obedece-lhes em tudo” (Et. Nic, IX, 8,1.168 a, 28). Em outras palavras, quem ama á si mesmo no verdadeiro sentido não pretende a parte maior do prazer, das honras ou do lucro, mas a parte maior do bem e do belo, isto é, o exercício da virtude. Em sentido análogo, Tomás de Aquino afirma que o homem ama a si mesmo quando ama a sua natureza espiritual, não a corpórea, e que em tal sentido deve amar a si mesmo depois de Deus, mas antes de qualquer outro ser; de modo que, por ex., não pode tolerar incorrer em pecado para livrar o próximo do pecado (S. Th., II, II, q. 26, a. 4). Na Idade Moderna, Malebranche (em Première lettre au R. P. Lamié) retomou a distinção entre amor próprio e amor considerando o primeiro como fonte de todos os desregramentos humanos e o segundo, ao contrário, como o princípio de todos os esforços para o cumprimento do dever. Essa distinção foi retomada por Vauvenargues (De l’esprit humain, 24): “Com o amor de si mesmo pode-se procurar a própria felicidade fora de si. Pode-se amar qualquer coisa fora de si mais do que a própria existência e não se é o único objeto para sisi mesmo. O amor próprio, ao contrário, subordina tudo às próprias comodidades e ao próprio bem-estar, e tem em sisi mesmo o único objeto e o único fim; de modo que, enquanto as emoções que vêm do amor nos dão às coisas, o amor próprio quer que as coisas se deem a nós e faz de si mesmo o centro de tudo”. Kant, mesmo considerando o amor de si uma espécie de egoísmo (entendido, porém, no sentido mais geral de desejo da felicidade), distinguia-o como benevolência para consigo (ou filáucia) levada ao extremo pela complacência para consigo (ou arrogantia) e considerava-o suscetível de harmonizar-se com a lei moral e tornar-se “amor racional de si” (Crít. R. Prática, livro I, cap. III, A129). As análises de Scheler insistiram no caráter não-egoístico do amor de si: “Amor orientado para os valores e, por seu intermédio, para os objetos portadores deles, sem preocupar-se em saber a quem pertencem esses valores, se a ‘mim’ ou a ‘outros’ “. (Sympathie, II, cap. 1, § 1) [Abbagnano]