Filosofia – Pensadores e Obras

ôntico

(in. Ontic; fr. Ontique; al. Ontisch; it. Onticó).

Existente: distinto de ontológico, que se refere ao ser categorial, isto é, à essência ou à natureza do existente. P. ex., a propriedade empírica de um objeto é uma propriedade ôntico; a possibilidade ou a necessidade é uma propriedade ontológica. Essa distinção foi ressaltada por Heidegger: “’Ontológico’, no sentido dado à palavra pela vulgarização filosófica (e aqui se mostra a confusão radical) significa aquilo que, ao contrário, deveria ser chamado de ôntico, ou seja, uma atitude tal em relação ao ente que o deixe ser em si mesmo, no que é e como é. Mas nem por isso se propôs ainda o problema do ser, e muito menos se atingiu aquilo que deve constituir o fundamento para a possibilidade de uma ‘ontologia’” (Vom Wesen des Grundes. I, ng 14; trad. it., p. 23). [Abbagnano]


O que se relaciona aos objetos do mundo. — A filosofia de Kant é uma filosofia ôntica porque só reflete sobre os problemas internos do mundo e não se eleva ao problema ontológico da “origem” do mundo (Fink). A reflexão ôntica (sobre os “Objetos” do mundo) contrapõe-se assim à reflexão ontológica (sobre o “ser” mesmo do mundo). É nesse ponto que a filosofia de Heidegger, por exemplo, pretende contrapor-se à de Kant e mesmo completá-la. [Larousse]


Por isso, modernamente, entre alguns filósofos, costuma-se empregar o termo ontológico, como referente ao ser elucidado, ao ser em geral, e ôntico ao que se refere ao ente, tomado determinadamente o fato de ser, afim de evitar a confusão entre realidade ontológica e realidade ôntica, que, inseparáveis na ordem do ser, são, no entanto, distintas na visualização filosófica. Note-se ademais que tal aceitação terminológica não implica a aceitação da doutrina kantiana, mas apenas nasce ela de um desejo de clareza, ideal de quem quer verdadeiramente realizar alguma coisa na filosofia.

Há outros termos empregados também neste sentido como ontal, côisico, róico, que encontramos entre filósofos modernos.

Esse modo de considerar não é, porém, matéria pacífica e universalmente aceita na filosofia. Os escolásticos não faziam tal distinção, e consideravam tais expressões deste modo: ôntico significa o ente ainda não descoberto pelo espírito, como intelligibile in potentia, como já examinamos na “Teoria do Conhecimento”, e ontológico, o ente já esclarecido, descoberto, intellectum in actu. Uma verdade ôntica é uma verdade que está no ser; quando em ato no intelecto é uma verdade ontológica. Ôntico, portanto, pertence à imanência do ente e ontológico à imanência do ser, captada transcendentalmente.

Em nossa linguagem filosófica, diríamos que ôntico refere-se a toda a esquemática imanente ao ser, tomado in genere ou não, como fato de ser, extra mentis, independente do intelecto, isto é, dos esquemas noéticos de qualquer espécie. E ontológico refere-se a tais esquemas noéticos, (logos do ontos) à esquemático captada pelo intellectum in actu, cuja correspondência e alcance, paralelismo ou não, cabe à Ontologia elucidar. [MFS]