(in. Semantics; fr. Sémantique; al. Semantik).
Propriamente, a doutrina que considera as relações dos signos com os objetos a que eles se referem, que é a relação de designação. Este termo, proposto para tal doutrina por Bréal (Essais de sémantique. Science des significations, 1897), encontra justificação etimológica no verbo grego semainen, introduzido por Aristóteles para indicar a função específica do signo linguístico, em virtude da qual ele “significa”, “designa” algo. A semântica seria portanto a parte da Linguística (e mais especialmente da Lógica) que estuda e analisa a função significativa dos signos, os nexos entre os signos linguísticos (palavras, frases, etc.) e suas significações. Embora seja esta a acepção mais difundida, hoje em dia, em filosofia e lógica esse termo também tem outras acepções. Por ex., A. Korzybski (Science and Sanity) utiliza “semântica” para indicar uma teoria relativa ao uso da linguagem, sobretudo em relação às neuroses que, segundo esse autor, são efeitos ou causas de certos maus usos linguísticos. Os lógicos poloneses em geral (e em particular Chwistek), que contribuíram sobremaneira para o surgimento desse último ramo da lógica formal, não costumam distinguir entre proposição e enunciado, entre significado lógico e forma linguística de uma proposição, e usam esse termo para indicar a lógica formal em seu conjunto. Não obstante, foi graças ao impulso dado pelos estudos dos lógicos poloneses que, por volta de 1956, começou-se a delimitar o campo dessa nova disciplina. Foi graças a Ch. W. Morris e R. Carnap que no seio da semiótica (teoria dos signos em geral, dos signos linguísticos em particular) começaram a ser distinguidos alguns aspectos fundamentais: pragmática, que estuda o comportamento gestual dos seres humanos que fazem sinais por determinados motivos, para atingirem certos objetivos, etc. (portanto, é um ramo da psicologia e/ou da sociologia); semântica, que, sem considerar as circunstâncias concretas (psicológicas e sociológicas) do comportamento linguístico, restringe seu campo de investigação à relação entre signo e referente (significatum, designatum, denotatum); e sintática, que, abstraindo até mesmo dos significados, estuda as relações entre os signos de determinado sistema linguístico. semântica e sintática na verdade constituem dois grandes capítulos que dividem a lógica formal pura. Desta última, porém, faz parte mais a semântica pura, que constitui a priori as regras de um sistema sintático geral, do que a semântica descritiva, que é uma investigação empírica com vistas à descrição de determinado sistema semântico (ou grupo de sistemas afins), portanto mais pertinente à linguística que à lógica. Assim, a semântica pura, mais que doutrina dos significados, é uma teoria geral da verdade e da dedução nos sistemas sintáticos interpretados; por isso, distingui-la da sintática torna-se difícil e problemático (cf. Morris, Foundations of the Theory of Signs, 1938, cap. IV; Carnap, Foundations of Logic and Mathematics, 1939, I, 2; Meaning and Necessity, 1957, p. 233; Introduction to Semantics, 1942; 2- ed., 1958; Linsky, editor, Semantics and the Philosophy of Language, 1952).
Mais recentemente, Quine insistiu na diferença entre a referência semântica propriamente dita, que seria o significar, e a referência do nomear. Tal diferença resulta, p. ex., do fato de que se pode nomear o mesmo objeto, como quando se diz “Scott” e “o autor de Waverley”, mesmo que os significados sejam diferentes. A semântica conteria, assim, duas partes: uma teoria do significado, à qual pertenceria a análise dos conceitos de sinonímia, significação, analiticidade, implicação; e uma teoria da referência, à qual pertenceria a análise dos conceitos de nomeação, verdade, de-notação e extensão. Mas o próprio Quine observa que até agora a palavra semântica foi empregada principalmente para a teoria da referência, embora esse nome fosse mais adequado à teoria do significado (From a Logical Point qf View, 1953, VII, 1; II, 1). V. significado. [Abbagnano]
O vocábulo semântica foi criado para designar a ciência que se ocupa dos significados das palavra.. A semântica é uma parte da linguística ou gramática geral. De um modo mais preciso, a semântica linguística é definida como a ciência que estuda as diversas relações palavras com os objetos por elas designados, isto é, que se ocupa de averiguar de que modo e segundo que leis as palavras se aplicam aos objetos. A semântica linguística é uma ciência empírica; a indução é o método por ela usado para a formulação das suas leis. Diferente, em compensação, é o objeto e os métodos da semântica tal como foi elaborada por filósofos e lógicos. Vimos no artigo sobre a semiótica que a semântica foi definida como uma parte da ciência geral dos sinais: a que estuda as relações entre os sinais e os objetos aos quais podem aplicar-se os sinais. As noções estudadas pela semântica são noções como as de verdade, de designação, cumprimento (e condições), definição, nominação, denotação, significação, sinonímia, aplicabilidade, etc. Por exemplo, o enunciado “se a massa da lua é menor que a massa da terra, então os corpos sobre a lua pesam menos que os corpos sobre a terra” é um enunciado verdadeiro, é uma proposição cujo estudo pertence à semântica.
O caráter menos abstrato e formal da semântica em relação à sintaxe é admitido por quase todos os autores. [Ferrater]
a) O estudo das mudanças pelas quais passa a significação das palavras, consideradas como sinais das ideias, no espaço e no tempo.
b) Chamavam os gregos de semântico, como adjetivo, o que concerne à significação dos termos.
c) Emprega-se na filosofia para indicar a intencionalidade dos termos, sua referência signalativa, o conteúdo noético para o qual aponta e que dá o conteúdo semântico do termo. [MFSDIC]
A Semântica é a teoria do sentido das palavras, ou da significação.Apesar de ter sido gerada como “prima pobre” da Linguística (Greimas) não se deve reduzi-la ao único nível de significações linguísticas. Na perspectiva linguística ela é vista como teoria do significado, sem que o conceito de significado tenha sido elaborado adequadamente pela ciência linguística.
Saussure não precisou o significado (ver em significado a crítica de Benveniste) . E os críticos que quiserem precisar sua definição desta categoria desdobrando-a em duas, a referência ou conceito e o referente ou “coisa em si” (por exemplo. . . 25S, 29), nada acrescentaram ao problema. Uma definição da semântica só pode ser feita através da determinação das operações e categorias que constituem. Não significa que a Semântica se reduz a isto, mas significa que ela está se fazendo e estes são os seus limites atuais (pois ela ainda não está teoricamente articulada).
Pode-se ter uma ideia do futuro desenvolvimento da Semântica, acompanhado-se um capítulo da importante obra de Greimas. Para Greimas, “o único modo de abordar, atualmente, o problema da significação consiste em afirmar a existência de descontinuidade no plano da percepção e a de afastamentos diferenciais (como Lévi-Strauss), criadores de significação, sem se preocupar com a natureza das diferenças percebidas”. Pelo fato de perceber diferenças é que o homem cria significados. E perceber diferenças significa apreender ao menos dois termos-objetos como simultaneamente presentes. A significação pressupõe a relação: um único termo-objeto não comporta significação.
Para que dois (ou mais) termos-objetos sejam apreendidos conjuntamente, é preciso que tenham algo em comum e para que sejam distinguidos é preciso que sejam de algum modo diferentes. A partir disto Greimas define as estruturas elementares da Semântica. Dois termos que tenham algo em comum ou algo que os distingua têm sempre um eixo semântico. Por exemplo: alto/baixo (tamanho); azul/vermelho (cor); vozes/nozes (fonema) etc. “O eixo semântico tem por função substituir, totalizar as articulações que lhes são inerentes”. A relação não é necessariamente binária: alto/médio/baixo têm o mesmo eixo semântico. Numa relação, os elementos que a constituem (é bom lembrar que o elemento só existe na relação) serão denominados temas. Greimas recusa o binarismo de Jakobson, para quem, numa relação, um dos termos é marcado. É impossível marcar a relação: [rapaz (masculino)] [r (sexo)] [moça (feminino)], pois rapaz é marcado em relação a “masculinidade”, enquanto moça é marcada em relação à “feminilidade”.
Hjelmslev distingue entre forma de conteúdo e substância de conteúdo. Por exemplo, comparando dois espectros de cores (inglês e gaulês), ele denomina as articulações da linguagem falada como forma do conteúdo e os eixos semânticos o que os subsumem como substância do conteúdo. A oposição entre forma e substância se encontra inteiramente no campo da análise do conteúdo e não como oposição entre significante (forma) e significado (conteúdo). Pode-se dizer que as articulações sêmicas de uma língua constituem sua forma, ao passo que o conjunto dos eixos semânticos traduz sua substância.
Greimas inspirou-se profundamente na obra de Lévi-Strauss para construir sua semântica. Lévi-Strauss mostra como a percepção se dá imediatamente no nível da sensibilidade mas que só pode ser pensada mediatamente. Ainda assim, está lógica que só pode ser apreendida teoricamente é vivida como tal nas operações concretas que o homem realiza: “o universo é objeto de pensamento, ao menos tanto quanto meio de satisfazer necessidades”. “As espécies animais e vegetais. . . são decretadas úteis porque são primeiramente conhecidas”. O homem sempre “estabelece” relações e estas relações se dão independentemente de uma vontade subjetiva: elas têm leis próprias e podem ser estudadas separadamente de sua repercussão psicológica.
Assim, na Semântica de Lévi-Strauss, 1) os homens têm sempre relações articuladas com o outro e o mundo; 2) estas relações têm leis próprias e são elas que constrangem os indivíduos a pensar de modo determinado. O homem só é homem quando se situar aí. E estas leis podem se estudar no plano do discurso: “Não pretendemos mostrar como os homens pensam nos mitos, mas como os mitos se pensam nos homens, e sem que eles o saibam. E talvez, como já sugerimos, convém ir além, abstraindo qualquer sujeito para considerar que, de um certo modo. os mitos se pensam entre si”.
Pode-se notar que na teorização feita por Greimas e na obra de Lévi-Strauss não há uma dupla articulação entre os códigos sensível e inteligível (segunda e primeira articulações). E sabendo-se que a Linguística se constrói inteiramente — depois do Estruturalismo de Praga — a partir desta dicotomia, pode-se duvidar da aplicação completa dos métodos linguísticos na Semântica. (Chaim Katz – DCC)
Uma semântica estuda a relação de significação, que vincula os termos de uma linguagem-objeto a seu sentido. [Ladrière]