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Sire: visão de mundo

quarta-feira 11 de março de 2020, por Cardoso de Castro

  

nossa tradução

Uma visão de mundo [Weltanschauung] é um conjunto de pressupostos (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que mantemos (consciente ou inconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a composição básica do nosso mundo.

A primeira coisa que todos nós reconhecemos antes mesmo de começar a pensar é que algo existe. Em outras palavras, todas as visões de mundo assumem que algo é/está aí e não que nada é/está aí. Essa suposição é tão primária que a maioria de nós nem sabe que a está assumindo. Consideramos óbvio demais para mencionar. Claro que algo é/está aí!

De fato é. E esse é exatamente o ponto. Se não reconhecermos isso, não chegaremos a lugar algum. Ainda assim, como em muitos outros "fatos" simples que nos encaram, o significado pode ser tremendo. Nesse caso, a apreensão de que algo é/está aí está no início da vida consciente - bem como em dois ramos da filosofia: metafísica (o estudo do ser) e epistemologia (o estudo do conhecimento).

O que descobrimos rapidamente, porém, é que, uma vez que reconhecemos que algo é/está aí, não necessariamente reconhecemos o que isto é. E é aqui que as visões de mundo começam a divergir. Algumas pessoas assumem (com ou sem pensar nisso) que a única substância básica que existe é a matéria. Para eles, tudo é basicamente uma coisa. Outros concordam que tudo é, em última análise, uma coisa, mas assumem que uma coisa é espírito ou alma ou alguma substância não material.

Mas não devemos nos perder em exemplos. Agora estamos preocupados com a definição de uma visão de mundo como tal. Uma visão de mundo é composta por uma série de pressupostos básicos, mais ou menos consistentes entre si, mais ou menos mantidos conscientemente, mais ou menos verdadeiros. Esses pressupostos geralmente são inquestionáveis por cada um de nós, raramente mencionados por nossos amigos, e apenas são lembrados quando somos desafiados por um estrangeiro de outro universo ideológico.

Sete perguntas básicas

Outra maneira de entender o que é uma visão de mundo é vê-la como nossas respostas essenciais e fundamentais às sete perguntas a seguir:

O que é a realidade primordial - o realmente real? Para isso, podemos responder Deus, ou os deuses, ou o cosmos material.

Qual é a natureza da realidade externa, isto é, o mundo à nossa volta? Aqui, nossas respostas apontam se vemos o mundo como criado ou autônomo, como caótico ou ordenado, como matéria ou espírito, ou se enfatizamos nosso relacionamento pessoal e subjetivo com o mundo ou sua objetividade à parte.

O que é um ser humano? Para isso, poderíamos responder uma máquina altamente complexa, um deus adormecido, uma pessoa feita à imagem de Deus, um "macaco nu".

O que acontece com as pessoas na morte? Aqui, podemos responder extinção pessoal, ou transformação para um estado superior, ou reencarnação ou partida para uma existência sombria no "outro lado".

Por que é possível saber alguma coisa? Exemplos de respostas incluem a ideia de que somos criados à imagem de um Deus onisciente ou que a consciência e a racionalidade se desenvolveram sob as contingências da sobrevivência em um longo processo de evolução.

Como sabemos o que é certo e errado? Novamente, talvez sejamos feitos à imagem de um Deus cujo caráter é bom; ou certo e errado são determinados apenas pela escolha humana ou pelo que é bom; ou as noções simplesmente se desenvolveram sob um impulso para a sobrevivência cultural ou física.

Qual é o significado da história humana? A isso podemos responder, realizar os propósitos de Deus ou dos deuses, criar um paraíso na terra, preparar um povo para uma vida em comunidade com um Deus amoroso e santo, e assim por diante.

Dentro de várias visões básicas do mundo, outras questões frequentemente surgem. Por exemplo: quem está no comando deste mundo - Deus, ou humanos, ou ninguém? Somos seres humanos determinados ou livres? Somos sozinhos os criadores de valores? Deus é realmente bom? Deus é pessoal ou impessoal? Deus existe mesmo?

Quando afirmadas em uma tal sequência, essas perguntas confundem a mente. Ou as respostas são óbvias para nós e nos perguntamos por que alguém se daria ao trabalho de fazer essas perguntas, ou então nos perguntamos como alguma delas pode ser respondida com alguma certeza. Se achamos que as respostas são óbvias demais para serem consideradas, temos uma visão de mundo, mas não temos ideia de que muitos outros não a compartilhem. Devemos perceber que vivemos em um mundo pluralista. O que é óbvio para nós pode ser "uma mentira do inferno" para o nosso vizinho do lado. Se não reconhecermos isso, certamente somos ingênuos e provinciais e temos muito a aprender sobre como viver no mundo de hoje. Como alternativa, se sentimos que nenhuma das perguntas pode ser respondida sem trapacear ou cometer suicídio intelectual, já adotamos uma espécie de visão de mundo - uma forma de ceticismo que, em sua forma extrema, leva ao niilismo.

O fato é que não podemos deixar de assumir algumas respostas para tais perguntas. Adotaremos uma posição ou outra. Recusar-se a adotar uma visão de mundo explícita acabará sendo uma visão de mundo ela mesma, ou, pelo menos, uma posição filosófica. Em suma, estamos confiscados [por uma visão de mundo]. Enquanto vivermos, viveremos seja a vida examinada ou a não examinada.

Original

A worldview is a set of presuppositions (assumptions which may be true, partially true or entirely false) which we hold (consciously or subconsciously, consistently or inconsistently) about the basic makeup of our world.

The first thing every one of us recognizes before we even begin to think at all is that something exists. In other words, all worldviews assume that something is there rather than that nothing is there. This assumption is so primary most of us don’t even know we are assuming it.5 We take it as too obvious to mention. Of course something is there!

Indeed it is. And that’s just the point. If we do not recognize that, we get nowhere. Still, as with many other simple “facts” that stare us in the face, the significance may be tremendous. In this case the apprehension that something is there is the beginning of conscious life—as well as of two branches of philosophy: metaphysics (the study of being) and epistemology (the study of knowing).

What we discover quickly, however, is that once we have recognized that something is there, we have not necessarily recognized what that something is. And here is where worldviews begin to diverge. Some people assume (with or without thinking about it) that the only basic substance that exists is matter. For them, everything is ultimately one thing. Others agree that everything is ultimately one thing but assume that that one thing is spirit or soul or some such nonmaterial substance.

But we must not get lost in examples. We are now concerned with the definition of a worldview as such. A worldview is composed of a number of basic presuppositions, more or less consistent with each other, more or less consciously held, more or less true. These presuppositions are generally unquestioned by each of us, rarely if ever mentioned by our friends, and brought to mind only when we are challenged by a foreigner from another ideological universe.

Seven Basic Questions

Another way to get at what a worldview is is to see it as our essential, rock-bottom answers to the following seven questions:

What is prime reality—the really real? To this we might answer God, or the gods, or the material cosmos.

What is the nature of external reality, that is, the world around us? Here our answers point to whether we see the world as created or autonomous, as chaotic or orderly, as matter or spirit, or whether we emphasize our subjective, personal relationship to the world or its objectivity apart from us.

What is a human being? To this we might answer a highly complex machine, a sleeping god, a person made in the image of God, a “naked ape.”

What happens to persons at death? Here we might reply personal extinction, or transformation to a higher state, or reincarnation, or departure to a shadowy existence on “the other side.”

Why is it possible to know anything at all? Sample answers include the idea that we are made in the image of an all-knowing God or that consciousness and rationality developed under the contingencies of survival in a long process of evolution.

How do we know what is right and wrong? Again, perhaps we are made in the image of a God whose character is good; or right and wrong are determined by human choice alone or what feels good; or the notions simply developed under an impetus toward cultural or physical survival.

What is the meaning of human history? To this we might answer, to realize the purposes of God or the gods, to make a paradise on earth, to prepare a people for a life in community with a loving and holy God, and so forth.

Within various basic worldviews other issues often arise. For example: Who is in charge of this world—God, or humans, or no one at all? Are we human beings determined or free? Are we alone the maker of values? Is God really good? Is God personal or impersonal? Does God exist at all?

When stated in such a sequence, these questions boggle the mind. Either the answers are obvious to us and we wonder why anyone would bother to ask such questions, or else we wonder how any of them can be answered with any certainty. If we feel the answers are too obvious to consider, then we have a worldview but have no idea that many others do not share it. We should realize that we live in a pluralistic world. What is obvious to us may be “a lie from hell” to our neighbor next door. If we do not recognize that, we are certainly naive and provincial, and we have much to learn about living in today’s world. Alternatively, if we feel that none of the questions can be answered without cheating or committing intellectual suicide, we have already adopted a sort of worldview—a form of skepticism that in its extreme form leads to nihilism.

The fact is that we cannot avoid assuming some answers to such questions. We will adopt either one stance or another. Refusing to adopt an explicit worldview will turn out to be itself a worldview or at least a philosophic position. In short, we are caught. So long as we live, we will live either the examined or the unexamined life.


Ver online : Naming the Elephant. Worldview as a Concept.