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Molder (1995:354-356) – Manifestation, Erscheinung, Phänomen, Urphänomen

terça-feira 6 de junho de 2023, por Cardoso de Castro

  

Tudo o que é aparece, mostrando-se e significando-se a si próprio, esta é, como sabemos, a convicção primeira sobre a qual repousa a possibilidade de uma Morfologia e do pensamento morfológico em geral. Aquilo que aparece é designado nos escritos de Goethe   por diferentes termos, que implicam diversos níveis de integração, de graduações do aparecer, múltiplos modos de ser. Enumeremos esses termos: Manifestation, Erscheinung, Phänomen, Urphänomen. [354]

Manifestation e Erscheinung são empregues como sinónimos absolutos e significam a existência enquanto se dá, imediatamente, na sua expressividade irradiante [1]. Com estes termos, Goethe acentua o acontecimento do aparecer na sua expressividade e inesgotabilidade, o acontecimento como epifania. Quer um termo, quer outro dão conta da diversidade infinita (Was in die Erscheinung tritt, muss sich trennen, um zu erscheinen), e envolvem a ideia de uma dinâmica relacional, porque o que aparece, ο que se manifesta, manifesta-se a alguém e manifesta alguma coisa, significando-se; a sua estrutura é a de uma fulguratio, o que implica a concepção de um movimento de intencionalidade a ela inerente, uma forma de revelação intensiva, na medida em que o que aparece é expressão de uma ideia ou a figura particular de um fenômeno de ordem superior. Dito de outro modo, in die Erscheinung treten revela o aparecer como auto-apresentação e aponta mesmo para o ponto mais elevado a que um ser chega, o alcance mais pleno da sua visibilidade, propriamente falando o seu brilho, daí que necessariamente associados ao conceito de Erscheinung estejam os de Steigerung e de Entelechie: a beleza no ser humano declara-se, no momento em que ele verdadeiramente in die Erscheinung tritt (em contrapartida, a velhice é qualificada como Zurücktreten aus der Erscheinung); a flor no decorrer do crescimento da planta é o momento em que a planta in die Erscheinung tritt, i. e., o momento da plenitude e da sua exibição pura (sendo o fruto o ponto em que se inicia o retrocesso, a reserva, o recuo perante a manifestação). A natureza na sua totalidade é pensada como abundância de Manifestationen, de Erscheinungen.

Ainda que algumas vezes o termo Phänomen seja utilizado com a mesma compreensão de Manifestation ou Erscheinung, como acontece na Máxima 590: «Diz-se muito acertadamente que o fenômeno [das Phänomen] é uma consequência sem motivo, um efeito sem causa», em muitos outros casos, em particular nas investigações sobre a cor, o seu sentido não é equivalente. Esta diferença é expressivamente enunciada num texto intitulado «Schema der Farbenlehre», preparatório da Teoria das Cores, texto onde o termo Erscheinung recebe, aliás, uma qualificação restritiva, mais abstracta, sendo tomado como uma designação geral daquilo de que nos apercebemos sem disso termos plena certeza, correspondente a uma [355] percepção vaga falsamente englobante, uma vista de olhos, por assim dizer. É um modo de falar de Erscheinung, como o indeterminado aparecer, por conseguinte o correlato de uma apreensão incerta. A sua transformação em Phänomen implica justamente uma orientação perceptiva determinada, a que compete uma especificação do carácter da manifestação, da Erscheinung, derivada de uma compreensão das condições do aparecer em relação a certas formas restritas de aparecer, quer dizer, o Phänomen implica um seccionamento do campo da manifestação em regiões, uma ordem redutiva, determinativa, e uma apreensão das condições dessa ordem e, por isso, da região correspondente [2]. Sendo assim, o termo Phänomen introduz um corte no aparecer enquanto tal e delimita, reunindo sob condições precisas, manifestações particulares, por exemplo, fenômenos de halos luminosos, de contrastes cromáticos. O Phänomen envolve as ideias de ordenação, classificação, série.

No termo Urphänomen, a determinação alcança um clímax que é, ao mesmo tempo, como irá ser explicitado, um limite de determinação cognitiva (não se pode ir mais além). Trata-se de um conceito que designa uma energia generativa presente na natureza, identificando-a para casos precisos. O Urphänomen é origem do fenômeno aparecendo no fenômeno, por essa razão possui ao mesmo tempo um estatuto fenomenal e um estatuto ideal, formativo, incorporeo. O Urphänomen, o fenômeno original ou originário é a forma genética da manifestação.


Ver online : J. W. GOETHE


Leopoldina Ausgabe (1947 ss.) (2 partes, 17 volumes): LA (parte, volume, página).

Hamburger Ausgabe (1948-1966 — segue-se a reedição melhorada de 1981) (14 volumes): HA (volume, página).

Como as Maximen und Reflexionen (M.u.R.) procedem todas do volume 12 da Hamburger Ausgabe, sempre que forem citadas apenas se indicará o número respectivo e a página.


[1Exemplifique-se: Die Manifestation der Idee als des Schönen (...). Zum Schönen wird erfordet ein Gesetz, das in die Erscheinung tritt (...), M.u.R. 745-746, p. 470. (...) Alles was wir gewahr werden und wovon wir reden können, sind nur Manifestationen der Idee (...). Was man Idee nennt: das, was immer zur Erscheinung kommt (...) M.u.R. 12-13, p. 366. Neste momento, apenas se querendo mostrar a sinonímia entre Manifestation e Erscheinung, não se acrescenta a estas máximas qualquer comentário, que será apresentado, em páginas ulteriores, integrado na determinação do que seja uma ideia em Goethe. Para o texto entre parêntesis, umas linhas abaixo, a referência é: «Entwürfe in der Ordnung des Schemas» (12c «Symbolische Annäherung zum Magneten»), LA I, 3, p. 387.

[2«Manifestação [Erscheinung]: designação geral daquilo de que nos apercebemos sem inteira certeza. Fenômeno [Phänomen], uma manifestação que tem um caracter específico e que aparece uniformemente sob certas condições (...)» «Schema der Farbenlehre», LA I, 3, p. 364. Assinale-se ainda que em Die Metamorphose der Pflanzen o termo Phänomen nunca aparece; a aplicação do termo começa, com efeito, a partir dos estudos sobre a cor.