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Fernandes (SH:20-21) – filosofia analítica

quinta-feira 17 de março de 2022, por Cardoso de Castro

  

O “espírito do tempo” inclui ainda a empáfia, na maioria dos casos nonchalante, ou simplesmente condescendente (na língua do Império, patronising), de uma variedade muito influente de contra ou antifilosofia, conhecida como “filosofia analítica”. A Filosofia Analítica se caracteriza, por um lado, por pressupor, acima da autoridade da Filosofia, a autoridade da Ciência “dura” (seja a Lógica e a Matemática, seja a Física e a Biologia); e, por outro lado, por pressupor a autoridade do senso comum, que, longe de questionar, de fato procura, em “última análise”, “racionalizar”. A ideologia contrafilosófica da “filosofia analítica” tem-se expressado, historicamente, com a mesma arrogância do cientificismo, traindo com demasiada frequência seu desprezo pelos que não compartilham daquilo que não hesito em qualificar de sua cegueira para os verdadeiros problemas filosóficos. Os “analíticos” são tão “niilistas” quanto qualquer “pós-moderno” : sua atitude ontologicamente “deflacionária” se expressa emblematicamente pela frase: “As a matter of fact, for all practical purposes, there’s no fact of the matter”. (“De fato, para todos os propósitos práticos, não há nada que corresponda a esse assunto”.)

Embora não haja nada de intrinsecamente errado em argumentar hipotético-dedutivamente, inclusive complementando a argumentação com “experimentos de pensamento”, nada de errado em usar a “navalha de Ockham”, e reduzir ao absurdo a tese adversária, o uso obsessivo e exclusivo desses expedientes, numa suposta, e subserviente “imitação da ciência”, é um abuso que tem levado a “análise” à esterilidade. Por isso, dentre outras coisas, não considero os “filósofos analíticos” típicos como autênticos filósofos. São cientificistas disfarçados de filósofos.

Meu diagnóstico geral da “filosofia pós-moderna” é o seguinte: são filosofias (e filósofos!) que sucumbiram ao poder político da “Autoridade Científica” (e seus grupos terroristas), acabando ingenuamente por fazer o jogo daquela mesma “Autoridade”, seja por esnobismo, como no caso da “filosofia analítica” ; seja por adotarem o niilismo como uma “formação reativa” (perdoe o termo psicanalítico) àquela mesma “Autoridade” (objeto ambivalente de medo e desejo).

Em termos de Filosofia da Cultura, a pós-modernidade diz menos respeito ao niilismo que ao medo, o terror provocado pelo niilismo e o desejo de ter um lugar ao sol na ideologia iluminista, essa ideologia tão pouco... “iluminada”. A etiologia profunda dessa doença da cultura (mesmo no caso dos “analíticos” ) é simplesmente... a não-compreensão da Ciência. O problema geral é de ignorância, pura e simples.


Ver online : Sergio L. C. Fernandes