Página inicial > Modernidade > Gilles Louis René Deleuze > Deleuze (Espinosa) – affectio e affectus

Deleuze (Espinosa) – affectio e affectus

quarta-feira 9 de fevereiro de 2022, por Cardoso de Castro

  

Hoje faremos uma pausa em nosso trabalho sobre a variação contínua, e voltaremos provisoriamente, por uma sessão, à História da Filosofia, sobre um ponto muito preciso. É como um corte, pedido por alguns de vocês. Esse ponto muito preciso concerne a isto: o que é uma Ideia e o que é um Afeto em Spinoza  ? Ideia e Afeto em Spinoza. No decorrer de março, a pedido de alguns de vocês, também faremos um corte sobre o problema da síntese, e o problema do tempo em Kant  .

Experimento um curioso efeito ao voltar à história. Quisera que vocês tomassem este corte da História da Filosofia como uma história literal. Apesar de tudo, um filósofo não é somente alguém que inventa noções, talvez ele também invente maneiras de perceber. Procedo quase enumerativamente. Começo, sobretudo, por observações terminológicas. Suponho que a sala está relativamente misturada. Eu creio que, de todos os filósofos que a História da Filosofia nos fala, Spinoza está numa situação muito excepcional: a maneira pela qual ele toca aqueles que entram em seus livros não tem equivalente.

Pouco importa que o tenham lido ou não, eu conto uma história. Eu começo pelas advertências terminológicas. No livro principal de Spinoza, que se chama Ética, escrito em latim, encontram-se duas palavras: affectio e affectus. Alguns tradutores muito estranhamente as traduzem da mesma maneira. O que é uma catástrofe. Traduzem os dois termos affectio e affectus por afecção. Eu digo que é uma catástrofe, porque, quando um filósofo emprega duas palavras é que, por princípio, tem uma razão; ainda mais quando o francês nos dá facilmente as duas palavras que correspondem rigorosamente a affectio e affectus, que são: afecção para affectio e afeto para affectus. Alguns tradutores traduzem affectio por afecção e affectus por sentimento; é melhor do que traduzi-las com a mesma palavra, mas eu não vejo a necessidade de recorrer à palavra sentimento quando o francês dispõe da palavra afeto [1].

Então, quando emprego a palavra afeto isso remete ao affectus de Spinoza; quando digo a palavra afecção, esta remete a affectio.


Ver online : Gilles Deleuze


[1NT: Em português também temos as duas palavras: afecção (affectio) e afeto (affectus).