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De Libera (AS:34-36) – o sujeito "aristotélico" (hypokeimenon)

segunda-feira 31 de janeiro de 2022, por Cardoso de Castro

  

Portanto, é com “velhos termos” que apresentaremos a tese mais geral desse nascimento do sujeito: nossa proposta é mostrar que o “sujeito” aristotélico se tornou o sujeito-agente dos modernos tornando-se “supósito” de atos e de operações. Visto que Descartes   não teve um papel decisivo no caso, não é de se surpreender tampouco que o “sujeito cartesiano” seja, se não humilhado, pelo menos subordinado à figura leibniziana do “supósito de ações”, herdada da Idade Média e da Segunda Escolástica, e que se dê uma atenção particular aos princípios escolásticos que, fundando a transformação do antes sujeito de inerência em sujeito atuante, valem aos nossos olhos como regras de passagem de uma formação discursiva a outra [v. tradição]. Certos princípios ou teoremas escolásticos micrológicos funcionaram no nível macro-histórico como operadores de mudança epistêmica. São eles que é preciso “traçar”, assim como as teses que argumentam, se a intenção é ao mesmo tempo reconstituir as “etapas” ou “épocas” da história do sujeito no quadro geral da “história do ser”, suas mutações de fundo, de outro modo inaparentes ou mascaradas pela narrativa historiográfica, e por aí mesmo desfazer ou, por que não?, “desconstruir” os encadeamentos padrão de tal narrativa. Daí o interesse voltado aqui à arqueologia de um princípio como Actiones sunt suppositorum, “as ações são dos supósitos”, assinalando a emergência do sujeito como supósito, e reequilibrando a história do sujeito por um deslocamento do “sujeito cartesiano” ao sujeito leibniziano. Daí também a importância dada aos avatares da hipóstase e da [47] pessoa trinitários, ausentes de um cenário heideggeriano que acentua, mais do que é preciso, as diferenças entre disciplinas – filosofia e teologia – ou entre “correntes” filosóficas cristalizadas entre os “ismos” – aristotelismo e (neo)platonismo  ). [LiberaAS  :47]


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