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teocracia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Apercebe-se que três coisas se mantêm estreitamente: 1) um estado espiritual e intelectual primordial (estado edênico ou estado de iluminação sobrenatural), que foi encoberto pela ocultação, que se trata para o homem de reencontrar; 2) uma tradição primordial relativa a este estado — tradição que desvela a realidade dele e guia para ele o pensamento humano; 3) um grupamento humano que conserva intacta esta tradição e se esforça de fazê-la conhecer graças ao ritual iniciático.

É somente nos povos de pastoreio nômade que a tradição primordial conseguiu se manter senão completa, pelo menos pura. É por conseguinte nestes povos somente que o estado primordial pôde ser verdadeiramente discernido e que o esforço civilizador pôde se produzir; a civilização, com efeito, tem por fundamento essencial a necessidade de reencontrar o estado inicial, e ela pode se definir, quando se vê em sua essência, no retorno para o Éden. O encaminhamento da humanidade no espaço e no tempo nada foi de diferente senão um encaminhamento para o jardim perdido; desde o primeiro segundo da marcha, o homem não teve senão uma meta: subir a encosta que acabara de descer: reganhar o alto da montanha, em baixo da qual tinha escorregado; reencontrar, nos picos, a luz que acabava de se velar. Todavia, somente certos elementos da cultura pastoral conseguiram manter esta meta distintamente sob o olhar dos homens.

O grupamento superior quem neste ciclo, tomou em mãos a salvaguarda da tradição civilizadora foi a organização teocrática, cuja antiguidade fez os deuses, e que a Bíblia menciona sob o nome de Filho de Deus. Este agrupamento porta também, por outro lado, o mesmo nome que o radiante - universo radiante do qual perpetua a ideia: a Agarttha é sua designação mais recente. Anteriormente era o Paradesha (Cantão Superior), palavra idêntica ao Pardes caldaico e ao Paraíso. Mais para o passado ainda, era Tula, da qual os gregos fizeram Thule. Esta Tula, indicada por René Guénon no Rei do Mundo, «era verdadeiramente idêntica à primeira Ilha dos Quatro Mestres.

Assim é que insistimos em várias ocasiões sobre esta identidade da teocracia antiga com aqueles que toda a antiguidade conheceu sob a denominação dos deuses, e que, segundo a unanimidade das tradições, governaram a terra antes que o poder caísse nas mãos dos «homens» (esta evolução assinala a transformação progressiva da sociedade primitivamente religiosa, em sociedade civil). Os deuses foram, em seu princípio, homens de carne e osso, que se elevaram a um titulatura divina, e que se revestiam de despojos (mais tarde máscaras) ou folhagens sacralizantes. O pior erro da mitologia é de imaginar que, desde o início, os deuses foram seres de sonho, moldados pela imaginação.