Filosofia – Pensadores e Obras

metáfora

(do gr. metaphora, transporte), expressão simbólica que consiste em exprimir o sentido de uma coisa através de uma imagem. — Bergson pensava que, sendo de natureza intuitiva toda a compreensão das realidades espirituais e vitais, a linguagem que as exprime só podia ser metafórica. Justificava assim a própria forma de sua língua e de sua filosofia. [Larousse]


Sua identificação e importância já são reconhecidas na antiguidade clássica. Aristóteles assim a definia: “A metáfora consiste em aplicar a uma coisa uma palavra pertencente a algo distinto”. Tratava-se de uma caracterização descritiva e considerava o fenômeno como isolado, absoluto em suas linhas. A metáfora era tomada como uma figura, entre muitas, da linguagem. Ela assim continuou a ser tratada tanto nas retóricas medievais, quanto ainda nos estudos do século passado. Algumas vezes, os conceituadores captavam aspecto de suma relevância, como, no século VIII, de Vendóme, que, a seu respeito, falava em “usurpata translado”. Os pressupostos antigos de sua apreensão, contudo, continuavam intactos. Só a partir do início do século XX, a princípio por pequenos artigos voltados à identificação de traços metonímicos (1919, 1927, 1933, 1935), depois de modo mais sistemático (1956), o linguista russo Roman Jakobson veio a dar nova substancialidade ao estudo. Sua identificação deixa de ser descritiva, isolada e gramatical para ser descoberta em nível subjacente, estrutural e relacionista. A metáfora é de então tomada em relação com a metonímia, cujo conjunto é mostrado como um dos pólos básicos de emprego do código verbal. Para tanto, foram decisivas as pesquisas do autor acerca do problema da linguagem nas perturbações afásicas (Kinder sprache Aphasie und Allgemeine Lautgesetze, 1942). Tais estudos mostraram que a afasia afeta ou a capacidade de selecionar ou a de combinar os vocábulos na frase (veja eixo da seleção). De conformidade com a área afetada, o paciente se mostra incapaz, respectivamente, de utilizar ou as relações de similaridade ou as de contiguidade. Por fim, no primeiro caso resulta o desaparecimento da capacidade do uso da metáfora e, no segundo, do uso da metonímia.

Metáfora e metonímia são, assim, as expressões mais condensadas dos processos desenvolvidos sob as relações de similaridade e de contiguidade. Ou ainda, são os resultados explícitos de démarches inconscientes, ancorados nos dois eixos básicos presentes no código expressional humano, verbal ou não verbal.

Para chegar a esta conclusão, porém, Jakobson lançou mão de outras provas. Com o par, distinguiu expressões historicamente datadas ( o romantismo, o cubismo, o cinema de Chaplin são prevalentemente metafóricos, enquanto o realismo, o cinema de Griffith, prevalentemente metonímicos), identificou direções tendenciais (a poesia tende para o metafórico, assim como a prosa tende para o metonímico) e, de maneira mais decisiva, descobriu que seu par de procedimentos opositivos subjazia aos princípios que comandam os ritos mágicos, que, segundo Frazer, seriam de dois tipos (e apenas): “as encantações repousando na lei da similaridade e as fundadas na associação por contiguidade”.

De posse do achado, que acima sintetizamos, pode-se dizer que Jakobson da identificação da relação opositiva metáfora — metonímia, revela uma das estruturas elementares da linguagem, a qual, por sua vez, conduz à descoberta da mais elementar de todas as estruturas da linguagem: a formada pelos eixos da seleção e da combinação. Metáfora e metonímia, portanto, são alternativas elementares à escolha do falante. No discurso comum, os dois usos se equilibram de maneira aleatória. No discurso organizado, tanto da prosa quanto da poesia, ao invés, sob o peso de coerções internas das formas preferidas (as tendências opostas da prosa e da poesia), de coerções histórico-sociais e, simultaneamente, individuais, o uso deste/daquele recurso se torna tendencialmente dominante. Se ao autor cabe o mérito de haver descoberto a inserção profunda do par analisado, já o estudo da dominância de um ou outro recurso na expressão tensa (discurso organizado) permaneceu em estado de simples esboço. O próprio Jakobson anteriormente escrevera: “A história literária está intimamente ligada às outras “séries” históricas. Cada uma dessas séries é caracterizada por leis estruturais próprias. Fora do estudo destas leis, é impossível estabelecer conexões entre a “série” literária e os outros conjuntos de fenômenos culturais. Estudar o sistema dos sistemas, ignorando as leis internas de cada sistema individual, seria cometer um grave erro metodológico. Com esta postulação se impugna tanto uma abordagem sociologista — contra cujos defeitos o próprio autor tem chamado a atenção — quanto uma abordagem de mecanismo linguístico — contra o qual os estudos de comunicação devem estar também atentos. (Luiz Carlos Lima – DCC).