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material
quinta-feira 25 de janeiro de 2024
Aquilo em que consiste uma coisa? natural? é a sua natureza?. Aquilo, porém, em que consiste um ente técnico (άπο τέχνης) é uma determinidade acidental [F 193a19] e não essencial [F 193a31]. Que uma casa consista naquilo de que ela é feita: de pedra, ou, uma cama, de madeira, não faz desses objetos naturais. A pedra e a madeira são, porém, entes naturais, já aí desde sempre à mão. Eles são feitos do seu próprio material?, sendo aquilo que são. Por esse motivo o material de que são constituídos por natureza é a sua estrutura? fundamental. Determina-os de uma forma? essencial. O fato?, porém, de ser? esse o material de que uma cama é feita é um acaso. Não podemos dizer que é a cama enquanto cama que detém em si «o princípio do movimento?», nem «o princípio da sua fabricação», nem tão-pouco uma «qualquer tendência para a transformação» [1].
«A ‘matéria’ é chamada ‘natureza’ por ser capaz de a acolher, e assim também, [por ser capaz de acolher] os processos de passar a ser, de crescer, uma vez que são movimentações (κινήσεις) [2] que provêm dela. O princípio que dá origem? a essas movimentações (do passar a ser e do crescer) é a natureza que inere nos entes naturais de algum modo?, tanto como possibilidade? como no termo? do processo efetivamente concluído» [MF , 1015a16-19]. Anatureza (φύσις) é também aquilo de que algo é feito porque é nessa estrutura que inere o princípio de onde provêm os processos que trazem algo à existência ou fazem algo ser, e que permitem também assegurar a sua permanência. «A natureza é aquilo de que qualquer dos entes por natureza são primariamente feitos ou vêm à existência, e que é sem forma e inalterável a partir da sua própria potencialidade» [3], como o cobre, a madeira e os outros materiais de que as coisas? são feitas [MF, 1014b29-32]. Cada um dos materiais de que cada coisa é feita é sustentado pela «matéria-prima que permanece conservada» [MF, 1014b32] em todas as coisas, enqunto sendo o fundamento? último onde enraízam os mais diversos materiais. «Por isso, alguns chamam aos elementos? (τὰ στοιχεία) das coisas que são por natureza ‘a natureza’, uns o fogo?, outros a terra?, outros o ar, outros a água, e outros ainda dizem que é qualquer coisa deste gênero; outros, por fim?, todas as coisas deste gênero» [4]. [CaeiroArete:286-287]
Observações
[1] É verdade que uma cama se deteriora e se transforma com o tempo, mas isso só acontece por causa da natureza do material de que ela é feita. Uma cama enquanto cama não é determinada na sua essência por aquilo de que é feita mas por aquilo que dá completude à sua possibilidade. A possibilidade que uma cama detém é o seu uso, isto é, aquilo em vista do qual ela é.
[2] Para a tradução de κίνησις por «processo de alteração», cf. Μ. T. Liske, «Kinesis und Energeia bei Aristoteles», Phron., XXXVI/2,1991, pp. 161-178: «Da diese Möglichkeit bei ‘(sich) verändern’ ganz entsprechend gegeben ist, möchte ich ‘κίνησις’ als Veränderungsprozess (e. n.) übersetzen» (p. 161).
[3] MF, 1014b27-29. Cf. «para a compreensão do sentido de ῥυθμός-ἀρρυθμιστός, Robert Renehan, «The Derivation of ῥυθμός», CP, 1963,58, pp. 36-37: «the original meaning of ρυύμός requires a root which contains some such notion as ‘holding’ or ‘limiting’», portanto, «its original meaning will then be ‘the manner in which a thing is held together’, ‘form’, ‘disposition’» (p. 37).
[4] MF, 1014b33-34. Estes são os elementos de cada coisa pode ser constiuída, o que subjaz a cada ente particular e individual e que assim lhe permite estar aí à disposição numa permanência continuada. «Tudo isto é uma substância; um certo substrato. A natureza é sempre num substrato e são por natureza todas as determinidades essenciais de um substrato» (MF, 192b32-34).