Referimo-nos aos termos unívocos no artigo analogia. Aqui referir-nos-emos à doutrina da univocidade do ser Em João Duns Escoto. Na origem da noção de unívoco encontra-se a de sinônimo. Assim como se pode falar de coisas sinônimas, pode falar-se de coisas unívocas, mas como as coisas chamadas unívocas são aquelas às quais pode aplicar-se o mesmo termo com um significado completamente semelhante, passou-se a chamar unívoco ao termo que pode aplicar-se a duas ou mais coisas no sentido mencionado. Segundo os escolásticos, os termos específicos e genéricos são unívocos. Por exemplo, o termo animal, que se aplica no mesmo sentido a todos e cada um dos membros da classe dos animais. A possível objecção a este emprego – por exemplo, que animal se aplica noutro sentido em frases tais como “fulano de tal é um animal”, onde animal equivale a grosseiro, bruto, etc. – Pode ser feita dizendo que em tal caso animal tem um significado diferente do termo específico animal como ser biológico e que, portanto, se viola com isso a regra segundo a qual o termo deve ser aplicado, para ser unívoco, num sentido completamente semelhante.
Além destes termos, que os escolásticos chamaram unívocos universais e que não colocaram demasiados problemas, distinguiram-se termos unívocos transcendentais, tais como ser, que aplicam a uma espécie de coisas ou à espécie de todas as coisas. Quando isto sucede, põe-se o seguinte problema: é o ser, enquanto ser, unívoco? Quase todos os escolásticos responderam negativamente. Uma a excepção foi João Duns Escoto, que se opôs à analogia do ser. Salientou-se, no entanto, que o ser de que Duns fala é o ser concebido como uma essência tomada em si mesma e da qual só pode predicar-se que é; em contrapartida, o ser de que S. Tomás falava ao declará-lo análogo é um ser não inteiramente indiferente às determinações lógicas do pensamento, mesmo quando ainda não tenha sido determinado por este. Precisada assim a questão, pode dizer-se que Duns declarou que o ser da essência dos seres singulares pode ser análogo, mas que o ser da essência, como tal, é unívoco. A univocidade, portanto, é um estado metafísico do ser. [Ferrater]
(do lat. tardio univocus)
Termo que possui um único significado, que se aplica da mesma maneira a tudo a que se refere. Correspondência entre dois elementos que se dá de uma única maneira. “O termo substância não é unívoco em relação a Deus e às criaturas ou seja, não há nenhum sentido dessa palavra que possamos conceber distintamente como correspondendo a Deus e às criaturas” (Descartes, Princípios da filosofia). A filosofia se recusa a recorrer a uma linguagem inteiramente fabricada. Considera importante precisar se um termo ou um conceito, aplicado a objetos diferentes, guarda sempre o mesmo sentido (diz-se, então, que ele é unívoco) ou se ele muda de sentido (diz-se que é equívoco ou analógico). Por exemplo: aplicado a Deus e às criaturas, o conceito de ser guarda sempre o mesmo sentido: é unívoco; mas o conceito de seré equívoco se o conceito de ser aplicado a Deus e o conceito de ser aplicado às criaturas forem dois conceitos diferentes; o conceito de seré analógico se, quando o aplicamos a Deus e às criaturas, muda de sentido, embora não tenhamos dois conceitos distintos. [Japiassu]