(gr. eis; lat. Unus; in. One; fr. Un; al. Ein; it. Uno).
1. O elemento de um conjunto ou de uma classe qualquer, como quando se diz “O homem é um animal”. Nesse aspecto, diz-se que uma relação é de muitos para um, se para cada x do seu campo houver um só y que tenha relação com x. Fala-se que a relação é de um para muitos se para cada y dominante inverso do seu campo houver um único x que tenha relação com y. Afirma-se finalmente que a relação é de um para um se ela e o seu inverso forem de um para muitos e de muitos para um. Nesse caso fala-se também de uma correspondência de um para um. (A. Church, Introduction to Mathematical Logic, pp. 556, 564).
2. O que é único, como quando se diz “Deus é Uno” (v. único).
3. A unidade no sentido próprio do termo (v. unidade).
4. O número um, ou seja, o primeiro termo da série natural dos números ou, em geral, o primeiro termo de uma série qualquer.
5. O Uno hipostático ou teológico: Deus ou o Bem como primeiro termo do processo de emanação e último termo do processo do retorno. Nesse sentido Heráclito dizia “de todas as coisas o Uno, e do Uno todas as coisas” (Fr. 10 Diels; cf. Empédocles, Fr. 17, I). Mas foram principalmente os neoplatônicos que usaram esse termo para designar a divindade ou o bem, que é transcendente em relação ao ser e à inteligência, portanto, está além de qualquer multiplicidade. Plotino dizia: “É preciso que antes de todas as coisas haja alguma coisa simples e diferente de todas as coisas que vêm depois dela; ela é em si mesma, não se mistura com as que a seguem, mas pode estar de algum modo presente nas outras: esse é o Uno, não alguma coisa que seja una, mas simplesmente o Uno” (Enn., V, 4, I). Assim, a unidade do primeiro princípio deve ser entendida tão rigorosamente que o próprio nome “Uno” parece impróprio a Plotino. “Este nome U talvez só contenha a exclusão da multiplicidade. Os pitagóricos os designavam simbolicamente como Apoio, para indicar a negação de muitos. (…) Pode-se usar essa palavra para começar a indagação com uma palavra que designe a máxima simplicidade, mas afinal é preciso negar esse mesmo atributo, que não merece mais que os outros designar a natureza que não pode ser atingida pelo ouvido nem compreendida por quem a denomina, mas apenas por quem a contempla” (Ibid., V, 5, 6). Essas especulações sobre o Uno foram frequentemente retomadas pela teologia negativa e pelo panteísmo. Em Plotino e nos outros, são acompanhadas pela exaltação da função da unidade em todo o domínio do conhecer e do ser. Foi o que aconteceu nas especulações platônicas do Renascimento e também no Romantismo, que assumiu o Uno-Todo como princípio do mundo coincidente com o próprio mundo, o que se vê de modo mais explícito na filosofia da natureza de Schelling (Werke. I, III, p. 276). Hegel, por sua vez, que via concreção na unidade, via no Um abstração ou imediação e insistia na relação do Um com muitos, ilustrando-a de modo fantasioso, com o uso das noções, arbitrariamente, manipuladas, de atarraco e repulsão (Wissenschaft der Logik, I, I, seç. I, cap. III, B; trad. it., pp. 181 ss.). O conceito de Uno nesse sentido é usado com frequência tanto pelas doutrinas teístas quanto pelas panteístas. Entre os que o utilizaram de modo mais amplo e rigoroso, deve-se lembrar Piero Martinetti (La liberta, 1928, p. 490; Ragione e fede, 1942, 402), embora na especulação de Martinetti se sinta o efeito da separação radical entre Deus, como U. absoluto, e realidade empírica e multíplice, em que insistira Africano Spir (Denken und Wirklichkeit, 1873). [Abbagnano]
Diz-se que é um, o que é individual in se (em si).
1) Diz-se que é unidade a forma lógica 2) também o caráter do que é um.
O Um tem um grande papel no pitagorismo e no neopitagorismo.
Aqui, a unidade é expressão da perfeição: reduzem os pitagóricos a multiplicidade do real a uma unidade de espécie superior.
Para eles, o Um é oposição entre o limite e o ilimitado; a unidade serve de momento de tensão e, por sua vez, de aproximação de dois gêneros de realidade: 1) a que se perde no contorno do indeterminado; 2) o limite e a medida.
Para os platônicos, Um (hen), como Bem, é a culminação dá hierarquia das ideias.
Para Plotino, o Um é a hipóstase originária, a primeira e superior realidade, que tem em si mesma seu haver (distinga-se” de ter), como substância, que não se deve confundir com o Todo (conjunto das realidades).
Para Plotino, o principio é diferente do principiado (este decorre daquele).
O ser, para ele (como um) não é nenhum dos seres (entes); é anterior a todos, no duplo sentido de ser começo e de ser fundamento.
Assim Um, fonte de toda emanação, origem da Alma, não é um perpétuo fazer-se, mas um ser já feito, que representa, ao mesmo tempo, principio e recapitulação das coisas.
Os seres, que virão, ele (um) já os contém. O um é base, origem, e finalidade de tudo. É “tudo e nada”. Não é “isto” nem “aquilo”.
Em suma: o ser (ontologicamente) é um; onticamente, no devir, múltiplo (v. ontológico).
Do ser, não se pode deixar de predicar univocamente a unidade como Um (unidade perfeita).
Quando predico o ser a alguma coisa e a outras coisas, predico sempre o mesmo (univocidade do ser), mas onticamente o ser é equívoco, pois o ser deste objeto é diferente do ser daquele outro (um livro e uma estante).
A todo ente (ôntico) predico o ser. O ser deste ente, não é, como ser ontológico, diferente do ser daquele ente.
O ser é, ontologicamente, unívoco, embora onticamente, na presencialidade do devir, diferente, por isso é análogo como veremos.
A unidade também pode ser compreendida como tensão (harmonia que dá coerência, coesão aos entes).
Neste caso, temos a unidade do ente (que hibridamente é ato e potência), ou seja, a unidade imperfeita. [MFS]