Filosofia – Pensadores e Obras

Tractatus Logico-Philosophicus

Logisch-Philosophische Abhandlung (Tractatus Logico-Philosophicus) — Wittgenstein começou a desenvolver suas ideias sobre a natureza da linguagem expostas no Tractatus antes da guerra de 1914. Uma das noções centrais da obra — a ideia que proposições são “retratos” da realidade — lhe ocorreu quando servia no front oriental, no exército austríaco, em fins de 1914. Como ele mesmo expõe, haveria uma correspondência entre a estrutura da proposição e a estrutura da “realidade” análoga à existente entre uma maquete, um modelo de um prédio ou local, e este prédio ou local. O Tractatus, só escrito em agosto de 1918, num campo italiano de prisioneiros de guerra onde Wittgenstein estava detido, reflete não apenas um desenvolvimento sistemático desta noção da linguagem como representação da realidade, como também uma sua extensão para cobrir os problemas de ética e estética nos quais Wittgenstein se envolveu durante a guerra (sobretudo lendo Tolstoi e os evangelhos).

O Tractatus foi publicado, graças à intervenção de Bertrand Russell e de Johan Maynard Keynes, em 1921. Em sua versão definitiva é uma obra de grande secura de linguagem, com quase mil aforismas ordenados segundo uma rigorosa numeração decimal. O curtíssimo prefácio afirma que o autor supõe ter resolvido todos os problemas relativos à linguagem, colocando um limite à linguagem, e mostrando que o que está além deste limite é “simples bobagem”. O primeiro dos aforismas da obra é, virtualmente, intraduzível. Em termos literais seria, o mundo é tudo que é o caso. Acompanhando-se os aforismas seguintes, seria talvez possível realizarmos uma paráfrase deste primeiro aforisma, apresentando-o como, o mundo é tudo aquilo que está sendo, no momento, questão. Justifica-se tal paráfrase através das outras elucidações do que seja o mundo: o mundo é a reunião dos fatos, e não das coisas. A reunião dos fatos define o que é questão e também tudo que não é questão. O mundo seria uma união (uma soma lógica) de fatos.

A noção de mundo, para o Tractatus, se rejeita para a noção de fato. Mas o que é o fato? O que é questão, o fato, é a existência do estado-de-coisas. E o que é o estado-de-coisa-? Dentro do estado-de-coisas encontramos a “coisa”. No estado-de-coisas as coisas se ligam umas às outras como os elos de uma corrente. Wittgenstein parece construir, no Tractatus, uma hierarquia de estruturas para o mundo. A base dessa hierarquia é constituída pelos estados-de-coisas. Os estados-de-coisas determinam os fatos, que por sua vez, agregados, constituem o mundo. Mas o que são os estados-de-coisas? Os objetos existem em virtude de suas relações a outros objetos; estas relações podem ser desde uma relação funcional, uma relação de uso (prego-martelo, cadeira-almofada) até uma simples disposição espacial (como os bibelôs numa prateleira, apud Chaim Samuel Katz). A estrutura dos estados-de-coisas é dada pelas possibilidades de inter-relacionamentos que as coisas, neles existentes, possuem entre si. Mas estas possibilidades de arranjos internos não existem, efetivamente, no mundo. O que existe são os fatos, ou seja, cada um dos arranjos possíveis ao estado-de-coisas que se realiza.

Esta apresentação detalhada é necessária para que compreendamos a teoria que Wittgenstein propõe para a linguagem no Tractatus. Porque para Wittgenstein, a sentença (a proposição) vai corresponder ao estado-de-coisas. Ela vai ser “verdadeira” se o estado-de-coisas é real; ela vai ser “falsa” se o estado-de-coisas não for real. A sentença não é um retrato do fato, daquele arranjo momentâneo que tem o mundo à nossa frente em certo momento. A sentença é um retrato da possibilidade de existirem fatos — será um retrato dos estados-de-coisas. Compreende-se então que Wittgenstein afirme, o conjunto das sentenças verdadeiras é w totalidade das ciências da natureza. Mas Wittgenstein admite que a linguagem vai além da realidade, isto é, que existem sentenças às quais não corresponde a realidade ou não de nenhum estado-de-coisas. Estas sentenças (que não podem ser nem verdadeiras nem falsas) são, literalmente, bobagem pura. Para o Tractatus, elas constituem a totalidade da metafísica.

O Tractatus, sob diferentes leituras, causou uma grande impressão pouco depois de ser editado em 1921. Mas Wittgenstein, nos casos que nos são conhecidos, sistematicamente desautorizou as leituras, até abandonar, no início da década de trinta, as ideias expostas no livro, e começar a desenvolver as Investigações Filosóficas. (Francisco Doria – DCC)


O Tractatus logico philosophicus é a principal obra da chamada “1a fase” do pensamento de “Wittgenstein, publicada em 1921, trata-se na verdade da única obra que publicou em vida. Marcada pela influência de suas discussões com “Frege e “Russell acerca da natureza da “lógica e do “significado, pretende “curar” a filosofia de seus “males de linguagem”. Partindo da existência de uma correspondência entre a estrutura lógica do mundo e a estrutura formal da linguagem, redefine a atividade filosófica como a vontade de desembaraçar o pensamento das armadilhas que lhe armam a linguagem. Exerceu grande influência no “Círculo de Viena e no desenvolvimento da filosofia da linguagem na década de 30. Sustenta que a filosofia não tem como objetivo acrescentar proposições filosóficas às proposições científicas, mas elaborar a lógica de nossa linguagem a fim de que sejam eliminadas as proposições desprovidas de sentido. [Japiassu]