Filosofia – Pensadores e Obras

teoria dos objetos

(ai Gegenstandstheorie).

Foi assim que A. Meinong chamou a ciência que considera os objetos como objetos sem levar em conta suas especificações (realidade ou irrealidade, etc). Essa ciência não é a metafísica no sentido tradicional porque esta considera a totalidade dos objetos existentes, que são apenas uma pequena parte dos objetos possíveis (cf. Über Annahmen, 1902; Gegenstandstheorie, 1904; Zur Grundlegung der allgemeinen Werththeorie, 1923) (v. objetivo; objeto). [Abbagnano]


A chamada ‘teoria dos objetos’ tem sua origem na obra de Alexius von Meinong, um dos impulsionadores do gestaltismo. Para Meinong a realidade aparece imediatamente ao homem sob a forma de fenômenos, isto é, de objetos. “Objeto é tudo o que pode ser apontado pelo pensar descritivo e intencional (…); ‘objeto’ é tudo o que pode ser sujeito de um juízo, sem importar para o caso que o objeto seja real ou ideal, possível ou impossível, existente ou imaginário”.

As diversas modalidades de aparecimento do objeto são dadas no ambiente humano. O homem visa intencionalmente seus objetos de modo distinto dos animais. O ambiente não deve ser entendido em seu sentido tradicional, isto é, como algo ‘externo’ ao homem e que irá determiná-lo de modo decisivo: “Pensamos em nossos organismos como nós mesmos e em ambiente (environment) como aquilo que está fora de nós”. Ambiente é o mundo circundante (Umwelt) que o homem (e também os animais) cria sob determinadas condições, já que ele significa o mundo de acordo com um plano determinado de organização. A Umwelt humana é dada no contexto de urna cultura, ou melhor ainda, numa situação cultural. Para a perspectiva da teoria dos objetos o homem tem uma relação circular com a cultura. Desde que nasce ele é determinado por sua cultura, mas esta determinação seria mútua, pois ele cria dentro da cultura as mesmas formas que irão condicionar outros homens. O homem recebe significados culturais mas elabora-os em função de novos significados.

Dentro da chamada “sociedade industrial”, caracterizada fenomenologicamente por seu alto nível de produção e consumo, os objetos serão marcados por esta mesma estrutura. O homem é orientado no sentido de consumir objetos que terão características determinadas. Moles mostra como o objeto portador de forma é uma mensagem independente de sua materialidade. Através da serialização dos objetos (diversamente do artesanato, onde há produção de objetos únicos) o indivíduo é levado a participar de sua cultura. Por um lado o consumo de objetos significa efetivamente na afirmação de seu status social. Por outro lado, a apreensão de sua cultura (entendida aqui como conjunto de dados objetivos imediatamente postos diante da percepção) é feita através destes mesmos objetos e de seu manuseio. É através da mediação dos objetos que o indivíduo pertencente à sociedade industrial pode estabelecer uma comunicação ótima com o outro. Para ser caracterizado como tal, o objeto deve se manter num certo limite de tamanho e peso. Um navio não é um objeto, mas uma lancha pode sê-lo; um cachorro é um objeto enquanto a ameba não o é. Além disto, os objetos não se apresentam sob forma simples. 1) São feitos para serem logo substituídos por outros e 2) constituem-se em séries com determinações que podem ser estudadas até matematicamente. 1) Tome-se o caso do disco, por exemplo. Do disco de madeira ao de acetato poder-se-ia pensar que pouco mudou. A maior variação de rotação e a reprodução mais fiel do som seriam as mudanças mais visíveis Mas não é apenas isto. Se se toma o problema dos aparelhos reprodutores, vê-se que o status do indivíduo não está ligado apenas à posse de um aparelho que reproduza melhor o som mas também ao seu “conhecimento” deste aparelho (o “conhecimento” não sendo uma categoria técnica, ou científica mas o domínio de uma certa linguagem corrente). No plano do disco vê-se que a variedade de consumo é exigida permanente e plenamente pelas “paradas de sucesso” e pelos “disc-jóqueis”, o que importa em substituições. O mesmo se dá com a música erudita (talvez com tonalidades psicológicas distintas, já que seria impossível na chamada música popular uma discussão pedante e improcedente sobre as virtudes de um Furtwaengler e de um Karajan num linguajar que nada tem a ver com as potencialidades que uma obra de Beethoven, por exemplo, oferece a ambos), com o aparecimento de “divas” de toda natureza. Além destes aspectos, ver-se-ia que apareceu a “música funcional” para os locais de trabalho, os aparelhos toca-tape ou os reprodutores de fitas e que abrem outras possibilidades à audição da música. 2) Tome-se o caso de um super-mercado com auto-serviço. Alguns incorrem no erro comercial de expor juntos o conhaque “Palhinha” e o “Courvoisier”. Erro, pois pertencem a “famílias” distintas, eliminando-se mutuamente. O “Courvoisier” tem um “parentesco” com o salmão defumado ou a sardinha portuguesa, enquanto o “Palhinha” é “parente” da sardinha brasileira e da linguiça mineira. Em resumo: a sociedade industrial exige o consumo, que é feito em grande parte através dos “objetos”. Os objetos constituem-se em famílias e à medida em que um objeto se constitui ele determina outro (o aparecimento de fascículos sobre arte ou história da segunda guerra, por exemplo, implicam em seu colecionamento em encadernações especiais). Os objetos são perecíveis e varia apenas sua duração. O indivíduo é condicionado a se relacionar de determinados modos com os objetos (desejar, prezar, habituar, manter, substituir, modificar etc.) e nesta relação se coloca em jogo sua função e papel sociais. O objeto não é apenas funcional, situado na esfera de um consumo direto, mas situa-se também na esfera estética. Vende-se a função mas sempre sobre-acrescentada de suas emoções. (Chaim Katz – DCC).