Filosofia – Pensadores e Obras

teoria da relatividade

(in. Theory of relativity; fr. Théorie de la relativité; al. Relativitätstheorie; it. Teoria della relatività).

Com este termo designam-se dois corpos de doutrinas formuladas por Einstein: o primeiro em 1905 como o nome de relatividade restrita e o segundo em 1913 com o nome de relatividade geral. A relatividade restrita baseia-se no reconhecimento de que a escolha de um sistema de referências, indispensável para fazer medições, pode influenciar os resultados dessas medições; e que, não existindo um sistema de referências privilegiado (ou “absoluto”), à diferença do que julgara a física clássica, por um lado é preciso explicitar o sistema segundo o qual é feita a medição e por outro lado é necessário encontrar fórmulas de conversão que tornem válidas tais medições também em outros sistemas. A relatividade geral é substancialmente a extensão do princípio de relatividade a todos os sistemas, e não apenas aos sistemas inerciais para os quais é válida a relatividade restrita; assim, é substancialmente uma teoria que reduz a gravitação a uma deformação do contínuo quadrimensional do espaço-tempo (cf. A. Einstein, L. Infeld, The Evolution of Physics, 1938, trad. it., 1950; quanto à bibliografia, o volume dedicado a Einstein na coleção “Living Philosophers” de Schilpp, 1949).

A teoria da relatividade teve numerosas interpretações filosóficas. Uma delas é a relativista, que a entendeu como confirmação do relativismo filosófico (cf., p. ex., A. Aluotta, Relativismo, idealismo e teoria de Einstein, 1948). Outra é a idealista ou espiritualista, defendida especialmente por A. Eddington (The Nature of the Physical World, 1928; The Philosophy of Physical Science, 1939), mas na realidade a teoria da relatividade presta-se muito menos a interpretações filosóficas do que as teorias clássicas. A relatividade de que ela fala nada tem a ver com o relativismo: uma medida por certo é relativa, não ao homem nem ao sujeito cognoscente, mas ao sistema de referência, podendo também ser expressa com base em outros sistemas. Tampouco se pode dizer que a teoria da relatividade seja mais subjetivista ou idealista que a física clássica. A lição mais importante que a filosofia pode aprender com ela diz respeito ao método, e pode ser inferida das seguintes palavras de Einstein: “Para o físico, um conceito só tem valor quando é possível estabelecer se ele convém ou não. Portanto, precisamos de uma definição da simultaneidade que forneça o método para reconhecer por meio de experiências se dois relâmpagos foram simultâneos ou não. Enquanto essa condição não se realizar, eu, como físico (e também como não físico), estarei me iludindo se achar que posso atribuir significado à expressão de simultaneidade” (Uberdiespazielle und die allgemeine Relativitätstheorie, 1917, § 8; trad. it., p. 18). Essas palavras expressam a exigência geral de que, para ser válida, qualquer proposição deve poder ser confirmada ou comprovada por métodos hábeis (v. significado). [Abbagnano]


Assim se denomina a moderna teoria físico-matemática do movimento. A física antiga, chamada clássica, conhecia já um princípio de relatividade: o da mecânica. Segundo ele, em todo sistema de coordenadas de referência que se move com movimento uniforme e retilíneo em direção contrária a outro, as leis mecânicas são válidas de maneira invariável; por outras palavras: mediante processos mecânicos é impossível determinar se um corpo se encontra em estado de repouso absoluto ou de movimento retilíneo e uniforme; só se podem assinalar movimentos relativos. — Em 1905, Einstein ampliou fundamentalmente este princípio com a teoria da relatividade especial. Para suprimir a contradição a que tinham conduzido as experiências sobre o éter, estendeu também a relatividade aos fenômenos eletromagnéticos. Segundo isso, não há processo no universo que faculte determinar o absoluto repouso ou o movimento uniforme e retilíneo. O segundo princípio básico da relatividade especial, e que é também consequência das experiências do éter, é a da constância de velocidade da luz em todo sistema que se mova com movimento uniforme e retilíneo em direção contrária a outro. O cálculo matemático baseado nestes princípios levou então à relatividade do espaço e do tempo; quer dizer, as medições do espaço e do tempo mostram-se dependentes do estado de movimento do observador que realiza a medida relativamente ao objeto que deve ser medido; longitudes e tempos são mais breves para o observador em movimento do que para o que está em repouso. — A teoria da relatividade especial foi ampliada em 1916, convertendo-se em teoria da relatividade generalizada ou universal, quando se tornou extensiva também ao movimento acelerado (que inclui o da rotação). Segundo ela, é geralmente impossível determinar qualquer movimento absoluto. Para definir matematicamente o espaço, foi preciso empregar uma geometria não-euclidiana (filosofia da matemática). Recentemente (1950), Einstein formulou uma generalização ainda mais ampla da teoria, generalização que se mantém preferentemente na esfera da pura matemática. Seu valor e alcance não se enxergam ainda com nitidez.

Até o presente, as consequências da teoria experimentalmente comprováveis têm surtido exatas, e assim a teoria da relatividade tornou-se patrimônio comum dos físicos. Contudo seus assertos referem-se mais à observação e descrição da natureza do que à própria natureza. — Filosoficamente, a teoria da relatividade tem dado ensejo a muitas discussões, nas quais se tem apurado bom número de equívocos fundamentais. Em primeiro lugar, não se ensina, por forma alguma, um relativismo da verdade. Além disso, não se trata da relatividade do espaço e do tempo em sentido filosófico, mas tão-somente de uma relatividade da medida do espaço e do tempo, muito embora o modo positivista de pensar e de se exprimir de muitos físicos produza impressão diferente. Por último, não se afirma que todo movimento seja essencialmente relativo, mas que só é comprovável o movimento relativo, o qual, naturalmente, pressupõe um movimento absoluto. A consequência filosófica mais importante da teoria da relatividade consiste em saber que no conhecimento humano da natureza entram muitas hipóteses tácitas, cuja descoberta compete à epistemologia da natureza. — Junk. [Brugger]