Filosofia – Pensadores e Obras

tabela das categorias

Se esta é, pois, a clássica classificação dos juízos na lógica formal, e se o ato de julgar (v. ato de juízo) é ao mesmo tempo ato de pôr, ato de assentar a realidade, estão as diferentes variedades em que se pode apresentar a realidade estarão todas elas contidas nas diferentes formas dos juízos que acabamos de enumerar. Bastará tirar, extrair de cada uma dessas forma o do juízo a forma correspondente da realidade; obteremos — segundo Kant — a tabela das categorias. E a obteremos sistematicamente deduzida do ato mesmo de julgar, de formular juízos.
Desta maneira, teremos que os juízos individuais que afirmam de uma coisa singular, seja o que for, contém no seu seio a unidade; os juízos particulares que afirmam de várias coisas algo, contém em seu seio a pluralidade; os juízos universais contêm em seu seio a totalidade. De modo que as três formas de juízos, segundo a quantidade, dão lugar a estas três categorias: unidade, pluralidade, totalidade.

Do ponto de vista da qualidade, os juízos são: afirmativos, negativos e infinitos. Os juízos afirmativos nos dizem que uma coisa é “isto”. Teremos a categoria da essência, que Kant chama realidade, mas no sentido de essência, consistência. Assim Kant extrai dos juízos afirmativos, negativos e infinitos as três categorias de essência (que ele chama realidade, mas no sentido de essência), de negação e de limitação. O juízo infinito contém limitações, diz aquilo que algo não é, mas deixa aberto um campo infinito do que quer que seja. Não faz mais do que limitar o sujeito.

Dos juízos segundo a relação, dos juízos categóricos, hipotéticos e disjuntivos, extrai Kant as três categorias seguintes: dos juízos categóricos, a categoria de substância com o seu complemento natural de “propriedade”. Porque quando eu afirmo categoricamente que uma coisa “é isto”, considero esta coisa como uma substância, é isto que dela afirmo como uma propriedade dessa substância. Dos juízos hipotéticos extrai Kant a categoria de causalidade, de causa e efeito. Porque quando formulamos um juízo deste tipo: se A é B, ó também C, já assentamos o esquema lógico da causalidade. Se faz calor se dilatam os corpos. Dos juízos disjuntivos extrai Kant a categoria de ação recíproca,

Da quarta maneira de dividir os juízos extrai Kant as seguintes categorias: dos juízos problemáticos (A pode ser B) extrai a categoria de possibilidade; dos juízos assertórios (A é efetivamente B) extrai a categoria de existência; dos juízos apodíticos (A tem que ser B) extrai a categoria de necessidade. Temos então completa a tabela das categorias. São doze as categorias de Kant.

Que significam estas categorias? Que sentido têm? Que função desempenham? Isto é o que Kant se propõe agora elucidar na parte (2a analítica transcendental que leva o nome de dedução transcendental das categorias. Esta passagem é provavelmente a mais famosa de toda a obra de Kant. Das duas edições que fez Kant da Crítica da Razão Pura, esta passagem, que abrange grande número de páginas, foi na segunda edição completamente refeita, transformada por completo. Adverte-se muito bem, pelos esforços que custou a Kant sua redação, aquilo que hoje é bem sabido: que esta passagem constitui o núcleo essencial da Crítica da Razão Pura e é realmente a raiz mais profunda do pensamento kantiano. [Morente]