Filosofia – Pensadores e Obras

Ser e Tempo

A estrutura da questão do ser dirige o plano do tratado O Ser e o Tempo. Este compreende, ou pelo menos devia compreender, segundo o projeto inicial anunciado no princípio da obra, duas partes. A primeira parte intitula-se «A interpretação do ser-aí em direção da temporalidade e da explanação do tempo como horizonte transcendental da questão do ser». O seu fim é o de manifestar a significação temporal do ser. Esta parte articula-se ela própria em três momentos ou seções: na primeira seção: «A análise fundamental e preparatória do ser-aí», Heidegger analisará o ser-aí tal como ele é em primeiro lugar e mais habitualmente, ou seja, na sua banalidade quotidiana e ordinária. Na segunda seção: «Ser-aí e temporalidade», Heidegger inclinar-se-á sobre o ser-aí autenticamente existente e porá em evidência o sentido do seu ser como temporalidade. Com a segunda seção, a analítica existenciária propriamente dita, termina. Ela fornece a Heidegger o solo requerido para responder à questão do ser, o que constitui, ou antes devia constituir, o objeto da terceira seção, «Tempo e Ser», que nunca será publicada. Nessa seção, Heidegger devia mostrar que «aquilo a partir do qual o ser-aí pode implicitamente compreender e explicitar o ser é o tempo». Para que isso se faça «será preciso estabelecer», diz-nos ele, «uma explanação autêntica do tempo como horizonte da compreensão do ser a partir da temporalidade como ser de um ser-aí que compreende o ser».

A descoberta do sentido temporal do ser, por muito nova que seja, só tem valor, porém, porque ela é «suficientemente antiga para nos ensinar as possibilidades abertas pelos ‘Antigos’». Esta é a razão pela qual Heidegger julga necessário completar a primeira parte de O Ser e o Tempo com uma interpretação da história da Ontologia à luz da problemática da temporalidade (segunda parte do tratado). Não podendo abarcar o conjunto desta história, Heidegger limitar-se-á ao exame de três momentos particularmente significativos: a doutrina kantiana do esquematismo, a doutrina cartesiana do cogito sum como res cogitans e o tratado aristotélico sobre o tempo como índice dos limites da ontologia antiga. Estes três momentos da história da ontologia deviam ser estudados nas três seções que deveriam formar a segunda parte de O Ser e o Tempo, seções que, também elas, nunca serão publicadas. [Boutot]