Filosofia – Pensadores e Obras

Rousseau

ROUSSEAU (Jean-Jacques), escritor e filósofo francês (Genève 1712 — Ermenonville, perto de Senlis, 1778). Sua vida foi movimentada: de família francesa huguenote emigrada em 1550, perdeu a mãe quando esta o pôs no mundo; seu pai, relojoeiro, deixou-o com dez anos de idade aos cuidados do pastor Lambercier. Rousseau foge então de Genève em 1728 e passa a morar na casa de Mme. de Warens em Annecy; lacaio sem probidade, seminarista sem vocação em Annecy (1729), torna a partir para Fribourg, Genebra e Lausanne; volta a Chambéry (1732): é o delicioso período de Charmettes; parte para conquistar Paris em 1741; em 1743, segue o embaixador da França em Veneza; volta a Paris (1744); escreve em 1754, em Genève, o Discurso sobre a origem da desigualdade (1755); habita no Ermitage, na floresta de Montmorency, onde aprofunda o seu sentimento da natureza; escreve então o célebre tratado político Do contrato social (1762) e Emile (1762), romance pedagógico cuja parte religiosa fá-lo condenar ao fogo pelo Parlamento. Passa a última parte de sua vida em Ermenonville, sendo homenageado com uma sepultura no Panthéon. Rousseau foi o primeiro a despertar nos corações o sentimento propriamente romântico da natureza; seu amor por ela tinha por corolário um profundo pessimismo social: “Tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera entre as mãos do homem.” O Discurso sobre as ciências e as artes (1750), o Discurso sobre a origem da desigualdade (1755), assim como a Carta a d’Alembert sobre os espetáculos (1758) denunciam as más ações da civilização e a injustiça das relações estabelecidas entre os homens. Expõe os princípios suscetíveis de reaproximar o indivíduo da natureza, no nível da criança (Émile), do casal (A nova Heloísa), ou do cidadão (Do contrato social). Sua obra fundamental, contudo, é sobre filosofia política: o Contrato social vai muito mais longe que Montesquieu e Voltaire na defesa da liberdade e da instauração da igualdade entre os homens; seu objetivo é conciliar as liberdades individuais e as exigências da vida social, em suma, fundar uma ordem social “natural”. O Contrato social inspiraria a Declaração dos direitos do homem; contém toda a filosofia da Revolução francesa. Kant o releria sem cessar, “para ultrapassar a emoção” que a sua leitura lhe causava. A filosofia política na Alemanha (a de Kant, a filosofia do direito de Fichte etc.) foi profundamente marcada pela obra de Rousseau. [Larousse]


O primeiro eloquente explorador da intimidade e, até certo ponto, o seu teórico foi Jean-Jacques Rousseau, que, de modo bastante característico, é o único grande autor ainda citado frequentemente pelo primeiro nome. Ele chegou à sua descoberta mediante uma rebelião, não contra a opressão do Estado, mas contra a insuportável perversão do coração humano pela sociedade, contra a intrusão desta última em uma região recôndita do homem que, até então, não necessitara de proteção especial. A intimidade do coração, ao contrário do lar privado, não tem lugar objetivo e tangível no mundo, e a sociedade contra a qual ela protesta e se afirma não pode ser localizada com a mesma certeza que o espaço público. Para Rousseau, tanto o íntimo quanto o social eram, antes, formas subjetivas da existência humana, e em seu caso era como se Jean-Jacques se rebelasse contra um homem chamado Rousseau. O indivíduo moderno e seus intermináveis conflitos, sua incapacidade tanto de sentir-se à vontade na sociedade quanto de viver completamente fora dela, seus estados de espírito em constante mutação e o radical subjetivismo de sua vida emocional nasceram dessa rebelião do coração. Não resta dúvida quanto à autenticidade da descoberta de Rousseau, por mais duvidosa que seja a autenticidade do indivíduo que foi Rousseau. O surpreendente florescimento da poesia e da música, a partir de meados do século XVIII até quase o último terço do século XIX, acompanhado do surgimento do romance, a única forma de arte inteiramente social, coincidindo com um não menos impressionante declínio de todas as artes mais públicas, especialmente a arquitetura, constitui suficiente testemunho de uma estreita relação entre o social e o íntimo. [ArendtCH, 6]