Filosofia – Pensadores e Obras

paralelismo psicofísico

(in. Psychophysical parallelism; fr. Parallelisme psychophysique, al. Psychophysischer Parallelismus; it. Parallelismo psicofisicó).

Esta expressão foi inventada por Fechner (Zendavesta, II, p. 141), para designar a doutrina segundo a qual os eventos psíquicos e os físicos constituem duas séries paralelas, que não agem uns sobre os outros, mas são causalmente determinados somente pelos eventos homogêneos: os mentais pelos mentais, e os físicos pelos físicos. Essa doutrina era sugerida pela exigência (ou pelo desejo) de não submeter os eventos mentais à causalidade dos eventos físicos e pela impossibilidade de considerar estes últimos dependentes dos primeiros. Durante várias décadas, serviu de hipótese de trabalho para a psicologia experimental, em sua fase inicial de organização como ciência autônoma ou relativamente autônoma (v. psicologia). Foi, portanto, admitida e adotada por aqueles que contribuíram para os primeiros passos dessa ciência, em particular por Wundt. Este entendeu como “princípio do paralelismo psicofisico” o princípio de que “todos os conteúdos empíricos que pertencem simultaneamente à esfera de consideração mediata ou científica e à imediata ou psicológica estão em relação recíproca, porquanto cada evento elementar do campo psíquico exprime um evento correspondente no campo físico” (System der Philosophie, 2a ed., 1897, p. 602). Essa doutrina contrapunha-se, por um lado, ao monismo , que tende a reduzir os eventos mentais a eventos físicos ou, pelo menos, a submeter os eventos mentais à causalidade dos eventos físicos, e, por outro lado, ao espiritualismo , que consiste na tentativa simetricamente oposta. Por isso, foi bem aceita como hipótese de trabalho de investigações que não queriam ancorar a sua validade em nenhuma metafísica.

No período em que a doutrina do paralelismo constituiu o pressuposto da psicologia experimental e foi tema de grande número de discussões entre psicólogos e entre filósofos, alguns procuraram ligá-la a ilustres precedentes históricos; o mais óbvio desses precedentes era sem dúvida a metafísica de Spinoza. Spinoza, com efeito, dissera que “um modo da extensão e a ideia desse modo são uma e mesma coisa, expressa de duas maneiras” (Et., II, VII, Schol.), e negara a interferência da causalidade da extensão e da causalidade do pensamento, afirmando que a causa de um pensamento é sempre um pensamento e que a causa de um corpo é sempre um corpo (Ibid., III, 2), enquanto a ordem e a concatenação das coisas são sempre as mesmas (Ibid., III, 2, Schol.). Estas afirmações podiam ser interpretadas como expressão da doutrina do paralelismo, embora a intenção de Spinoza não fosse afirmar a independência causal recíproca entre fatos físicos e mentais, mas sim a sua subordinação comum à causalidade direta de Deus. A doutrina de Spinoza na verdade não é um paralelismo, mas um monismo panteísta. Aliás, a doutrina do paralelismo não deve seus sucessos à sua validade metafísica, mas, ao contrário, à limitação do compromisso metafísico que ela implicava, podendo ser aceita como hipótese de trabalho independentemente da crença monista ou espiritualista, não excluindo nem uma, nem outra. Quando a psicologia abandonou essa doutrina, ela caiu em desuso e deixou de ser tema vivo de discussão. [Abbagnano]