(in. Nominalism; fr. Nominalisme; al. Nominalismus; it. Nominalismó).
Doutrina dos filósofos nominales ou nominalistas, que constituíram uma das grandes correntes da escolástica. Os termos nominalista (nominalis) ou terminista (terminista) foram usados somente no princípio do séc. XV (v. terminismo), mas Oton de Freising, em sua crônica Gesta Friderici imperatoris (I, 47), afirmava que Roscelin fora “o primeiro em nossos tempos a propor em lógica a doutrina das palavras (sententiam vocurri)”. No princípio do séc. XII o nominalismo era defendido por Abelardo (v. universais), mas seu triunfo na escolástica foi devido à obra de Guilherme de Ockham (c. 1280-C.1349), que com razão foi chamado de Princeps Nominalium. Assim exprimia Ockham sua convicção sobre o assunto: “Nada fora da alma, nem por si nem por algo de real ou de racional que lhe seja acrescentado, de qualquer modo que seja considerado e entendido, é universal, pois é tão impossível que algo fora da alma seja de qualquer modo universal (a menos que isso se dê por convenção, como quando se considera universal a palavra ‘homem’, que é particular), quanto é impossível que o homem, segundo qualquer consideração ou qualquer ser, seja o asno” (In Sent., I, d. II, q. 7 S-T). Do ponto de vista positivo, o nominalismo admite que o universal ou conceito é um signo dotado da capacidade de ser predicado de várias coisas. O conceito já fora assim definido por Abelardo (v. disputa dos universais).
Ao traçar uma breve história do nominalismo, a propósito de Nizólio Leibniz dizia que “são nominalistas todos os que acreditam que, além das substâncias singulares, só existem os nomes puros e, portanto, eliminam a realidade das coisas abstratas e universais”; para ele, o nominalismo assim entendido começava com Roscelin, e entre os nominalistas, além do próprio Nizólio, estava também Thomas Hobbes (De stilo philosophico Nizolii, 1670, Op., ed. Erdmann, p. 69). Essas observações e inclusões de Leibniz foram aceitas pelos historiadores da filosofia.
Em época mais recente, esse termo designou a interpretação convencionalista da física: p. ex., Poincaré empregou em relação a Le Roy (La science et l’hypothèse, p. 3).
Algumas vezes os lógicos modernos usam esse termo para indicar a doutrina segundo a qual a linguagem das ciências contém apenas variáveis individuais, cujos valores são objetos concretos, e não classes, propriedades e similares (Quine, From a Logical Point of View, VI, 4 ss.; Carnap, Meaning and Necessity, § 10). [Abbagnano]
É a doutrina que não admite a existência do universal nem no mundo das coisas, nem no pensamento. O nominalismo aparece em sua forma mais radical no século XI com Roscelino de Compiègne, que atribui universalidade só aos nomes (donde, o termo “nominalismo”). Esta opinião contradiz o claro depoimento da consciência, que, além de nomes comuns, mostra, outrossim, conteúdos universais de pensamento. Importa distinguir entre a forma medieval do nominalismo e o nominalismo dos tempos modernos, também denominado sensismo. Os filósofos ingleses Berkeley, Locke, Hume, Stuart Mill e Spencer, e os alemães Wundt, Ziehen e Mach, sob o influxo de uma defeituosa análise da consciência, tomam os esquemas sensoriais como sucedâneo dos verdadeiros conceitos universais (conceito universal). O motivo disso reside no desconhecimento da abstração intelectual, única explicação da maneira como na formação dos conceitos dependemos da experiência e como, apesar disso, os conceitos universais superam a experiência. Comumente, denomina-se também nominalismo o conceptualismo do final da Idade Média, principalmente de Occam; até certo ponto há razão para isso, visto como os conceitos universais, da maneira que o conceptualismo os entende, não são mais adequados do que os esquemas sensoriais do nominalismo para a construção das ciências. — Santeler. [Brugger]
Durante a idade média, o nominalismo afirmou nas discussões sobre os universais que as espécies e os gêneros e, em geral, os universais, não são realidades exteriores às coisas, como defendia o realismo, nem realidades nas coisas, como o conceptualismo, mas são apenas nomes, termos ou vocábulos, por meio dos quais se designam coleções de indivíduos. Segundo o nominalismo, só existem pois entidades individuais, os universais não são entidades existentes, mas unicamente termos na linguagem. Ocam argumentou que admitir universais na mente de Deus era, de certo modo, limitar a omnipotência divina, e admitir universais nas coisas era supor que as coisas têm ou podem ter ideias ou modelos próprios, limitando-se também assim a omnipotência divina.
Aos nominalistas opuseram-se sobretudo os realistas, como Santo Anselmo, que qualificava os primeiros de “dialécticos da nossa época”. Os realistas não podiam admitir que o universal fosse só um vocábulo e que este se pudesse definir como um “som de percussão sensível do ar”. Não podiam admitir que um universal fosse só um sopro da voz, um som proferido. Se o universal consistisse nisso, seria uma realidade física. Nesse caso, os nomes seriam algo, uma coisa, e, como tal, dever-se-ia dizer algo dela e isto lavar-se-ia a cabo mediante o universal. [Ferrater]
Desde os gregos discutiu-se se os termos eram meras palavras, voces, ou significavam coisas, res, mas a disputa em torno destas duas compreensões assumiu grandes proporções no séc. XI. Chamou-se de nominalista a posição que aceitava que a ideia geral era apenas uma palavra. Ela distingue-se da realista, pois para estes a humanidade é uma realidade e, para o nominalista, o que é real são os indivíduos humanos. O homem é apenas um flatus vocis, uma emissão de voz. Atrás das palavras, nada há de real. Contudo estas palavras oferecem um sentido ao pensamento, e se nada tivessem de real não poderiam oferecer esse sentido. [MFSDIC]
doutrina que, na Idade Média, afirmava serem as ideias gerais apenas palavras, às quais não corresponderia nenhuma realidade no espírito. — Desde a Antiguidade, combatendo a teoria platônica das ideias, o filósofo cínico Antístenes exclamava: “Vejo o cavalo, não vejo a equinidade.” O nominalismo opunha-se então ao realismo platônico segundo o qual as “ideias” possuem uma existência e uma realidade própria, independente do espírito que as pensa. É na Idade Média, entretanto, que o nominalismo teve um considerável desenvolvimento com Roscelin (fim do século XI), que teve a audácia de aplicá-lo à teologia e de opor-se assim à verdadeira trindade, que, segundo êle, teria conduzido a um triteísmo. O nominalismo foi retomado no século XIV por Guilherme de Occam, que criticou o “realismo” das ideias gerais ou “universais”. Atualmente, a oposição tornou-se a do empirismo (Hume) e do racionalismo (Kant); o primeiro retoma os temas do nominalismo e pretende basear nosso conhecimento unicamente na experiência (sempre particular); o segundo, ao contrário, pretende baseá-lo na razão. [Larousse]