Filosofia – Pensadores e Obras

neopitagóricos

No período que vai do século I a. C. e ao II d. C, mesclam-se as doutrinas platônicas com as doutrinas do círculo pitagórico.

Entre as figuras mais importantes desse período, salientamos Nigidius Figulus, Apolonio de Tiana, Moderato de Gades.

Há, ainda, Nicômaco de Gerasa, para o qual os números pitagóricos são ideias divinas. O simbolismo da mística pitagórica chega à maturidade e culminação em todos esses representantes do neopitagorismo platonizante, que desdobram o Um em diversos conceitos da unidade, e explicam o mundo pela emanação da unidade suprema e contemplação desta unidade sobre si mesma. [MFS]


Na história grega encontramos, junto à filosofia, os movimentos da religiosidade e dos mistérios, da poesia órfica e da teologia. Nestes movimentos é que surgem as concepções da teogonia — aparecimento, em série gradual, das forças divinas partindo da obscuridade primitiva ou de uma dualidade primigênia — a transmigração das almas, o juízo dos mortos, os oráculos, as expiações e iniciações, a purificação das almas contidas no corpo mediante o ascetismo, os ritos culturais e a visão do divino e a união real da alma com a divindade. Os pitagóricos, Empédocles e Platão, acolhem na sua especulação alguns aspectos deste gênero. Mas como estas ideias sofriam a influência das do Oriente e eram afins destas, era de esperar que, com o crescente contato com os povos do Oriente, se fosse adquirindo consciência de tal afinidade. Nasceu a grande ideia da revelação da divindade em todas as religiões, a da unidade de conteúdo entre estas revelações e o conhecimento filosófico (interpretação alegórica). Destarte, ao movimento religioso do mundo greco-romano decadente foi possível acolher retrospectivamente, na filosofia, porções espiritualizadas, cada vez maiores, da fé religiosa.

Correspondendo à natureza da religiosidade, o centro deste círculo de ideias é formado pelos meios de procura da reconciliação com a divindade e a entrada na imortalidade (mistérios gregos, pitagóricos e dos terapeutas) . A metafísica religiosa tinha de resolver problemas como a coordenação do infinito da divindade com o finito, do mal e da culpa, etc. Tentativas de solução: criação (isto é, transcendência da divindade em face da ordem existente, segundo a lei causai), emanação (ou seja, em oposição ao panteísmo, segundo o qual o conteúdo da divindade, como unidade, coincide com o artifício do finito, que seria a sua “explicação”, a doutrina segundo a qual da plenitude infinita e inabarcável da divindade vai nascendo o finito na escala descendente, em prejuízo dela), doutrina do logos e das forças divinas, origem das almas na sua queda perante Deus, volta à unidade real com Deus. Todos estes meios auxiliados para fundamentar, servindo-se de conceitos, o processo religioso, tiveram desenvolvimento no mundo antigo antes da formação da teologia cristã. Mas apenas sob a influência das inspirações e lutas religiosas do séc. I d. C. se pôde formar, sobre tal alicerce, uma metafísica religiosa que dominou os espíritos, através de amplas associações.

Já desde a fundação de Alexandria tivera início a fusão da cultura grega com a oriental, mas foi no campo da filosofia que este processo introduziu uma nova época no momento em que a filosofia acolheu, como forma suprema do conhecimento da verdade, a revelação e a relação do coração humano com a pessoa viva de Deus, que ela pressupõe. Na metafísica dos primeiros séculos d. C. considerou-se a relação de Deus com o mundo e com o homem deste ponto de vista. Assim, entra na metafísica do mundo antigo o terceiro grande motivo. A atitude estético-científica do homem buscará expressar a ordem inteligível e harmônica do cosmos numa ciência universalmente válida. A atitude volitiva do homem no mundo do direito e do estado, havia concebido a relação de Deus com a natureza e com as coisas, partindo da ideia do imperium, da legislação e da dependência. A atitude afetiva religiosa emanou do ponto de vista da pureza da vontade divina, da sua revelação num mundo pecador, das teofanias (doutrina do logos) que assim surgem, das predições e dos milagres, da relação constante do coração do homem com Deus e da volta à vontade divina. Constrói com forças e relações puramente anímicas e, destarte, livres. Por toda parte milagres e liberdade. Ao tentar legitimar, elaborar e criar esta atitude religiosa, serve-se da filosofia grega e da helenístico-romana. Deste modo, a metafísica (dogmática) segue o caminho iniciado por Platão, de resolver os problemas e dificuldades que estão no transcendente, mediante conceitos inventados, aos quais não corresponde qualquer experiência. Este trabalho que se vale de conceitos fictícios que são apenas símbolos da atitude religiosa, chega, através de quase 1500 anos, até o Renascimento.

Dentro da filosofia greco-romana o sistema neopitagórico é o que prepara o processo. Foram-nos legados os títulos ou os fragmentos de mais de noventa obras que correspondem a mais de cinquenta autores, obras que se apresentavam como velhos escritos pitagóricos mas que apareceram já no prolongamento da escola pitagórica. O primeiro adepto desta direção, que conhecemos, é P. Nigídio Figulo, o douto amigo de Cícero (Hertz, De Nigidii Figuli studiis atque operibus, 1854). No tempo de Nero, percorreu o império o milagreiro Apolônio de Tiana e Filostrato, numa novela filosófica, encarnou nesta figura o ideal neopitagórico (Ch. Baur. Apollonius von Tyana und Christus, 1876). Moderato de Gades e Nicômaco de Gerasa. De Nicômaco ainda temos uma iniciação à aritmética, um livro de harmonia e teologúmenas aritméticas. Muito importante para a história da aritmética. [Dilthey]