gr. χρεία, chreia
A khreia ou anedota, é uma peça particularmente interessante da biografia grega. Consistia em um breve traço ou descrição de uma situação típica, mas a sucinta apresentação da resposta de uma pessoa. Poderia ser reduzida à fórmula “perguntado sobre isso ou aquilo, respondeu tal, ou tal coisa”, ou “ao ver isso e aquilo, disse ou fez tal coisa”. Como se nota, o que um filósofo teria dito ou feito numa determinada ocasião valia como teste de caráter. As sentenças desse tipo tinham dupla função: checar se elas se conformam à filosofia adotada pelo mestre e avaliar sua propriedade como resposta a uma dada situação.
As anedotas eram usadas nas escolas de retórica como exemplo de discurso eficaz. Por contarem os ingredientes básicos de uma situação retórica (orador, discurso, audiência), as anedotas podiam ser analisadas quanto a sua propriedade com relação ao caráter do orador ao qual elas eram atribuídas (ethos), sua adequação aos princípios ou ensinamentos do orador (logos) e sua eficácia retórica como discurso dirigido a uma audiência (conhecida como pathos). As anedotas também podiam ser memorizadas, reestilizadas, recriadas, parafraseadas ou inseridas no contexto de discursos mais alentados.