Poder-se-ia opor à objetividade dos valores, o não serem eles captáveis pelo conhecimento intelectual, mas pela intuição emotiva, os intentionales Fühlen; a intuição emotiva porém é uma forma de conhecimento tão válida, ou mais válida que o conhecimento racional. A experiência augustiniana da iluminação interior e a base emotiva das mais profundas percepções do absoluto, bem como toda a experiência mística atestam a objetividade da intuição emocional. Não é outra a intuição de São João da Cruz, que fala em abater a inteligência, certamente para sentir os eflúvios do sagrado e do divino. A música não se compreende, sente-se; a grandeza de uma página wagneriana não pode ser traduzida por nenhum discurso racional. O valor é objeto dessa intuição emotiva, graças à qual se pode captar, num momento de inspiração, o sentido do transcendente [Não entramos, aqui, na distinção, que certamente existe, entre intuição emotiva e intuição mística. Esta última tem relação com o mistério da Graça.].
Mas, a intuição emocional nem sempre exclui o conhecimento intelectual; pode-se compreender o que se sente; e pode-se sentir o que se compreende. Em suma, se a Escolástica sublinhou demais o caráter intelectual de todo conhecimento, — se ignorou o valor da vida emotiva — não devemos também confundir o intelectualismo escolástico com o racionalismo dos tempos modernos. A palavra Intelligentia inclui em si o sentido da Intuição, querendo dizer intus legere, ler dentro. Intuição vem de in-tueri, que significa olhar dentro, tendo um sentido correlato ao de inteligência; e em alemão, o termo intuição, Anschauung, conserva ainda esta acepção original, significando visão. Não se deve pois separar, nem opor a intuição e a inteligência. Esta oposição foi um dos mais graves erros de Bergson, que confundiu a inteligência com a razão científica. O intelectualismo escolástico nada tem de parecido com o racionalismo científico. Todavia, esse mesmo intelectualismo escolástico, que só acredita na intuição intelectual e na intuição sensível e desconhece a intuição emotiva, não daria conta da captação emotiva dos valores.
O valor é objeto daquela particular intuição espiritual que se encontra nos místicos, nos poetas e nas almas inocentes. A captação emotiva do valor, tal como a demonstraram N. Hartmann e Max Scheler, não invalida, mas antes, confirma a objetividade dos valores. [Barbuy]