Filosofia – Pensadores e Obras

instrumento e objeto

Conforme a análise clássica de Heidegger (onde não é feita a distinção entre “instrumento” e “objeto”), as coisas de nosso mundo quotidiano não existem “em si”, como entes isolados à nossa frente. Elas existem (e “têm sentido”) por sua utilidade, por sua instrumentalidade. A mesa é aquilo-que-serve-para-eu-trabalhar-sobre-ela; o martelo só existe como coisa-para-pregar-pregos, e assim em diante. O instrumento não é um indivíduo — é um membro da classe das coisas que possuem a mesma função, ou melhor, que existem através da mesma função. Os instrumentos e nossos gestos se entrelaçam em cadeias que apontam para alguma região da existência quotidiana: levanto-me cedo para estudar, para me formar, para conseguir um bom emprego, para… A indicação última desta cadeia de gestos é algo que não existe dentro de meu mundo, mas que dá sentido a meu mundo.. É algo que nunca experimentei, mas sue desejo ser. É a ideologia que fundamenta nosso quotidiano. Para a ideologia caminham todos os nossos gestos quotidiano. O que é ela, existencialmente? Qual sua relação ao objeto?

O objeto é um instrumento que se individualizou. É a caneta “preferida”, o relógio “de estimação”. Um objeto só pode existir no foco de minha consciência: posso fazer uso “distraidamente” de algum instrumento, mas não de um objeto, porque como objeto ele não tem sequer uso; como objeto, ele é pura presença. Será objeto uma revista com um bilhete bobo de antiga namorada achado na capa — ela não mais é “revista”, e sim “lembrança”. Ou a medalha ganha num concurso qualquer, e que deixamos bem à vista em nosso quarto. O objeto é a presença intramundana da ideologia . O objeto é um ideologema . [Francisco Doria – DCC]