Filosofia – Pensadores e Obras

formalismo

O formalismo é tendência a se expressar de maneira lógica e abstrata, a reunir todos os problemas da filosofia numa fórmula única. Por exemplo, Kant reduz todos os problemas a um só: “Como os julgamentos sintéticos seriam possíveis a priori?” — A doutrina moral de Kant é um formalismo à medida em que apenas enuncia o princípio geral da ação moral (agir com uma boa intenção) e não especifica nenhum dever particular concreto. A moral é apenas uma atitude, uma “disposição da vontade”, no que fazemos naturalmente na vida: não preconiza nenhuma vida própria, e sim, uma atitude geral na vida comum. A “moral formal” opõe-se à “moral concreta” (Fichte) ou “ética material” (Scheler). O formalismo na arte se caracteriza pela tendência excessiva à abstração, em detrimento da “arte figurativa”. (V. abstrato ). [Larousse]


De acordo com Bochenski, talvez o fato mais importante da metodologia moderna é o ter-se dado conta de que, operando com a linguagem em seu plano sintático (e prescindindo, portanto, dos outros dois), facilita-fe enormemente o trabalho intelectual. Este modo de operar chama-se formalismo e consiste em fazer abstração do significado dos signos que se empregam e considerá-los exclusivamente como signos gráficos: cm sua forma gráfica. Chama-se linguagem formalizada toda linguagem construída consoante tais normas. Na aplicação do formalismo é preciso distinguir duas coisas: de um lado, temos a própria linguagem, com suas regras sintáticas, regras que se referem exclusivamente à forma material dos signos e nunca á sua significação; e de outro — pelo menos na maioria dos casos —, uma interpretação da linguagem dotada de conteúdo, uma ordenação das significações aos signos.

Portanto, o formalismo é um método que consiste em fazer abstração total do sentido eidético dos signos e operar com eles à base de determinadas regras de transformação que afetam apenas à sua forma gráfica. Procede-se com os signos como se não fosse tal coisa, mas figuras de um brinquedo, pedaços que se combinam e ordenam de diferentes modos. Por isso se disse em tom de piada que aquele que emprega o formalismo não sabe o que diz, mas o que diz é verdadeiro. Não obstante, cumpre fazer as observações seguintes:

1. A finalidade do formalismo é sempre um saber. Um sistema formal cumpre seu cometimento unicamente quando seus resultados são interpretáveis eideticamente. A ciência não é um brinquedo. Nosso saber nem sempre atinge o quê da coisa; às vezes se limita ao como, mas sempre, ao fim e ao cabo, deve haver um saber.

2. As regras das operações do formalismo devem estar dotadas de sentido eidético. Se as regras nos dizem o que devemos fazer, é necessário que estejamos em condições de entendê-las. Disso se segue que nenhum sistema é formalizável totalmente, pelo menos suas regras jamais poderão ser formalizadas. É certo que se podem formalizar as regras de um sistema dentro de outro; por exemplo, as regras do sistema A no sistema B, mas, por sua vez, o sistema B exige que suas regras tenham sentido Estas poderão ser formalizadas novamente num terceiro sistema C, mas é preciso chegar a um ponto de partida: algumas regras não formalizadas. De resto, as regras de A enquanto se constrói o sistema devem ter sentido eidético para nós, pois do contrário não adiantaríamos nada em nosso cálculo.

3. Com efeito, na construção dos sistemas formalizados se procede sempre desta maneira: primeiramente, estabelecem-se signos com sentido e, depois, faz-se abstração de tal sentido, construindo assim o sistema formal, para dar finalmente uma nova interpretação ao sistema acabado.

4. Isso vale sobretudo para a lógica. Ainda que fosse possível uma ciência, cujo sistema não tivesse outro sentido que o sintático, tal caso é impossível na lógica, que deve propiciar as regras de conclusão de todo conhecimento indireto; e se suas regras não tivessem sentido eidético, não seria possível concluir nada. Por isso os lógicos atuais não acreditam que seja a lógica um sistema puramente formal, que não admita interpretação.

Em favor do método formal Bochenski aduz as seguintes razões:

1. Numa situação complicada bem cedo falha nossa visão eidética do objeto. Diretamente e sem esforços vemos que 2 vezes 3 é igual a 6, mas apenas alguns poucos homens sabem com facilidade e rapidez que o produto de 1952 por 78.788 é igual a 153.794.176. De igual modo vemos imediatamente que a negação de ‘chove’ é a proposição ‘não chove’, mas não é tão fácil ver a negação do conhecido postulado de Euclides, consoante o qual por um ponto exterior a uma reta passa uma única paralela a essa reta. O mesmo se pode dizer de outros pensamentos emaranhados, inclusive da filosofia, Seu gênio preservou aos melhores pensadores de cair no erro, sem empregar o formalismo, mas os desvios bastantes frequentes no campo filosófico se devem, em boa parte, á falta de um método formal adequado.

2. Dado que num sistema formal todas as regras se referem exclusivamente à forma gráfica, é impossível nele uma demonstração com regras e axiomas não formulados. É sabido que os supostos não formulados são perigosos, já que facilmente podem ser falsos e escapam de uma comprovação racional por não estarem formulados de maneira expressa. O formalismo contribui fundamentalmente para eliminar tais supostos tácitos.

3. Com isto se obtém ainda mais: num sistema axiomático desenvolvido formalmente, todas as consequências se deduzem dos axiomas escolhidos com certa facilidade e de um modo bem definido. É evidente que os conceitos usados estarão determinados com mais exatidão que o estavam no início do processo. O formalismo é, pois, um excelente guia para a delimitação e esclarecimento dos conceitos.

4. Finalmente, com o emprego do formalismo se consegue ainda mais uma coisa: quando um sistema está construído formalmente, pode amiúde permitir várias interpretações, com o que de uma só vez ficam resolvidos vários problemas. Um exemplo é o princípio da dualidade na geometria euclideana. Do postulado ‘Dois pontos quaisquer determinam uma reta’ se deduzem (mediante outros axiomas e graças às regras adequadas) uma infinidade de postulados geométricos. Podemos formalizar este postulado desta maneira: ‘Dois A quaisquer determinam um B’; a significação de A e B deve ficar indeterminada (as demais palavras da proposição podem ser consideradas como simples constantes lógicas). Cabem, então, duas possíveis interpretações do princípio: a) pode-se dar a A a significação de ponto, e a B a de reta; b), vice-versa: A significa ‘reta” e B ‘ponto’. Vê-se que a interpretação b e a verdadeira: duas retas paralelas determinam um ponto no infinito. Assim se consegue todo um sistema de proposições deduzidas deste postulado (formalizado); de um postulado obtivemos dois, fundamentais ambos em geometria. O mesmo ocorre em outros campos científicos. [LWVita]


(in. Formalism; fr. Formalisme,al. Formalismus; it. Formalismó).

Toda doutrina que recorra à forma, em qualquer das significações do termo. No fim do séc XIV, foram chamados de “formalistas” os partidários da metafísica de Duns Scot, que se opunham aos “terministas”, partidários de Ockham (Gerson, De conceptibus, p. 806). Foi qualificado de formalismo o ponto de vista kantiano em ética, por recorrer às formas gerais das máximas, sem considerar os fins a que se destinam. Em matemática foi chamado de formalismo o procedimento que pretende prescindir dos significados dos símbolos matemáticos, especialmente a corrente de Hilbert. Também é considerada formalismo a grande importância atribuída aos procedimentos legais ou a certas normas de comportamento nas relações entre os homens. [Abbagnano]