Os representantes da escola “logicista” de Marburgo orientam-se todos para as ciências exatas da natureza. Muito embora também se apliquem à ética e até mesmo à filosofia da religião, o centro de interesse deles é sempre a razão teórica. Na Crítica da Razão Pura, e especialmente na dedução transcendental, vêem eles a parte decisiva da obra kantiana. Aperfeiçoam o idealismo num sentido extremamente radical: tudo sem exceção se reduz às leis lógicas imanentes da razão pura. Como todos os neokantianos, rejeitam a sensação como fator autônomo do conhecimento. A sensação não se opõe ao pensamento como um elemento estranho, mas é simplesmente uma grandeza matemática X. Não é algo dado (gegeben) ao conhecimento, é antes uma tarefa imposta (aufgegeben) ao conhecimento, o qual deve determiná-la por si. Não há intuição; a razão é um”produto” desta atividade. Só que esta não deve ser tomada no sentido de atividade psicológica: trata-se de combinações puramente lógicas de conceitos. Estes conceitos são também relações lógicas. Em suma, todo ser, a realidade inteira, reduz-se a um tecido de relações lógicas e nega-se todo e qualquer elemento irracional. Deu-se a esta teoria o nome “idealismo lógico” ou “panlogismo”.
Como, dentro deste quadro, explicar a objetividade dos juízos e atribuir sentido à palavra “verdade”? Os idealistas da escola de Marburgo respondem a esta pergunta remeten-do-nos para as categorias. Segundo eles, estas são pontos de vista, regras metódicas de natureza totalmente apriórica, isto é, são independentes da experiência e determinam o valor de verdade dos juízos: um juízo é verdadeiro e objetivo, quando formado de acordo com elas, e é falso quando está em contradição com elas. As categorias são as condições do conhecimento. Fora delas existe, decerto, um pensamento, nunca porém um conhecimento. Deste modo explicam eles a objetividade do saber, sem se referirem a qualquer elemento transcendente ou irracional.
Também no domínio da moral, as normas são, para eles, necessariamente aprióricas, não procedem da experiência. No fundo, a ética nada mais é do que uma lógica do dever; como em Kant, este dever é puramente formal, isto é, carece de conteúdo. Mas os marburgenses diferenciam-se do fundador do criticismo pelo caráter social de sua doutrina, em oposição ao individualismo de Kant. Chegaram mesmo a tentar uma síntese do kantismo e do socialismo marxista. Quanto à religião, a escola de Marburgo não lhe reconhece qualquer significação própria; não é mais do que uma forma da moralidade, da qual, segundo Cohen, Deus representa apenas um ideal moral, a meta a que se endereça o trabalho especificamente moral. No caso de Natorp, que a princípio professava as mesmas ideias, não se sabe ao certo se mais tarde mudou realmente de opinião. Neste particular os marburgenses, mais que os restantes idealistas, permanecem fiéis a Kant. Prolongam assim o espírito do século XIX. O caráter monista de seu filosofar, que pretende explicar a realidade global por um só princípio lógico, vinca esta tendência com um cunho ainda mais pronunciado. [Bochenski]