epagôgé: levar a, passar a, indução (socrática, aristotélica; para a «indução» platônica, ver synagoge)
1. Aristóteles, num passo em que descreve a origem da teoria das Formas, faz noitar que Sócrates foi o primeiro a empregar «argumentos indutivos» (epaktikoi logoi; Metafísica 1078b). Mas compreender os epaktikoi no sentido de uma «indução» (epagoge) aristotélica é provavelmente um engano, visto que nem a método logia de Sócrates nem a terminologia de Platão apontam para um uso estritamente aristotélico. A desenvolvida epagoge aristotélica é definida, nos seus termos mais gerais, como «o passar dos particulares ao universal (katholou) e do conhecido ao desconhecido» (Top. vm, 156a).
2. Platão usa epagein num sentido semelhante a este (Pol. 278a), mas o seu uso mais vulgar é no sentido de «citar» ou «aduzir» (ver Republica 364c, Leis 823a). Nos diálogos mais intimamente associados com o Sócrates histórico há frequente confiança nos casos individuais, mas eles são citados quer para fins de refutação ou correção (ver Republica 331e-336a) quer para estabelecer analogias (ver Xenofonte, Mem. III, 3, 9), em ambos os casos uma espécie de modelo de prova que faz parte do método socrático do elenchos (ver aporia, katharsis) e que por meio de hábil emprego podia eventualmente atingir a definição, ou, ainda, acabar simplesmente na aporia (ver Teeteto 210b-d).
3. O que Aristóteles importa de mais fundamental da epagoge é o seu papel de pedra angular de todo o conhecimento científico (episteme). É através de uma indução das experiências individuais dos sentidos (aisthesis) que obtemos o conhecimento tanto do conceito universal (katholou) como da proposição universal (arche), e são estas últimas que servem de premissas não demonstráveis de toda a demonstração (Anal. post. II, 99b-100b; ver Metafísica 980a-981a). Esta epagoge não é um processo discursivo e, ao contrário da indução completa, não pode ser reduzida a um tipo de silogismo; é antes uma compreensão intuitiva do espírito que Aristóteles designa de noûs e que é tão digna de confiança como a própria demonstração.
4. O ponto essencial da epagoge aristotélica é que o universal está dentro dos limites materiais dos dados dos sentidos individuais (Physica I, 184a), e é por exposições repetidas a esta experiência dos sentidos que o espírito chega à compreensão da mais alta inteligibilidade do universal (Anal. post. I, 87b-88a). Mas em virtude da sua íntima relação com a sensação, a indução permanece mais convincente e mais popular no seu apelo (Top. I, 105a; comparar gnorimon).
5. Há, finalmente, outro tipo de indução que Aristóteles trata com certo desenvolvimento, a indução perfeita ou o exame de todos os casos de uma proposição geral (Anal. pr. II, 68b). Mas aqui está a tratar da redução da indução à forma silogística, algo que pode alcançar somente por meio de uma indução perfeita.