Filosofia – Pensadores e Obras

empirismo lógico

(in. Logical empiricism; fr. Empirisme logique; al. Logischer Empirismus; it. Empirismo lógico).

Com esse nome ou com o nome de positivismo lógico indica-se a orientação instaurada pelo Círculo de Viena e depois seguida e desenvolvida por outros pensadores, especialmente na América do Norte e na Inglaterra. A característica fundamental dessa corrente é a redução da filosofia à análise da linguagem. Nela, porém, podem ser distinguidas duas tendências fundamentais, segundo se entenda linguagem como linguagem científica ou linguagem comum. Essas duas tendências têm em comum um arsenal negativo e polêmico (a negação de qualquer “metafísica”) que elas compartilham com todo o empirismo moderno e que justificam com a tese de que todos os enunciados metafísicos são desprovidos de sentido, porque não verificáveis empiricamente. Têm também em comum as duas teses propostas pela primeira vez por Ludwig Wittgenstein, em seu Tratado lógico-filosófico (1922): 1) os enunciados factuais, isto é, que se referem a coisas existentes, só têm significado se forem empiricamente verificáveis; 2) existem enunciados não verificáveis, mas verdadeiros com base nos próprios termos que os compõem; tais enunciados são tautologias, ou seja, não afirmam nada a respeito da realidade; a matemática e a lógica são conjuntos de tautologias.

A) A tendência que atribui à filosofia a função de analisar a linguagem científica conta sobretudo com os nomes de Rudolf Carnap e Hans Reichenbach. As obras deste último pertencem à metodologia da ciência. Ele estudou os Fundamentos filosóficos da mecânica quântica (1944) e a Teoria da probabilidade (1949) como fundamento da indução, considerando que a própria probabilidade baseia-se exclusivamente na frequência estatística. Por sua vez, Rudolf Carnap deu mais atenção à matemática e à física 04 visão lógica do mundo, 1928; A sintaxe lógica da linguagem, 1934; Fundamentos da lógica e da matemática, 1939; Introdução à semântica, 1942; Formalização da lógica, 1943; Significado e necessidade, 1947; Fundamentos lógicos da probabilidade, 1950; O contínuo dos métodos indutivos, 1952). Para a filosofia de Carnap, assim como para a de Reichenbach, conflui a corrente matemática da lógica contemporânea, especialmente o formalismo de Hilbert, segundo o qual o trabalho da matemática consiste em fazer deduções, segundo regras determinadas, a partir de outras proporções assumidas como fundamentais por convenção e chamadas de axiomas. Carnap estendeu esse princípio a toda a lógica considerando-a um conjunto de convenções sobre o uso dos signos, bem como de tautologias que se fundam nessas convenções (Logische Aufbau der Welt, § 107), e dando lugar assim ao convencionalismo típico da filosofia contemporânea. Sobre as contribuições que essa corrente filosófica tem dado a noções filosóficas e científicas fundamentais, como conceito, causa, número, probabilidade, assim como à metodologia das ciências e à lógica, ver os verbetes correspondentes, além do verbete Enciclopédia.

B) A tendência que atribui à filosofia a função de analisar a linguagem comum tem início com a segunda obra de Wittgenstein, Investigações filosóficas, que, antes de ser publicada (1953), circulara pela Inglaterra e começara a inspirar o trabalho filosófico de um grupo de pensadores. A tese dessa obra é que toda linguagem é uma espécie de jogo que segue determinadas regras, e que todos os jogos linguísticos têm o mesma valor. Por isso, segundo Wittgenstein, a única regra para a interpretação de um desses jogos é o uso que dele se faz; e, como a filosofia não tem outra função senão a de analisar a linguagem, cabe-lhe esclarecer as expressões linguísticas em seu uso corrente. Essa corrente recebeu grande contribuição de Alfred Ayer, que já em 1936, no livro Linguagem, verdade e lógica, apresentava ao público inglês as teses fundamentais do Círculo de Viena, e de Gilbert Ryle, que, em Conceito do espírito (1949), analisou com esse critério a noção de espírito, mostrando que, para entender e esclarecer as expressões da linguagem comum em que essa noção aparece, nãonecessidade de afirmar a realidade substancial da alma nem de admitir que a consciência constitui um acesso privilegiado a essa realidade. A importância dessa tendência consiste no fato de que, por meio de análises da linguagem comum, procura esclarecer as situações mais comuns e recorrentes em que o homem pode encontrar-se, ainda que só considerado como “animal falante”. Sob esse aspecto, o empirismo lógico é autenticamente uma forma de empirismo que identifica o mundo da experiência com o mundo dos significados próprios da linguagem comum. Contudo nem sempre e para nem todos os seus seguidores, essa tendência apresenta esse caráter: às vezes se perde em discussões estéreis e enfadonhas sobre a interpretação de expressões linguísticas retiradas do contexto, logo desprovidas do significado e do alcance que têm em tal contexto e, pór isso, das autênticas possibilidades interpretativas que só o contexto fornece. A esse respeito, Bertrand Russell (que é considerado um dos fundadores da escola) condenou claramente essa tendência verbalista, que torna a pesquisa filosófica inútil e enfadonha, e ressaltou a exigência de que a filosofia estude não só a linguagem, mas a realidade, e se funde portanto no saber positivo dado pela ciência (cf. Hilbert Journal, julho de 1956). [Abbagnano]