Filosofia – Pensadores e Obras

disteleologia

Disteleologia é o oposto a teleologia (fim). O uso do vocábulo varia, consoante a ideia que se tenha do teleológico. Vulgarmente, é disteleológico o que é adverso ao bem-estar subjetivo. Filosoficamente, disteleologia é uma falta de finalidade, devido à qual o fim ou não se alcança ou se alcança defeituosamente. Esta falta revela-se no uso de meios insuficientes (p. ex., nos monstros, nas enfermidades mentais) ou na aplicação do apetite teleológico a objetos inadequados (como, p. ex., quando bactérias atacam animais e homens). Não raro se considera também disteleológica a oposição entre a teleologia ao serviço do próprio sujeito ou de seres estranhos e determinados fenômenos concomitantes que convertem em tormento a consecução do fim (p. ex., as dores, a “crueldade” das feras).

As disteleologias só podem apreciar-se devidamente, tomando em conta a contingência do ser e o caráter peculiar da finalidade. A contingência implica a mutabilidade (decadência e morte nos seres vivos), bem como a índole limitada, das coisas naturais e de sua finalidade. O caráter peculiar da finalidade reside na inserção dos seres e de seus fins numa ordem global, integrada por ordens parciais entre si hierarquizadas, onde os graus inferiores se subordinam aos superiores, todas porém subordinadas à estruturação da totalidade cósmica. As coisas da natureza devem, outrossim, servir aos desígnios superiores de Deus, ordenador supremo da mesma natureza. O fim último imanente ao universo è a plena perfeição intelectual, moral e religiosa do homem, o qual, ascendendo ao conhecimento do Criador pela auto-revelação de Deus na natureza, deve conduzir o mundo a seu último fim transcendente, que é a glorificação de Deus. Só é realmente disteleológico o que não possui sentido sob nenhum destes aspectos. Assim consideradas, as deficiências e desarmonias deixam de ser disteleológicas. Por exemplo, as dores e epidemias dão a conhecer ao homem a contingência de seu ser e, além disso, converteram-se também em potente alavanca do progresso cultural. A circunstância de muitas coisas se tornarem absurdas, pela exclusão dos fins que ultrapassam a natureza, prova precisamente a necessidade de tais fins. Quem se detém na fase anterior ao fim não pode compreender o sentido do universo (teodiceia). — Frank. [Brugger]


(in. Dysteleology; fr. Dystéléologie; al. Dysteleologie; it. Disteleologia).

Termo criado pelo biólogo materialista Ernesto Haeckel para indicar a parte da biologia que estuda os fatos biológicos (monstruosidade, abortos, atrofias, etc.) que contradizem a existência de uma finalidade na formação dos organismos vivos (Weltrütsel, 1899, cap. 14). [Abbagnano]