O oráculo da sabedoria reuniu neste preceito: Nosce te ipsuin, todos os meios de aperfeiçoamento apropriados à natureza humana. Abriu por ali um vasto campo de exercício para nossas faculdades meditativas e ativas, tanto para penetrar o profundo sentido do preceito como para reduzi-lo a uma prática sempre difícil, já que tudo nos atrai para fora, convidando-nos a atuar antes de pensar, a conhecer as outras coisas, ocultando-nos deste modo a nós mesmos.
O conhecimento de que se trata não é o de nossos órgãos, nem das impressões estranhas ou chagas a que está submetido. Tudo isto não é o eu, que reside inteiramente no sentido íntimo ou na consciência desta livre atividade que o constitui. Mas este mesmo conhecimento interior, assim interpretado e delimitado, não deve ser somente especulativo para alcançar sua meta e preencher seu verdadeiro objeto. Podemos ver por tudo o que foi dito, que é ao mesmo tempo essencialmente ativo e prático. Com efeito, como o sujeito não se pode dar conta de si ou não existe para sisi mesmo a não ser no exercício da atividade que o constitui, é evidente que a partir do fato primitivo da consciência não pode exercer nenhuma de suas faculdades próprias sem conhecê-la, do mesmo modo que não pode conhecê-la sem exercitá-la. Assim a psicologia, especulativa do ponto de vista do conhecimento interior de nossas distintas faculdades, é ao mesmo tempo prática do ponto de vista do desenvolvimento dessas faculdades e também de sua direção, quer seja intelectual, quer seja moral. (Essai sur les fondements de la psychologie et sur ses rapports avec l’étude de la nature, Introd. geral, VI.) [Maine de Biran]