(al. Naturlicher Einstellung).
Husserl chamou assim a atitude que consiste em assumir como existente o mundo comum em que vivemos, formado de coisas, bens, valores, ideais, pessoas, etc, tal como se oferece a nós. A filosofia fenomenológica pretende sair dessa atitude por meio da dúvida radical, que consiste em suspender a atitude natural, isto é, em obstar a qualquer juízo sobre a existência do mundo e de tudo o que está nele. Só essa nova atitude seria o ponto de partida da pesquisa filosófica (Ideen, I, § 27 ss.). (v. epoché; suspensão do assentimento). [Abbagnano]
Mediante uma depuração de tudo o que não esteja marcado com a garantia da evidência apodítica, Husserl leva-nos ao «objeto» enquanto meramente consciente, acerca do qual não pode subsistir dúvida alguma; por outras palavras, ao fenômeno. Isto significa, em primeiro lugar, uma desvalorização da vida espontânea e do mundo natural, seu domínio próprio. O mundo aparece-nos como a própria evidência, percebendo nós as coisas corporais, pelos sentidos externos, como estando simplesmente aí, em determinada distribuição espacial, presentes, quer me ocupe deles quer não. Mesmo os seres animados, e entre eles os homens, vejo-os, ouço-os, sinto-os e, entrando em contato com eles, posso compreender imediatamente o que são, o que desejam, etc. Considerando a ordem dos seres no tempo, o mundo revela-se como um horizonte temporal infinito nos dois sentidos; possui um passado e um futuro, conhecidos e desconhecidos.
Este mundo não se esgota, contudo, nas coisas materiais; é ainda um mundo de valores, em que as coisas adquirem dignidade de objetos culturais; pode ainda dilatar-se: quando me ocupo de números, de leis numéricas, deixo de estar ocupado pelo mundo circundante; porém, a esfera aritmética, o domínio dos números, também está presente para mim todas as vezes que o investigo. Falar em mundo de números, mundo aritmético, tem apenas o sentido de alargar a noção de mundo natural, que está presente, e no qual nos encontramos como num mundo de coisas.
Toda a ciência que explora o mundo é uma ciencia intra-mundana. O conhecimento natural inicia-se com a experiencia e o horizonte que circunscreve toda a espécie de estudo é o mundo. As ciências relativas ao mundo têm, como experiencia doadora originária do seu objeto, a percepção interna ou externa. Se examinarmos o proceder dessas ciências veremos que procedem «ingenuamente», com respeito à sua fundamentação. Diz Husserl que «se instalam no terreno da experiência do mundo, previamente dado e pressuposto como existindo de maneira evidente». Por isso são a-filosóficas; não procuram as últimas verdades que as legitimam na sua pretensão de serem conhecimento «objetivo».
Espontaneamente vivemos nessa atitude natural. Husserl convida-nos a romper com essa atitude em busca de uma evidência apodítica que as coisas deste mundo não possuem. Romper com a atitude natural, ou melhor, suspender essa atitude, é o que na linguagem técnica de Husserl se exprime por epoché (v. epoche). [Morujão]