Teologia. Termo que, em grego, significa completa restituição. Empregado em Teol. para referir-se à restituição final (salvação universal). [MSGA41IC]
(gr. apokatastasis; lat. Restitutio; in. Apocatastasis-; fr. Apocatastasis; al. Apokatastasis; it. Apocatastasi).
É a teoria própria dos Padres orientais: prevê a restituição final do mundo e de todos os seres nele contidos à condição perfeita e feliz que tinham na origem. Trata-se, portanto, de uma noção diferente da de movimento cíclico, própria dos antigos (pitagóricos, Anaximandro, estoicos, etc), que interpreta a vida do mundo como a recorrência de um ciclo sempre idêntico, que se repete infinitas vezes (v. ciclo do mundo). Segundo Orígenes, o mundo sensível formou-se com a queda das substâncias intelectuais que habitavam no mundo inteligível, queda devida a um ato livre de rebelião a Deus, do qual participaram todos os seres supra-sensíveis, com a única exceção do Filho de Deus. Dessa queda e da degeneração que se lhe seguiu, os seres se reerguerão expiando, com uma série de vidas sucessivas, em vários mundos, seu pecado inicial e serão, por fim, restituídos à sua condição primitiva (In Johann., I, 16, 20). Orígenes admite, assim, pluralidade sucessiva de mundos, mas corrige o Estoicismo no sentido de que esses mundos não são repetição uns dos outros. A liberdade de que os homens são dotados impede essa repetição (Contra Cels., IV, 67-68). Conceito análogo é expresso por Gregório de Nissa, que interpreta a sucessão dos mundos como o teatro da reeducação progresiva dos seres à condição de bem-aventurança original. Gregório afirma decididamente o caráter universal da apocatástase: “Até mesmo o inventor do mal (isto é, o demônio) unirá sua voz ao hino de gratidão ao Salvador” (De hom. opif., 26). Na Idade Moderna, doutrina análoga foi sustentada por Renouvier em Nova monadologia (1899): retoma-se aqui a tese de Orígenes da pluralidade dos mundos sucessivos e da passagem de um mundo ao outro, determinada pelo uso que o homem faz da liberdade em cada um deles; é corrigida sò no sentido de que “o fim alcançado torna a reunir-se com o princípio, não na indistinção das almas, mas na humanidade perfeita, que é a sociedade humana perfeita”. A doutrina da apocatástase distingue-se da concepção clássica dos ciclos do mundo em dois pontos principais: 1) os mundos que se sucedem não são a repetição idêntica um do outro, porque através deles se realiza progressivamente a recuperação do estado perfeito original; 2) a sucessão dos mundos não é sem princípio nem fim, já que começa com a queda das inteligências celestes e termina com a apocatástase. [Abbagnano]