Filosofia – Pensadores e Obras

análise da realidade

Iniciaremos estudo da analítica transcendental de Kant com uma análise disso que chamamos realidade. Relembremos, para o caso, que Descartes iniciou o filosofar com a dúvida metódica. A dúvida tem diante de si um campo relativamente vasto sobre o qual pode exercitar-se. Porém esse campo vastíssimo sobre o qual a dúvida se exercita pode-se dividir cm dois grandes setores. Em um setor encontram-se as coisas que vemos, ouvimos e tocamos; as coisas reais, as realidades. No outro setor encontram-se nosso ver, ouvir e tocar essas coisas, aquilo que Descartes chama pensamentos. E lembremos também que Descartes chega à conclusão de que a dúvida faz impressão nas , realidades, nos objetos do pensamento, mas que não faz mossa, não pode fazei entalho nos próprios pensamentos. Diz Descartes: se eu penso o centauro, pode ser que o centauro não exista; porém meu pensamento dele sim existe. Diz Descartes: se eu sonho que estou voando, pode ser que eu, com efeito, não esteja voando, mas dormindo; porém não pode ser que não esteja sonhando que estou voando. A dúvida, pois, não faz marca nos puros pensamentos, porém faz marca na realidade, nos objetos. Relembrando isto, podemos perguntar-nos: então, que é aquilo que Descartes chama realidade? Descartes chama realidade ao seguinte: que a um pensamento corresponda um objeto além do pensamento. Por isso Descartes diz que pode perfeitamente não incorrer jamais em erro algum com só ter cuidado de não afirmar ou negar nenhum pensamento. Porque afirmar ou negar um pensamento é afirmar ou negar que a esse pensamento corresponda efetivamente um objeto. Bastará, pois, não julgar dessa realidade para não incorrer jamais em erro, visto que, limitando-nos a pensar não podemos errar, e só podemos errar quando afirmamos que aquilo que pensamos existe. [Morente]