Filosofia – Pensadores e Obras

inteligência

noûs – (gr.) = espírito. Vide alma.

faculdade de compreender, aptidão para apreender relações. — Há compreensões mais ou menos rápidas, mais ou menos profundas: em geral, uma compreensão rápida será superficial e uma compreensão lenta será profunda. Em suma, não há “uma” inteligência, mas diversas formas de inteligência. O objetivo da “orientação profissional” é descobrir a inteligência particular de cada um e permitir-lhe “ter êxito” numa especialidade. O “êxito” é uma prova geral da inteligência (Spearmann). De um ponto de vista prático, a inteligência se define como a faculdade de adaptação (Claparède), a aptidão para adaptar-se rapidamente a situações ou problemas novos. Mede-se a inteligência por meio de “testes” (por exemplo, sobre combinações mecânicas, cálculos elementares, construções de quebra-cabeças, para serem realizados num determinado tempo). A inteligência animal mede-se pela aptidão do animal em fazer um rodeio (“conduta do rodeio”) para obter determinado resultado (por ex., o macaco é por vezes capaz de se utilizar de uma vara para colher um fruto). O desenvolvimento da inteligência, na criança, está ligado ao desenvolvimento da linguagem: com dez meses, possui ela o grau de inteligência de um macaco, a quem ultrapassa rapidamente depois. É preciso não confundir, no homem, a inteligência com a memória, ou julgá-la segundo a elevação ou a pujança das paixões de um indivíduo, ou segundo a força de sua vontade. Cada qual pode desenvolver sua inteligência cultivando-se e aprendendo a raciocinar e a julgar. (V. criança.) [Larousse]


O noûs grego significa razão, pensamento, porém em um sentido primariamente objetivo, universal ou cosmológico, sem a limitação individual e psíquica, que é mais usual. Anaxágoras foi o primeiro que deu ao termo, dentro do seu sistema filosófico, um sentido definido. O noûs é aqui o princípio de ordem, que se impõe aos elementos inertes e ainda que não fosse concebido de maneira imaterial, mas apenas como mais fino e sutil em comparação aos elementos, lhe foi atribuído maior atividade, dando origem ao movimento no mundo, mas também introduzindo nele unidade e sistema. Importância particular assume o noûs, segundo Anaxágoras, na organização do céu estrelado e em todos aqueles fenômenos da natureza que não podiam ser interpretados, na época, por leis mecânicas. Diógenes de Apolônia identificou-o com o ar que, segundo ele, atua também nos corpos orgânicos. Platão atribuiu pela primeira vez uma significação teleológica, fazendo dele o princípio racional de todos os processos da natureza, cujo caráter racional foi bem compreendido para atribuir-lhe rigorosa imaterialidade. Dando finalidade às coisas do mundo, Nous é o Bem soberano, fonte de todos os outros fins parciais. Como tal é também o último princípio de todas as ideias porque estas encarnam finalidades. Além do sentido cosmológico de Anaxágoras, Platão deu-lhe um aspecto também lógico e ético. Ademais, devido a confusão característica dos elementos subjetivos e objetivos no processo cognoscitivo, ele representa, simultaneamente, a forma mais elevada de intuição mental; apreensão imediata e absolutamente certa das coisas racionais. O noûs, por isto, é distinguido do pensamento discursivo que se desenvolve tendo aquele por fundamento. Aristóteles reúne o conceito anaxagórico do primeiro motor com o platônico do supremo fim, e confirma a imaterialidade do noûs, mais do que qualquer outro, pela definição que dá dele como noesis noeseos (o pensamento do pensamento) e identifica-o pela atribuição de transcendência, relativamente ao mundo, praticamente com Deus. O noûs que atua no homem e separável do corpo imortal e manifesta-se de duas maneiras diferentes, como noûs poietikôs (noûs ativo) que liga o homem à Divindade pela contemplação (theoria) e o noûs pathetikos que é o noûs passivo que abrange os pensamentos fundados sobre a percepção sensitiva, a memória ou, em geral, mediado por qualquer órgão corpóreo. Após Aristóteles a concepção da imaterialidade do noûs foi parcialmente abandonada até que os neoplatônicos a renovaram. Segundo eles, no absoluto, podem ser distintos dois aspectos: o noûs e o ser. O ser representa o lado ontológico e cosmológico, ao passo que o noûs é a razão universalmente válida, mas capaz de aceitar pluralidade e subjetividade, aproximando-se, destarte, até certo grau, da concepção moderna da razão. [MFSDIC]