(in. General; fr. General; al. Gemeingültig; it. Generale).
Essa palavra foi introduzida no uso moderno pelo empirismo inglês que, por meio dela, designou o resultado de uma operação de abstração; por isso, é algo diferente de universal, interpretado como natureza originária ou forma substancial. “As palavras”, diz Locke, “tornam-se geral pelo fato de fazermos delas signos de ideias geral; e as ideias tornam-se geral quando delas são afastadas as circunstâncias de tempo e de lugar, bem como de qualquer outra ideia que possa determiná-las no sentido desta ou daquela existência particular. Com esse meio da abstração, elas adquirem a capacidade de representar mais indivíduos, cada um dos quais, tendo em si conformidade com aquela ideia abstrata, é (como dizemos) daquela espécie” (Ensaio, III, 3, § 6). A ideia é geral, então, quando é o resultado da abstração; a generalidade é obra do intelecto, embora a ela corresponda a semelhança das coisas naturais. Como não existem naturezas ou formas universais, o universal reduz-se ao geral, e às vezes Locke emprega os dois termos como sinônimos (Ibid., III, 3, § 11). Esse termo era aceito com este sentido por Berkeley (Principles of Knowledge, Intr., § 12) e por Hume (Treatise, I, 1,7). Leibniz aceitava essa palavra e seu conceito, apesar de afirmar que desse conceito não derivava a negação das essências universais. Dizia: “A generalidade consiste na semelhança das coisas individuais entre si, e essa semelhança é uma realidade” (Nouv. ess., III, 3, 11). Stuart Mill aceitava essa terminologia, distinguindo substantivos individuais ou singulares e substantivos geral: estes últimos possibilitariam afirmar proposições geral, ou seja, “afirmar ou negar alguns predicados de um número indefinido de coisas ao mesmo tempo” (Logic, I, 2, § 3). Essa significação não prevaleceu na lógica contemporânea, que considera singular o termo cuja conotação impede sua aplicação a mais de uma coisa real, sendo geral o termo que não é singular nesse sentido. Lewis diz: “Saber se um termo concreto é singular ou geral é questão de conotação, não de denotação, ainda que um termo singular não possa denotar mais de uma coisa. ‘O objeto vermelho da minha mesa’ é um termo singular, e ‘Objeto vermelho sobre minha mesa’ é um termo geral, independentemente dos objetos vermelhos que se encontram em cima da minha mesa” (Analysis of Knowledge and Valuation, p. 45). Nesse sentido, o geral nada tem a ver com o universal: este é obtido com o uso do operador todos e refere-se à denotação, não à conotação de um termo. Por conseguinte, proposição geral é a que se chama função proposicional, na qual o sujeito fica indeterminado. Dewey também insistiu na diferença entre geral e universal, negando que a proposição “se humano, então mortal” seja equivalente à proposição “todo homem é mortal”. “São coisas radicalmente diferentes”, disse Dewey, “formular proposições sobre traços ou características que descrevem uma espécie fazendo abstração de cada exemplar da espécie e formular proposições abstratas sobre abstrações” (Logic, XIX, § 2; trad. it., p. 497-98). [Abbagnano]
O termo geral é usado em lógica, e amiúde também em epistemologia e em metodologia em dois sentidos:
1) Diz-se de um conceito que é geral quando se aplica a todos os indivíduos de uma dada espécie; por exemplo, o conceito homem é um conceito geral. Neste caso, o conceito geral distingue-se do conceito coletivo, que se aplica a um grupo de indivíduos enquanto grupo, mas não aos indivíduos componentes, por exemplo, o conceito de rebanho. O conceito geral opõe-se a um conceito menos geral ou menos universal, mas nunca a um conceito particular. Por exemplo o conceito de homem é mais geral que o conceito de europeu e o conceito de europeu é mais particular que o conceito de homem.
2) Diz-se de um juízo que é geral quando se refere a um número finito ou a um número indefinido de indivíduos. s vezes confunde-se o juízo geral com o juízo colectivo; no entanto, o juízo colectivo como tal fundamenta-se nos juízos singulares que totaliza, ao passo que o juízo total não procede por totalização, mas sim por generalização de juízos particulares. Tão pouco deve identificar-se o juízo geral com o juízo universal, porque enquanto se pode dizer “é um juízo muito geral”, não se pode dizer “é um juízo muito universal”. O emprego de geral aplicado ao juízo fundamenta-se na imprecisão da sua significação, e por isso alguns autores recomendam que quando se fala de um juízo ou de uma proposição se deve empregar, conforme os casos, universal ou genérico em vez de geral. [Ferrater]