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ergon

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

gr. érgon: trabalho, feito, produto, função. Aristóteles   distingue as atividades que têm um produto exterior delas mesmas como seu fim, daquelas que não têm.


O objeto da τέχνη (arte) é ο ποιητόν (o que deve ser produzido), ο ἔργον (a obra), a obra que emerge junto a um produzir e erigir. Esse ἔργον (essa obra) é um ἕνεκα τινος (cf. Ética a Nicômaco EN6, 2; 1139b 1), ele é “em virtude de algo”; ele tem uma referência a algo diverso. Ele é oὐ τέλος ἁπλῶς [43] (b2), ele não é “nenhum fim puro e simples”. O ἔργον (a obra) tem em si a referência a algo diverso; como τέλος, ele remete para além de si: ele é um πρός τι καί τινος (b2ss.), algo feito “com vistas a algo para alguém”. O sapato é produzido com vistas ao calçar, para outro. Nessa dupla caracterização reside o fato de o ἔργον (a obra) da ποίησις (produção) se mostrar como algo produzido com vistas a um outro emprego para o homem. A τέχνη (arte), portanto, só tem o ἔργον (obra) como objeto do ἀληθεύειν (desvelamento) até o ponto em que ele ainda não está pronto. Logo que a obra fica pronta, ela sai do âmbito de domínio da τέχνη (arte): ela se toma objeto do uso em questão. Isso é expresso por Aristóteles justamente de modo a determinar ο ἔργον (a obra) como παρά, como algo “ao lado” da τέχνη (arte). A τέχνη (arte) se remete, com isso, a um ente, na medida em que ele é concebido em meio ao vir-a-ser. ἔστιν δὲ τέχνη πᾶσα περὶ γένεσιν (Ética a Nicômaco EN6, 4; 1140a10ss.). [Heidegger  , GA19:41-42]
Uma vez que a τέχνη (arte) não alcança mais ο ἔργον (a obra), porque ele sai de seu âmbito, ela se encontra de certa maneira como a τύχη, como o acaso, τρόπον τινά περί τα airccc ἐστίν ἡ τύχη καί ἡ τέχνη (De algum modo, ο acaso e a arte dizem respeito às mesmas coisas – Ética a Nicômaco VI, 4; 1040a18). τύχη (acaso) e τέχνη (arte) apontam de certa maneira para o mesmo. O característico do acaso é o fato de ele não ter na mão aquilo que emerge. O mesmo acontece no caso da τέχνη (arte): por mais que ela possa se mostrar como preparada até as raias da minúcia, ela nunca dispõe com absoluta certeza sobre o sucesso da obra. A τέχνη (arte) não tem em última instância ο ἔργον (a obra) na mão. Com isso, torna-se manifesta uma falha fundamental do ἀληθεύειν (desvelamento), por meio da qual a τέχνη (arte) é caracterizada. [Heidegger, GA19:44]