A primeira forma^? de impedimento ao cumprimento (τέλος) e à «conservação da existência humana» (σωτερία του βίου), analisada no Protagoras, é o fenômeno da adversidade (συμφορά). A possibilidade^? de estarmos expostos à ação da adversidade resulta principalmente da condição fáctica de a lucidez humana (ψυχή) ser^? afetá-vel. Quando a adversidade vem ao nosso encontro, deprime, abate, vem contra nós, deixando-nos sem saída aparente, sem que rasguemos para fora do horizonte^? que nos fecha nesse momento^?, como se o resto da vida^? fosse no seu todo adversa h

A adversidade é uma forma de «situação precária». Quando se abate sobre nós «deixa-nos privados de saber^?». Ao acontecer-nos, passamos a viver segundo essa disposição. A vida no seu todo passa a ser vivida como um contratempo. Mesmo o mais insignificante dos acontecimentos é interpretado como uma manifestação da vida feita propositadamente contra nós. Há uma maré de azar que nos enrola fazendo que a vida no seu todo, o fato^? de estar vivo em si, nos faça doer. A vida toda é um contratempo à morte^?. A dificuldade que cria é a impossibilidade^? de um alívio. A vida no seu todo é o que está entre nós e o alívio da existência.

Uma vez caídos nesta situação, experimenta-se na sua urgência a pergunta pela possibilidade de a ultrapassarmos: A pergunta por essa possibilidade é a pergunta pela excelência (ἀρετή). Só ao ficar-se afetado de perversão impossibilitante (κακία), enquanto depressão (λύπη), é que se experimenta a urgência de procurar uma saída para essa situação. A adversidade (συμφορά) é uma forma perturbadora e perversiva da existência (ψυχή) humana. Tudo é «desordem^?» (ἀκοσμία) e «desarranjo» (άταξία). Nada^? nos deixa tornar no que podemos ser. Ficamos sem podermos apropriar-nos das verdadeiras possibilidades de que dispomos. A separação pela distância daqueles que connosco conviveram, a perda^? da segurança da existência que deixa o futuro numa incógnita, a passagem do tempo^?, a morte daqueles que nos estão próximos, tudo isto^? são acontecimentos que nos deixam na perturbação da vida que nos acontece. [CaeiroArete:135-136]