Categoria: Lumia, Giuseppe
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Dominada durante trinta anos pelo idealismo, a cultura italiana só tarde se interessou pela filosofia da existência. A princípio não a tomou a sério, para o que basta recordar as muito conhecidas e ligeiras apreciações de Croce e De Ruggero. Mesmo pensadores de formação diferente, como Bobbio, nada mais viram nela que a transcrição, em…
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O pensamento de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) é de inspiração declaradamente husserliana. Mas está mais próximo do Husserl da última fase, o dos escritos inéditos, em que é mais claro o apelo às coisas e o recurso ao mundo da vida, o Lebenswelt. Em Merleau-Ponty motivos fenomenológicos encontram-se por um lado com algumas correntes da psicologia…
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O encontro de filosofia e literatura, típico do existencialismo francês, tem em Albert Camus (1913-1960) o seu mais alto representante. Mas se Sartre é mais filósofo que literato, de modo que os seus dramas e romances aparecem como exemplificações da sua filosofia, Camus é, pelo contrário, mais literato que filósofo. As obras em que expõe…
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O «fenômeno» Jean Paul Sartre não interessa somente à filosofia, ao teatro, ou à literatura, — é um «fenômeno» que implica com os próprios costumes. Se em um certo momento, isto é, no após-guerra, o existencialismo se tornou uma moda e ultrapassou o círculo restrito dos especialistas, criando à sua volta «uma atmosfera de curiosidade…
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Mais fortemente tingido de misticismo, um misticismo neoplatônico e agostiniano, é o pensamento de Louis Lavelle (1883-1951). Antes de Sartre, e com não menor energia, Lavelle afirmou que no homem a existência precede a essência. «A existência tem sentido em nós só para consentir-nos, não realizar uma essência já formada, mas determiná-la com a nossa…
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Para sermos completos, não queremos deixar de fazer aqui breve alusão a dois autores cuja temática, na realidade, só em parte se situa no existencialismo, Referimo-nos a René Le Senne e a Louis Lavelle, expoentes máximos daquela corrente de pensamento que, pelo título de uma muito conhecida coleção que compreende já algumas dezenas de volumes,…
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O Journal Métaphisique de Gabriel Marcel foi publicado em 1927, o ano em que apareceu na Alemanha o Sein und Zeit de Heidegger, mas as primeiras anotações contidas nele remontam exatamente a 1914. O pensamento de Marcel (1889) desenvolveu-se por isso independentemente do existencialismo alemão e, mais que de Kierkegaard e de Husserl, extrai os…
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A derivação kierkegaardiana é mais evidente em Karl Jaspers, que chegou à filosofia vindo dos estudos de medicina e, diferentemente de Heidegger, afastado das sugestões da fenomenologia. É diferente o interesse especulativo que move os dois expoentes máximos do existencialismo alemão: Heidegger é movido por interesse pela existência em geral, pelas suas estruturas objetivas e…
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Martin Heidegger (1889) marca a confluência dos motivos existencialistas kierkegaardianos com o método fenomenológico de Husserl. A sua obra principal, Sein und Zeit, publicada em 1937 no «Jahrbuch» de Husserl, e deixada, como veremos, incompleta, pretende ser uma investigação do sentido do ser, conduzida segundo o método da fenomenologia. Na verdade, segundo Heidegger, o ser…
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Se para Chestov o pecado original é a ciência, para Berdjaev é a objetivação. Berdjaev faz a sua crítica de Dostoievski à «mentalidade euclídea» que pretende constranger a infinita criatividade da vida nos esquemas de uma lógica formal e abstrata. Mas, e diferentemente de Chestov, Berdjaev não condena o saber em geral, mas somente o…
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Se a teologia de Barth descende diretamente de Kierkegaard e da tradição luterana e calvinista, a concepção dos pensadores russos que citamos — Chestov e Berdjaev — aproxima-se da tradição platonizante, assas viva no ambiente ortodoxo, reportando-se aos fortes motivos irracionalísticos desenvolvidos por Soloviev e à temática existencial de Dostoievski. Só depois da revolução, nos…
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No já citado Römerbrief Barth (1886) desenvolve o conceito da diferença qualitativa entre o temporal e o eterno, entre o homem e Deus, conceito já formulado por Kierkegaard, mas que Barth leva até às consequências extremas, acentuando ao máximo a negatividade do homem relativamente à transcendência de Deus. «Se eu tenho um sistema — escreve…
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O existencialismo, se deriva de Kiekegaard e de Nietzsche alguns dos seus motivos inspiradores mais profundos, toma da fenomenologia o seu método de trabalho. As obras fundamentais de Heidegger, de Sartre, de Merleau-Ponty, apresentam-se declaradamente como indagações fenomenológicas sobre o ser, sobre o tempo, sobre a consciência, sobre a percepção ; mas nem mesmo os…
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Se Kierkegaard forneceu ao existencialismo o motivo divino, Nietzsche forneceu-lhe o motivo demoníaco. Com Nietzsche, a crise dos valores que atormenta o mundo moderno atinge plena consciência. Contrariamente ao fácil otimismo do seu século, ele reconhece que a vida é dor, luta, incerteza, erro; mas repele a atitude de renúncia que conduz à ascese, e…
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«Um dia, não somente os meus escritos, mas a minha própria vida serão atentamente estudados», assim escrevia Kierkegaard em uma página do seu diário. Esse dia tardou quase um século a chegar. Só entre as duas guerras amadureceria aquela «Kierkegaard-Renaissance», que, iniciada na Alemanha, deveria, pouco tempo passado, imprimir grande parte do pensamento ocidental. Kierkegaard…
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Quem se iniciar no estudo da «filosofia da existência» depara com duas novidades: a primeira, é a linguagem especial adotada, pelos seus escritores, e a segunda o facto de as suas obras, mesmo as mais importantes, não revestirem a forma tradicional de ensaio ou de tratado, e pertencerem antes à literatura de ficção, sob a…